Em sua fala na manhã de hoje(21/06), o presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou a economia verde proposta pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), considerando-a como um "novo colonialismo para submeter os povos e os governos anti-capitalistas". Acrescentou ele que a proposta "coloniza e privatiza a biodiversidade a serviço de poucos. Verticaliza os recursos naturais e transforma a natureza em uma mercadoria".
Segundo o Pnuma, a economia verde (IEV, ou GEI-Green Economy Initiative, em inglês) é aquela que resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. Sua sustentação estaria em três pilares: ser pouco intensiva em emissões de CO², eficiência no uso dos recursos naturais e buscar a inclusão social.
Evidentemente que, por se tratar de um conceito novo, cria-se um amplo debate sobre o que vem a ser esta economia verde. Principalmente porque os países ainda se encontram dependentes de processos ambientalmente degradantes e socialmente injustos para atender às demandas de mercado. E isto envolve todos. Até os Estados que se consideram "socialistas".
Lamentavelmente, o discurso do presidente boliviano, que durou 14 minutos (nove além do permitido), padeceu de inegável demagogia. Disse ele que "os países do norte se enriquecem em meio a uma orgia depredadora e obrigam aos países do sul a ser seus guardas florestais pobres". Como solução apontou a estatização de bens e serviços prestados pelo Estado, assim dizendo:
"Os serviços básicos jamais podem ser privatizados. É obrigação do Estado".
Verdade é que Evo Morales apenas defendeu a irresponsável política de nacionalização praticada pelo seu governo contra companhias estrangeiras que atuam em território boliviano. Neste último 1º de maio, foi a vez da empresa espanhola REE da sua participação no transporte de energia boliviana. E, durante o governo Lula, até a nossa PETROBRÁS sofreu restrições e irresponsáveis expropriações.
Acontece que tais discursos não se sustentam pela lógica. Empresas estatais podem ser tão poluidoras quanto qualquer outra companhia privada, seja de capital nacional ou internacional. A causa do problema estaria na maneira de usar os recursos naturais bem como na falta de participação democrática dos trabalhadores e ambientalistas na gestão da empresa.
Será que num país de regime totalitário, ou que altera significativamente a sua Constituição a ponto de permitirem que seus governantes perpetuem-se indefinidamente no poder, os dirigentes estarão mesmos preocupados em preservar o meio ambiente?
Que garantia tem o cidadão de um país se a estatal acaba se tornando, na prática, mais um cabide de empregos em que os cargos são preenchidos com a livre nomeação do presidente sem atentar para as necessidades sociais?
Ao atacar a economia verde, Evo Morales acabou jogando em favor do esvaziamento do debate ao invés de contribuir positivamente com a sua visão para que o conceito venha a ser interpretado em favor dos países pobres. Sua postura reivindica mais o direito das nações subdesenvolvidas em continuarem poluindo apresentando como justificativa aquele velho papo de que, por longos anos, o terceiro mundo foi explorado por suas antigas metrópoles e massacrado pelos interesses "imperialistas" dos Estados Unidos.
Menos incoerente pareceu-me o presidente equatoriano Rafael Correa. Ele atacou o consumo dos países ricos e a ausência de seus governantes na cimeira, sendo que foi bem feliz quando criticou o documento final da Rio+20 por não contemplar a criação de uma declaração universal do direito da natureza, como defendia o Equador:
"Pela nossa iniciativa, teríamos um tribunal internacional que obrigasse todos a cumprir os direitos da natureza. Seria uma enorme mudança para o bem-estar do planeta".
Com tais palavras, Correa mostrou-se mais aberto que o seu colega esquerdista boliviano, atuando de maneira mais proativa na construção daquilo que chamou de "nova forma de poder", afastando-se um pouco dos vícios do caudilhismo latino-americano.
OBS: A foto ilustrativa deste artigo foi extraída do site da Agência Brasil em http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-06-21/evo-morales-condena-conceito-de-economia-verde-e-aconselha-paises-estatizarem-recursos-naturais
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Há 20 horas
Não seria que o único interesse de Morales é o 'verde' do qual ele é presidente dos seus plantadores?
ResponderExcluirBoa tarde, Guiomar!
ExcluirConcordo que parece haver pouco interesse de Morales pelo meio ambiente.
Por outro lado, acho que a tradicional cultura da coca nos países andinos não seja a causa dos problemas sobre uso de drogas no mundo. Os índios semrpe usaram terapeuticamente a planta e hoje os laboratórios farmacêuticos também.
Há que se considerar o fato de que o aumento excessivo de tais paltações também gera impactos sobre parte da Amazônia, contribuindo para a supressão da floresta.
Aproveitando-se disso, ainda é alimentado o velho discurso "anti-imperialista" nos moldes da ultrapassada esquerda do século XX, sendo certo haver exploração do trabalhador nas área de cultivo.
Todo esse blá-blá-blá de culpar os americanos e países ricos acaba sendo uma fuga de encarar os problemas ecológicos do presente, o que envolve a participação e a iniciativa de todos. O fato dos USA terem se desenvolvido às custas da poluição do planeta e destruição de suas flroestas não dá ao Brasil ou Bolívia o direito de desmatarem para crescer.
É preciso criar a economia verde a partir do ponto de vista dos pobres e não dos ricos! Seria a escolha de novos valores e não daqueles já estabelecidos pelas potências dominantes e antigas metrópoles. Só haverá a economia verde quando a sustentabilidade eco-social for o verdadeiro lastro!
Se os ricos não querem reduzir as emissões de CO², que recebam o boicote dos pobres. Nos trópicos estão as verdadeiras riquezas naturais. Temos condições de fartar o mundo de alimento e de evolucionar o sistema tornando a terra e a água bens mais importantes que dinheiro. Não precisamos consumir os enlatados do Norte e nem seus padrões de vida. Temos aqui mais do que o suficiente.
Que mudemos a nós mesmos primeiros! Que demos nós mesmos de comer, como disse Jesus na multiplicação dos pães.
Graça e paz!