Páginas

domingo, 3 de junho de 2012

Uma lição bíblica para o povo brasileiro

A Bíblia é, sem dúvida, um livro fantástico! Um presente escrito pelos judeus para a humanidade! Com ela, aprendemos preciosos princípios que servem tanto para a vivência pessoal como em grupo. Extraímos de suas páginas ensinamentos até mesmo através da leitura de textos como a listagem de genealogias que para muitos parece ser algo cansativo ou inútil.

Na semana passada, terminei de ler o Livro de Esdras e, na sequência, iniciei o de Neemias. Ambas as obras relatam as experiências do povo judeu após o regresso do exílio de 70 anos em Babilônia. Ao voltarem para a terra de Israel, a partir das quatro últimas décadas do século VI a.C., os heroicos sionistas encontraram a capital do país totalmente em ruínas. Nada tinha restado daquela Jerusalém que outrora fora gloriosa nos dias do rei Salomão quando o mais poderoso monarca da dinastia davídica construiu o magnífico Templo, além de belos palácios.

Neste contexto da reconstrução, surgiram líderes e profetas que focaram na elevação da autoestima do povo. Sem desfrutarem mais de independência política, os judeus precisavam contar com o consentimento e com o apoio dos reis da Pérsia. Primeiramente o Templo foi refeito nos tempos do governador Zorobabel e do sumo sacerdote Josué (não confundir com o outro personagem com mesmo nome que liderou a conquista de Canaã após a morte de Moisés), mas só chegou a ser concluído com a vinda de Esdras, o escriba, sacerdote que alcançou o favor do imperador. E, tempos depois, no século V a.C., começou a missão do copeiro real Neemias, o qual afastou-se por livre iniciativa de suas funções na coorte para re-edificar as muralhas de Jerusalém (Ne 1).

Lendo o capítulo 3 do Livro de Neemias, deparei-me com o quase monótono relato sobre os voluntário quanto à reconstrução das muralhas. Admito que para a minha mente não se dispersar, tive que ler o texto quase que em voz alta e, forçando a atenção, consegui extrair uns detalhes importantíssimos dali. Ou seja, princípios que podem ser aplicados em nossos trabalhos sociais no Brasil envolvendo a força do voluntariado.

Muito interessante ver que a re-edificação dos muros da Cidade Santa começou justamente pela família de Eliasibe, o sumo sacerdote da época e que era neto de Josué. Ou seja, foi justamente aquele que era o principal líder da nação judaica quem se dispôs a iniciar a execução dos trabalhos. Diferente dos políticos brasileiros de hoje (e daqui do Rio de Janeiro), os quais preferem ficar sentadinhos em seus gabinetes mandando o povo trabalhar (isso quando eles não estão gastando o nosso dinheiro em suas caras viagens a Paris), eis que, com os judeus de 400 anos antes de Jesus as coisas aconteceram de outra maneira. Eliasibe mostrou que não ocupava o cargo só para engordar com os dízimos e ofertas do Templo e pôs as mãos na massa.

A partir do envolvimento do sumo sacerdote, outros homens seguiram o seu exemplo tomando parte na obra. O capítulo 3 de Neemias trás-nos um rol imenso de nomes e vai informando o leitor acerca da topografia montanhosa de Jerusalém e sobre a geografia política da província da Judeia. Fala sobre as denominações de portas da cidade, das torres, da parte antiga (a Cidadela de Davi) e do velho reservatório de captação da fonte de Giom que o rei Ezequias havia antes mandado aterrar quando tinha construído um canal subterrâneo até o tanque de Siloé.

Todavia, não é com a História que a Bíblia se preocupa. Sendo uma mensagem viva e que busca a elevação ética dos homens, o objetivo maior dos autores das Escrituras parece ter sido mais a transmissão de valiosos ensinamentos do que simplesmente narrar fatos, ainda que muitos relatos sejam de grande relevância para o estudo dos pesquisadores em Antiguidade. Assim, um outro detalhe que me interessou foi o fato de que alguns homens tornaram-se responsáveis pela reconstrução do muro em frente às suas casas:

“(...) Ao seu lado, reparou Jedaías, filho de Harumate, defronte da sua casa; e ao seu lado, reparou Hatus, filho de Hasabnéias (…) Depois, repararam Benjamim e Hassube, defronte da sua casa; depois deles, reparou Azarias, filho de Maaséias, filho de Ananias, junto à sua casa. Depois dele, reparou Binui, filho de Henadade, outra porção, desde a casa de Azarias até o ângulo e até à esquina (…) Para cima da Porta dos Cavalos, repararam os sacerdotes, cada um defronte da sua casa. Depois deles, reparou Zadoque, filho de Imer, defronte de sua casa; e, depois dee, Semaías, filho de Secanias, guarda da Porta Oriental. Depois dele, reparou Hananias, filho de Selemias, e Hanum, o sexto filho de Zalafe, outra porção; depois deles, reparou Mesulão, filho de Berequias, defronte da sua morada (...)” - Ne 3.10,23-24,28-30; tradução de Almeira Revista e Atualizada

