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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O sexo como entretenimento do casal

Semana passada, quando encontrei um irmão que ainda faz parte de uma das igrejas nas quais me congreguei, surpreendi-me quando ele falou que considerava errado o uso e a comercialização de determinados tipos de peças íntimas voltadas para a diversão sexual dos casais. Repliquei-lhe dizendo que não havia nada de pecado o homem e sua esposa terem uma vida conjugal picante, realizada com criatividade e exclusividade. Ele então reconsiderou suas posições, concordando que o uso de tais fantasias amorosas funcionariam como uma prevenção para as traições conjugais uma vez que, neste caso, o marido não precisaria procurar "fora de casa" a satisfação que encontraria em seu leito conjugal.

Nova Friburgo, cidade onde moro, é tida como uma das capitais da moda íntima do país. Aqui vende-se tanto as peças mais convencionais como aquelas que são usadas para brincadeiras amorosas. Ao andar pelo município, o turista se depara facilmente com cartazes de lindas modelos com seus belos corpos quase que nus, fazendo publicidades das fábricas de lingerie. E, constantemente, ouço religiosos reclamando disso, tentando ver pecado onde não existe, como se uma roupinha sexy de enfermeira, de policial ou mesmo de sádica fossem artigos demoníacos destinados à prostituição.

No entanto, se a maioria dos crentes estudassem mais profundamente as Escrituras, saberiam que toda essa repressão sexual não tem o mínimo respaldo bíblico. E o fato do livro de Gênesis dizer "crescei e multiplicai-vos", jamais significou que o sexo deva ser praticado apenas com a finalidade reprodutiva. Pois, se fizermos uma análise da própria Torá, encontraremos uma interessante passagem em que Abimeleque, rei dos filisteus, viu através de uma janela Isaque acariciando Rebeca, sua mulher (Gênesis 26.8).

Acontece que o verbo hebraico correspondente à palavra "acariciava", escolhida pelos tradutores da Bíblia para o português, significa brincar e vem da mesma raiz do nome de Isaque (riso), dando a entender que Isaque e Rebeca estavam fazendo uma brincadeira de conteúdo sexual sem fins reprodutivos, coisa que, na certa, geraria perplexidade para o moralismo dos tempos de João Ferreira de Almeida e do Padre Figueiredo. E para uma boa parte do público religioso de hoje, tal coisa ainda é um tabu.

Para os judeus sempre prevaleceu o ideal matrimonial em que a geração de filhos é vista como uma benção divina, o que também era comum nas diversas religiões da Antiguidade. E, quanto aos muçulmanos, eles têm pensamento idêntico. Uma exceção no judaísmo talvez possam ter sido os monges essênios contemporâneos de Jesus e que viviam em comunidades isoladas dentro de um padrão de vida ascética. Porém, o que prevaleceu dentro do judaísmo foi a visão dos fariseus, os quais deram origem ao rabinato.

Não tenho dúvidas de que o cristianismo tomou o seu rumo repressor por causa da influência grega. Inclusive porque a origem do celibato não é católica e muito menos judaica, mas sim pagã. Diferentemente dos povos do Médio Oriente, os gregos eram monógamos sendo provável que o celibato fosse praticado entre eles, o que aconteceu também em Roma com as vestais, as sacerdotisas virgens que deviam manter o fogo "sagrado" sempre aceso. E, como se sabe através da História, o real motivo da imposição do celibato ao clero católico foi justamente uma questão de poder afim de preservar a unidade dos bens da Igreja, de modo que a castidade tornou-se um alto padrão de comportamento para o cristianismo.


