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sábado, 10 de setembro de 2011

Recordações de Ilhéus


Eu acho que o escritor verdadeiro é aquele que escreve sobre o que ele viveu” (Jorge Amado)

Das três cidades que melhor conheci na Bahia (Salvador, Porto Seguro e Ilhéus), gostei mais da capital brasileira do cacau.

Fui por duas vezes à Bahia. A primeira deu-se em julho de 1998, quando decidi incluir um novo roteiro durante as férias do meio do ano na faculdade. Nesta época, eu ainda morava na mineira Juiz de Fora e passeava uns dias na casa onde minha mãe morava na cidade de Niterói. Foi quando então resolvi sair da monotonia e embarquei sozinho num ônibus para Porto Seguro, onde fiquei por cerca de uma semana conhecendo praias, andando de barco e curtindo as noitadas atrás da mulherada. Tinha somente meus 22 anos e mal sabia lidar com a testosterona em excesso no meu sangue.

No ano de 2005, quando já estava com Núbia, retornei à Bahia. Nesta oportunidade, fomos diretamente para Salvador de avião e planejávamos ir até Ilhéus e Porto Seguro, percorrendo outras cidades do litoral. Permanecemos alguns dias na capital do estado, aproveitando para conhecer alguns dos pontos turísticos soteropolitanos mais badalados - o centro histórico do Pelourinho, o Elevador Lacerda, o antiquíssimo Farol da Barra (não chegamos a entrar nele), velhas e tradicionais igrejas como a do Nosso Senhor do Bonfim, o Dique do Tororó e uma decepcionante tarde em Itapuã. Enchi-me de acarajé e morria de calor mesmo sendo em pleno mês de maio.

Contudo, depois de alguns dias, eu já não suportava mais continuar numa cidade grande e me sentia estressado embora estivesse na Bahia. Decidimos pegar um ônibus na rodoviária e fomos para Ilhéus através da BR-101, numa viagem de mais de 400 quilômetros que durou a tarde toda e o comecinho da noite. E, sem nos desanimarmos, passamos um delicioso final de semana na terra de infância do escritor Jorge Amado.

A pousada que escolhemos ficava numa área bem bonita em frente à Praia dos Milionários. O clima estava mais ameno se comparado à nossa estadia em Salvador. Além do mar, era possível desfrutar de uma agradável piscina. E para a minha tranquilidade, a parte central da cidade com sua boemia distanciava-se alguns quilômetros dali.

Em Ilhéus, nada de ir pra night. Procurei entrar em acordo com Núbia para que dormíssemos cedo, descansando durante a noite afim de aproveitarmos bem o dia. Andamos bastante pelas ruas do Centro da cidade, tendo conhecido alguns locais de interesse histórico e cultural.

Uma das lembranças que tenho do Centro de Ilhéus é a casa onde viveu o Jorge Amado, hoje um centro cultural. Outra, porém, é o Bataclan, um cabaré da primeira metade do século XX onde os poderosos fazendeiros de cacau divertiam-se com as meretrizes e que serviu de cenário para o famoso livro Gabriela, cravo e canela. Ali, num dos quartos da casa, fizemos umas fotos bem engraçadas, brincando de coronel e quenga.

Conta-se que, naqueles velhos tempos, os coronéis subornavam o padre para que demorasse mais a rezar as missas. Aí, enquanto suas esposas ficavam nas igrejas, eles iam para o famoso "Bar Vesúvio" com a suposta desculpa de cuidar dos negócios, onde então havia uma passagem secreta subterrânea com acesso ao bordel. E, na certa, muita gente deveria fazer vista grossa quanto ao funcionamento do estabelecimento de Maria Machadão (personagem retratada pela literatura amadiana), local que, para os efeitos legais e morais, tratava-se de um armazém denominado “Secos e Molhados”.

No entanto, a nossa estadia em Ilhéus acabou sendo curta e restrita praticamente a um final de semana. No domingo, quando voltamos de um belíssimo passeio à Lagoa Encantada, recebi a triste notícia na caixa postal do celular de que meu avô paterno encontrava-se muito mal no Hospital Militar de Juiz de Fora. Por causa disto, foi necessário cancelar os nossos planos de visitar Itacaré e de passar por Porto Seguro na volta. Comprei então dois bilhetes da TAM rumo a Belo Horizonte com conexão em São Paulo, partindo num dos primeiros voos da segunda-feira.

Apesar da interrupção, posso dizer que aquela foi uma viagem muito bonita e divertida. O passeio na Lagoa Encantada foi fantástico, tendo se tornado o local mais bonito que pude conhecer na ocasião. Pois, além do maravilhoso lago de água doce, desfrutamos também de uma relaxante cachoeira e de um verde bem intenso compondo o cenário ao nosso redor, representando o pouco que restou da cobertura original da Mata Atlântica que, antes da chegada do colonizador, cobria o leste do continente desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul.