Extraímos daí o princípio de que, se todo mundo trabalhasse na sua porção, tudo se tornaria mais suave e menor seria a nossa dependência do Estado ou da assistência social porque cada um saberia tomar conta das suas próprias coisas. Porém, na realidade, os acontecimentos não ocorreram tão perfeitamente assim como idealizamos. Uns operaram apenas onde seus braços alcançaram, cuidando do próprio terreno. Outros parecem ter ajudado seus vizinhos nas tarefas ou cuidaram de proteger determinadas estruturas da cidade de interesse não individual e, logicamente, teve gente omissa. E aí o texto bíblico foi tão realista que o autor mencionou no verso 5 o fato de que nem todos foram unânimes:

“Ao lado destes, repararam os tecoítas; os seus nobres, porém, não se sujeitaram ao serviço de seu senhor.” (ARA)

Ora, é interessante constatar que, ao mesmo tempo quando alguns negligenciam no tocante às suas responsabilidades, pessoas vindas de outros lugares resolvem contribuir dando apoio. Com isto, o versículo acima fala que o povo da cidade de Tecoa (os tecoítas) ajudaram a obra, com exceção dos nobres que, provavelmente, consideravam-se importantes demais para um serviço pesado ou não tiveram comprometimento com o projeto proposto por Neemias.

É certo que se tratavam das muralhas da capital da província persa de Judá e que, até o século VII a.C, fora também o centro religioso e administrativo dos reis descendentes de Davi e dos sacerdotes da linhagem de Zadoque. Entretanto, se pensarmos bem, como na época do domínio estrangeiro não havia mais a soberania de Israel, por que os demais judeus habitantes de outras cidades deveriam importar-se com aquela obra se o palácio do imperador ficava na fortaleza de Susã (atual Irã)?! Afinal, eles constituíam uma nação dentro de um Estado que não lhes pertencia, mas demonstraram muita solidariedade naquelas horas difíceis e angustiosas.

Curioso que o cantor e compositor Renato Russo (1960-1996) bem disse numa de suas músicas chamada de Perfeição que o Brasil seria um “Estado que não é nação”. E, se refletirmos um pouco, veremos que somos o oposto do que foram os judeus quando estes perderam a soberania. Assim como seus primos semitas iraquianos também conseguiram resistir à ocupação militar dos norte-americanos na Segunda Guerra do Golfo e suportaram a colonização britânica em épocas passadas, eis que, por dois milênios e meio, a nação judaica resistiu graças aos ensinos sábios da Torá. E pode-se dizer que o Corão também serve de igual proteção cultural para os povos árabes. Por mais que lutem entre si, são todos uma gente muito unida em meio à aridez desértica.

Penso que nós brasileiros, povo de terras férteis, precisamos criar pontos de identificação entre pessoas e com o ambiente onde vivemos. Nos tempos de hoje, as cidades não precisam mais de muralhas como era no antigo Oriente Próximo. Contudo, necessitamos de serviços educacionais, moradias dignas para o trabalhador, unidades de saúde que realmente funcionem, saneamento básico para todos, transportes públicos de qualidade, proteção das florestas, etc. Nem sempre poderemos ficar contando com os governos, os quais ainda tratam o país como sendo uma neo-colônia à venda para a gringolândia. Por isso, mais do que nunca precisamos de união e de um envolvimento maior com as causas coletivas, cultivando um sentimento de unidade com base no fator humano e da vida, o que considero indispensável para a realização de projetos eficazes.


OBS: A ilustração antiga trata-se de uma obra retratando Neemias montado num cavalo vistoriando secretamente os muros de Jerusalém ainda em ruínas antes do começo das obras de restauração, conforme descrito nos versos 11 a 16 do capítulo 2. É de autoria do pintor e desenhista francês Paul Gustave Doré (1832-1883).

9 comentários:

  1. Rodrigo achei muito bom este seu texto vou compartilhá-lo! Abç

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pode compartilhar, Gilberto! Fique à vontade.

      Abração e ótima semana pra você.

