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domingo, 20 de março de 2011

Será a religião que une o homem a Deus?


Hoje deparei-me com uma interessante questão ainda em aberto no Yahoo Perguntas:


"Você acredita que as religiões unem o homem à Deus mas separam os homens entre si?"
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20110320185146AAzpOI8


Dentre os participantes que postaram antes de mim, encontrei as seguintes respostas:


"Religião é uma mer.da! Deus seja louvado!"

"religião não presta so sabe afasta o Ser Humano de Deus o une o homem a Deus é obedecer a Deus"

"Depende de como se vivencia a religião. Infelizmente a humanidade é opressora, e tem a tendência de separar mais do que de unir. Usa de qualquer desculpa para justificar seus atos, principalmente a religião, pois quando o faz desta forma veste o disfarce de estar agradando à Deus."

"Acredito, mas isso ocorre quando há o fantismo. O fanático religioso que se desune de outros que seguem outra doutrina."

"as religioes de hoje em dia estao fazendo o inverso, unindo os irmaos por motivos de suma importancia (R$), e mostrando um DEUS q eles(a igreja) querem"



Todas as respostas expressaram aspectos interessantes para pensarmos. Inclusive aquela que utilizou o palavrão (já nem tanto palavrão) que os mais pedantes preferem chamar de "cinco letras".

Deixando propositalmente de lado o sentido etimológico de religião, preferi considerar tal vocábulo com o seu significado atual para a maioria da sociedade, o qual nada tem a ver com a ideia de re-ligação ao Deus Eterno. Então, simplesmente escrevi que:


"Acredito que a religião desune os homens entre si e em relação a Deus. Jesus, com sua plena humanidade, vivenciada tão intensamente, mostrou o Caminho para o Pai. Quanto mais humanos nós formos, mas unidos e re-ligados a Deus estaremos. Ressalte-se que, se alguém não ama ao próximo a quem vê, como amará a Deus a quem não vê?"


Lendo os Evangelhos, podemos observar que ninguém foi mais humano do que Jesus!

Temos nas diversas passagens que compõem as quatro narrativas canônicas a apresentação de um Messias que nasceu nu como todo bebê vem ao mundo, chorou, sofreu, se alegrou, comeu, bebeu, recebeu as crianças, teve amigos, compadeceu dos pobres, irou-se por causa dos vendilhões do Templo, agonizou pedindo para que o Pai o livrasse da cruz e, finalmente, morreu.

Uma das maiores críticas que faço à religiosidade é que as pessoas acabam se escondendo atrás de um falso comportamento de espiritualidade e de santidade negando a própria natureza. Elas deixam de ser o que elas são para buscando se tornar algo não humano (ou que tenta negar o seu lado humano). Logo, muitas delas acabam se fechando para a convivência social, tornam-se amargas, chatas, alienadas, presas em si mesmas, distantes da realidade e cheias de conflitos doentios.

Cada vez mais tenho refletido que a nossa re-ligação com o Divino se passa pela interação amorosa com os demais seres humanos e todo o mundo visível.


"Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê." (1João 4.20; ARA)


Ora, este princípio da primeira carta de João é bem explicativo e esclarecedor. Mostra-nos a falência da prática religiosa e de ritos que estão divorciados da conduta amorosa pois para Deus é só esta a atitude do homem que tem valor no cumprimento dos seus mandamentos.

Em minha última postagem, em que abordei o tema do jejum, propondo a sua prática para fins de promoção da paz, precisava ter citado também esta notável reflexão do livro do profeta Isaías da Bíblia hebraica:


"Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e se veres nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?" (Is 58.6-8)


Pois bem. O que podemos compreender por soltar as ligadoras da impiedade, desfazer as ataduras da servidão, libertar o oprimido e despedaçar todo jugo?

Infelizmente, no decorrer da história, o que mais se assistiu foi a religião integrando os mais opressivos sistemas políticos e econômicos. Foi com o apoio da religião que reis e sacerdotes dominaram os povos, prática esta que perdura até os dias de hoje quando encontramos líderes corrompendo-se com os governantes. E uma das correntes utilizadas pela religião afim de aprisionar as pessoas foi o moralismo.

Por sua vez, repartir o pão com o faminto, recolher em casa os pobres desabrigados, vestir o nu e não se esconder do nosso semelhante significam obras sociais, caridade, amor e conexão com o próximo. E, dentro de um outro aspecto também relacional, representa uma inclusão de todos sem julgamentos morais, a promoção da dignidade humana e o encorajamento para um novo recomeço livre da culpa.

Que a cada dia a humanidade possa ter menos religião e mais re-ligação. Deixar de lado uma falsa espiritualidade para redescobrir sua humanidade.


OBS: A ilustração acima refere-se à "Criação de Adão", uma célebre pintura de Michelangelo, realizada entre os anos de 1508 e 1512, no teto da Capela Sistina (Vaticano).

6 comentários:

  1. Caro Rodrigo


    Pelas respostas dos internautas, percebi que eles fizeram as suas críticas às instituições religiosas e não ao sentimento religioso, ou o RELIGA-RE — que é um afeto profundo e indissociável da psique humana.

    Abraços,

    Levi B. Santos

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  2. rodrigo, eu sou um fascinado pelas religiões que a humanidade criou. como disse o levi, elas são frutuos desse sentimento de se religar a deus (ou a si mesmo e à natureza), esse sentimento de transcender ao que é imanente, ordinário e natural. mas infelizmente, a religião foi usada em outros sentidos estranhos ao sentimento religioso e isso causou divisão e não união.

    abraços

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  3. Prezados Levi e Eduardo,

    Eu diria que a ideia de re-ligação parece que sempre foi substituída pela cultura religiosa - o comportamento de ir a templos e seguir rituais.

    Quando Marx falou que "a religião é o ópio do povo", certamente ele estava falando dessa cultura, muito embora para ele não penetrasse muito no seu entendimento o "Re-LIGARE".

    Em Tiago 1.26-27, observa-se que as pessoas deveria desconhecer o que seria o re-ligare, conduta esta que deve incluir ações sociais, caridade e numa palavra mais abrangente - o amor (ágape).

    Abraços.

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  4. Em tempo!

    O significado comum de religião para a maioria das pessoas não é a re-ligação, mas sim o seguimento de uma cultura de templos, rituais e comportamentos exteriores.

    A verdadeira religião (no sentido de re-ligação) é praticada no amor ao próximo, sem o qual não ganham valor a oração, o jejum, o louvor, as ofertas e a reunião.

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  5. rodrigo, é isso:

    "A verdadeira religião (no sentido de re-ligação) é praticada no amor ao próximo, sem o qual não ganham valor a oração, o jejum, o louvor, as ofertas e a reunião."

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  6. E é este o Caminho que Jesus Cristo mostrou a todos. Por isto é que o 4º Evangelho afirma ser Ele "o Caminho, e a Verdade, e a Vida", de modo que não se vai ao Pai senão através Dele.

    Deus revela-se no ser humano próximo de nós. Não há como amar ao Eterno sem antes aprender a amar o semelhante.

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