Ano passado, porém, fiquei sabendo que o então governo Lula chegou a se mostrar favorável a um empreendimento de mineração na região. Segundo cheguei a ler depois, a Bahia Mineração teria anunciado a construção do Terminal Portuário de Uso Privativo da Ponta da Tulha, gerando preocupações quanto à Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoa Encantada e Rio Almada, tendo em vista que a vegetação local iria ser devastada. Com isto, representantes do Ministério Público Federal e de organizações não governamentais ambientalistas formularam as suas fundadas críticas, destacando que a Mata Atlântica é constitucionalmente protegida e que existem espécies em extinção na região da APA.

Tomara que uma região dessas continue preservada e livre de qualquer ameaça.


OBS: As fotos deste artigo referem-se, nesta ordem, à vista do Centro de Ilhéus, à frente do Bar Vesúvio, onde tiramos fotos junto a uma estátua do escritor Jorge Amado, à visita que fizemos ao Bataclan e à Lagoa Encantada.

4 comentários:

  1. Ilhéus eu não conheço não, mas tenho saudade dos meus trinta dias de férias na casa do meu tio aí no Rio, passeando por Paquetá, Arpoador, Copacana, Ipanema e demais atrações da cidade maravilhosa apesar dos pesares.

    Legal cara! Mas me responde aê, que foto é aquela ali na cama brother? Que pornografia! rsrsrs

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  2. Olá, Franklin!

    Ali na terceira foto são eu e Núbia usando umas roupas de fantasia que eles disponibilizam lá no Bataclan para as pessoas tirarem fotos.

    No fundo, acho que a figura da Maria Machadão mese um pouco com o imaginário libidinoso feminino. E isto ocorre tanto com esposas casadas como com mulheres que são fieis aos seus namorados e pretendem continuar sendo.

    Seja como for, o homem não deve ser insensível quanto às fantasias de sua esposa. Brincadeirinhas deste tipo (coronel e quenga) podem contribuir para oxigenar a relação do casal, a qual deve ser alegre, com muito riso e diversão, para que as boas experiências vividas reflitam depois no relacionamento a dois e exclusivo.

    Claro que sabemos que, na realidade, a vida das meretrizes e das famílias nas quais os maridos traíam as esposas frequentando o bordel era bem diferente da visão romanceada que nós e a literatura construímos a respeito.

    Abraços.

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  3. rodrigo, legal este teu post. morei em salvador por quase 5 anos quando era pré-adolescente. meu pai é de salvador e tenho tios e tias por lá. faz muito tempo que não vou para aquele boa terra.

    rodrigo, vou dar uma fuçado por aqui e catar um texto para oportunamente eu postar lá no caminhos. você teria algum da sua preferência?

    abraços

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  4. Meu amigo, Edu.

    Não sabia ainda sobre a sua passagem pela Bahia.

    Brother, como eu gostaria de passar uns dias com minha esposa no Nordeste! Aquela foi praticamente a minha última viagem longa. As outras limitaram-se ao trecho Nova Friburgo - Rio, exceto umas poucas idas a Juiz de Fora por ocasião do falecimento de meu avô, inventário e venda do apartamento. E também a lua de mel em Rio das Ostras no mês de março de 2006, além de raras idas a algumas/passagens das cidades próximas aqui da região: Bom Jardim, Cordeiro, Cantagalo, Macuco e Trajano de Moraes. Bem diferente do andarilho que fui nos tempos de estudante.

    Pode postar o texto que você mais gostar lá no Caminhos da Teologia. A preferência é toda sua! Apenas não vou poder participar como antes eu fazia acompanhando com frequência os comentários das pessoas, respondendo-as com pesquisas nas áreas teológica ou história. A sugestão é que você coloque algo com o qual se identifica e se entusiasma.

    Aproveito para te pedir que, quando chegar a minha vez de postar na Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola, você possa colocar algum texto de minha autoria lá já que não está dando para eu acompanhar as atividades de todos os blogues devido à preparação pro concurso (quanto mais a prova se aproxima vou ter que me afastar mais). Então, no caso da Confraria, existe um texto meu que escrevi pensando em colocar lá. Publiquei aqui em julho e pode ser acessaddo através desta URL:

    "Um manual de vida para o brasileiro do século XXI"
    http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2011/07/um-manual-de-vida-para-o-brasileiro-do.html

    Neste texto, eu proponho a elaboração de uma espécia de bíblia secular. Ou seja, de um livro não sagrado que possa se universalizar dentro do país, ser ensinado em escolas e servir para a formação do nosso povo. Algo que, certamente, vai gerar polêmica dentro da Confraria.

    Depois de ter publicado aqui, coloquei na rede social dos Irreligiosos.

    Bem, fique à vontade. Escolha pro Caminhos aquilo que melhor te parecer.

    Abração e tenha uma semana abençoada!

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