      Excluir
  2. AMIGO RODRIGO NA BÍBLIA (COMEÇO AO FIM )DEUS MOSTRA QUE OS ANONIMATOS FORAM USADOS POR DEUS PARA MOSTRAR QUE DEUS USA QUEM ELE QUER E Ñ PRECISA SER CONHECIDO PARA MUDAR A HISTÓRIA DE AUGUEM OU DE UM LUGAR , Ñ É DIPLOMA OU ESTUDO QUE FAZ A PESSOA SER MELHOR OU PIOR , DIFERENTE É A CAPACIDADE DE MUDANÇA QUE VEM DE DENTRO DO SER HUMANO QUANDO ELE QUER VERDADEIRAMENTE SER UM INSTRUMENTO DE LIDERANÇA ISSO NASCE É UM DOM QUE VEM DE DEUS ,O SER HUMANO NÃO MELHOR OU PIOR QUE O OUTRO SE TORNA DIFERENTE , POR ISSO NA BIBLIA FICA BEM CLARO QUE EXISTE PESSOAS QUE FICA NA DEPENDÊNCIA DE OUTRA PARA DIZER QUE FEZ OU FAZ ALGUMA COISA , POR ISSO O POVO NÃO ACREDITA NOS POLÍTICOS POR MELHOR QUE SEJA ,POR ACHAR QUE UM DIPLOMA É TUDO E DEUS MOSTRA QUE É NO ANONIMATO QUE DEUS AGE E MOSTRA QUE COM DIPLOMA OU SEM DIPLOMA SEM DEUS Ñ É NADA POIS É O CORAÇÃO QUE COMANDOU A BÍBLIA E COMANDO HOJE A NOSSA HISTÓRIA.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Uma coisa precisamos extrair desse maravilhoso livro da Bíblia. Na história sobre Neemias, ele demonstra uma espiritualidade exemplar. Ao receber a notícia sobre como estava Jerusalém, ele levou a Deus aquele lamentável problema através da oração (Ne 1.4-11). Quando o rei lhe questionou sobre o que ele precisava, Neemias novamente orou (Ne 2.4) e então respondeu (2.5).

      A vida de Neemias nos ensina que cidadania e espiritualidade devem andar juntas. Ele unia sua ação social com a busca de Deus! Ele não se firmava apenas em seu entendimento, mas agia com cautela e dependência do Eterno.

      Neemias tinha um cargo importantíssimo no palácio real. Abandonou aquela vida de luxo numa cidade rica (a capital de um poderoso império) para viver em Jerusalém ao lado de seus irmãos, uma cidade que, em seu tempo, tinha se tornado uma roça sujeita a saques de invasores, com seu comércio ameaçado, os utensílios do Templo em perigo e, provavelmente arriscando a vida por causa dos inimigos do seu povo. Mas o coração dele ardia em amor e, com fé, superou aquelas dificuldades.

      Excluir
    2. Em tempo!

      Considero que Deus pode usar políticos que disputam cargos em eleições como pode usar o cidadão simples para fazer a Sua obra.

      É certo que o Reino de Deus não é deste mundo e não tem parte neste sistema de corrupção e de mentiras que existe nos governos. Porém, todo governante está debaixo da soberania do Eterno. Até mesmo aqueles que são maus ocupam suas posições pela permissão divina porque existe um propósito maior.

      A Inteligência Superior de Deus está acima de todos os homens. Por isso, nós não compreendemos o porquê de certas coisas. E, nestas horas, cabe a todos reverência assim como agiu o Neemias que, precisando entender qual a vontade divina, recorria à oração.

      Abraços.

      Excluir
  3. Rodrigo,

    Assino em baixo de cada parágrafo do seu texto. Muito pertinente e atual!

    Abraços e bos semana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu pela participação, amigo.

      Tamos juntos na construção do Reino.

      Paz!

      Excluir
  4. Parabéns pelo conteúdo e explicações.

    somente a consciência de que o homem pode melhorar aquilo que se encontra a seu redor, é que poderá tazer à tona uma nova realidade! E, não esprar que políticos descompromissados com tudo recupere os bairros, as cidades... cada um pode e deve fazer uma parte.

    E aquilo que não lhe for possível sim! deve se cobrado dos governantes e vistoriado.

    A ordem mundial precisa ser reestabelecida.

    Alice Baruch

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Alice, por seus comentários e incentivos.

      Como diz a poética música do Geraldo Vandré, "esperar não é saber" e também:

      "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

      Não podemos ficar indefinidamente esperando as esmolas dos políticos que se apoderam dos recursos da nação e administram o dinheiro da pior maneira. Precisamos agir!

      Criar ONGs, OSCIP, propor projetos, agendar reuniões, mobilizar mroadores, promover passeatas, denunciar ao Ministério Público, votar com atenção no período eleitoral, praticar filantropia e dar palavras de incentivo são coisas uqe podemos fazer pelo bem do próximo e da coletividade. Além também de orarmos e buscarmos forças em Deus.

      Enfim, são ações válidas. E, se mesmo cobrando dos governantes não conseguirmos o resultado, valerá pelo esforço e por agirmos conforme a nossa consciência.

      Abraços.

      Excluir