Entendo que é preciso promover uma desconstrução de todos esses valores repressores e contrários à natureza trazidos pelo catolicismo e dos quais os evangélicos ainda não se libertaram. A face humana do prazer deve ser motivo de celebração e não de culpa. As carícias trocadas entre o homem e a mulher, as técnicas destinadas a promover a excitação sexual, o uso de vestes sensuais, os contraceptivos, o cunnilingus e a obtenção do orgasmo clitoriano não podem jamais ser considerados pecado. Inclusive, uma proibição de tais coisas carece de qualquer amparo bíblico. Aliás, o livro de Provérbios orienta o seguinte:

"Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade. Como cerva amorosa, e gazela graciosa, os seus seios te saciem todo o tempo; e pelo seu amor sejas atraído perpetuamente." (Provérbios 5.18-19; ACR)


OBS: A primeira ilustração acima refere-se à obra Dois Amantes do artista persa (iraniano) Reza Abbasi, o qual viveu entre 1565 e 1635, tido como o mais reconhecido miniaturista persa, pintor e caligrafista da Escola de Isfahan, que floresceu no período Safavid debaixo do patronato de Shah Abbas I. Já a segunda gravura trata-se da pintura Fazendo Amor do húngaro Mihály Zichy (1827-1906). Apesar de ter vivido numa cultura muçulmana, a arte de Reza Abbasi foi bem anterior ao fundamentalismo islâmico do século XX, numa época em que o Oriente esteve bem à frente do Ocidente em termos de liberdade criativa.

2 comentários:

  1. Mano, esse seu texto é porreta de bom e sugestivo também rsrsrs.

    Quanto tabu por puro moralismo e ignorânia nós evangélicos absorvemos sem questionamentos.

    Repressão absurda que foi promotora de infidelidades, descasamentos e frigidez sexual.

    Agora olha esse texto de Ct 7:7,8:

    "A tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus peitos aos cachos de uvas.
    Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; e, então, os teus peitos serão como os cachos na vide, e o cheiro da tua respiração, como o das maçãs"

    Seios ou peitos são comparados a uva. Minha pergunta é: UVA SERVE PRA QUE?! CREIO QUE PARA CHUPAR E COM TODO GOSTO! rsrsrs

    O cara com todo respeito é um trepador, o negócio dele é subir na palmeira e pegar nos ramos. Totalmente sugestivo a criatividade sexual.

    É bom e saudável sair da rotina da posição papai/mamãe e inovar na criatividade sexual.

    O Freud tinha razão... O negócio é bom e se não for bem resolvido vira doença! rsrsrs

    Me explica uma coisa: A 1ª ilustração vc bem esclareceu, mas e a segunda de onde surgiu? rsrsrs

    MUITO, MUITO, MUITO Sugestiva heim Rodrigão! rsrsrs

    Cara, ótimo texto para romper com algumas esquisitices que foram criadas pela religiosidade em nome da pureza, mas que estão contribuindo somente para a insatisfação nessa área tão fundamental para o ser humano.

    Um abraço, e VIVA A CRIATIVIDADE SEXUAL! rsrsrs

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  2. Amigo Franklin!

    Ótimos comentários! Complementam muita coisa que eu gostaria de dizer. Aliás, eu não tinha me recordado onde se encontrava esta pertinente citação do Cântico dos Cânticos que muito bem mencionou acima.

    A segunda gravura trata-se da obra do pintor húngaro Mihály Zichy, que viveu entre os século XIX e começo do XX, do qual cheguei a falar brevemente, mas voltei a comentar sobre o artista iraninano dos séculos XVI e XVII nas observações.

    A obra de Mihály Zichy foi sem dúvida ousada para o seu tempo, apesar de ele ter passado boa parte de sua vida em Paris, cidade que até hoje é tida como estando mais a frente do que outras no Ocidente em termos de sexualidade (se bem que o oriental é muito mais liberado do que nós). E, quando digo que a pintura é ousada seria porque o pintor retrata a mulher "por cima", dando a entender que está sendo estimulada pelo sexo oral.

    Particularmente prefiro o sexo face a face, pois não me sinto muito atraído por abordar a mulher "por trás". Porém, o sexo face a face não precisa se resumir ao papai e mamãe. Pode ser mamão e papai também. (rsrsrs)

    Há homens que não gostam que a mulher fique "por cima" e muitos associam tais posições ao "controle" na cama de um sobre o outro. Porém, acho que o bom marido deve estimular a esposa a tomar o "comando" em certas ocasiões, apreciar as reações e conhecer sobre seus desejos. Aliás, diga-se de passagem que a ideia de relação sexual trás dentro de si este partilhar e essa busca de um conhecer o outro. E, como bem colocou, "viva a criatividade sexual".

    Abração!

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