Páginas

sábado, 11 de dezembro de 2010

Saudades da Ilha Grande




Um dos lugares por onde andei e que sinto muita vontade de voltar, com certeza é a Ilha Grande!

Desde criança, eu já tinha uma enorme fascinação pelas ilhas. Quando ia à praia, desejava nadar até elas e imaginava encontrar um tesouro escondido na areia conforme assistia nos desenhos animados. Porém, bastava eu me afastar alguns metros da costa que logo um adulto da família vinha chamar a minha atenção para que voltasse e não morresse afogado.

Talvez minhas ideias fossem até alimentadas pelo seriado “A Ilha da Fantasia”, de Aaron Spelling e Leonard Goldberg, que passou na TV brasileira entre o final dos anos 70 e início da década de 80. Ou, quem sabe, não foi pelos filmes do "Simbad, o Marujo", que, por diversas vezes, assisti na Sessão da Tarde?

Entretanto, nos meus tempos de infância, bem antes de inventarem a impressionante série de “Lost”, já não ouvia falar muito bem da Ilha Grande. Na época, ainda existia um presídio de segurança máxima lá e, quando passava dias na casa de minha avó paterna em Muriqui, ela me apavorava com a possibilidade quase improvável de que bandidos fugidos da penitenciária, após atravessarem a Baía de Sepetiba, fossem capazes se esconder nos povoados de veraneio ao longo da rodovia Rio-Santos para invadir o nosso quintal e, justamente, nos assaltar.

Depois da exibição de uma reportagem da Glória Maria no Fantástico sobre as belezas da Ilha Grande, comecei a ficar muito curioso por conhecer o lugar. Ansiava bastante por estar numa ilha onde pudesse encontrar praias paradisíacas, rios e cachoeiras com águas limpas, morros elevados, ruínas históricas e vilarejos com gente morando.

Finalmente, em janeiro de 1999, realizei este meu antigo desejo de passeio juntamente com tantos outros destinos. Aliás, aquela foi uma época da minha vida em que passei a maior parte do mês só viajando e cheguei a descobrir lugares surpreendentes nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, conseguindo colocar meus pés em vários lugares diferentes em tão pouco tempo. E fiz tudo aquilo sozinho, tendo visitado, além da Ilha Grande e Angra dos Reis, as seguintes localidades das quais me recordo: Visconde de Mauá, Maringá, Maromba, Airuoca, São Tomé das Letras, Três Corações, Mariana, Ouro Preto, Poços de Caldas, Miguel Pereira e Paty do Alferes.

Pelo que me lembro, fiquei umas três noites na Ilha Grande dormindo na barraca de um camping na Vila de Abraão (o principal povoado da ilha). Fiz longas caminhadas e um passeio de barco. Estive não só em locais próximos (não muito distante do Abraão tem um poço de água doce), mas houve um dia em que cometi a loucura de retornar da Praia de Dois Rios utilizando uma trilha proibida até Lopez Mendes onde poderia muito bem ter me perdido ou até sofrido algum acidente.

Naquele janeiro de 1999, eu tinha ainda 22 anos e queria viver com muita intensidade aqueles momentos. Pouco me importava com certos riscos e bebia de maneira alucinada quase toda noite. Estava afastado da Igreja e desviado dos caminhos de Deus. Por sorte, tinha conseguido aprovação no primeiro ano da faculdade de Direito que cursei em Juiz de Fora, no Instituto Vianna Júnior, e estava então transferindo minha matrícula para o campus da Universidade Estácio de Sá, em Nova Friburgo. Com meu filme queimado em Minas, por causa de um crime praticado no mês de junho de 1997, na época em que fora aluno de Administração da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e ainda investigado pela Polícia, pretendia encontrar um novo ambiente nas serras fluminenses, tentando uma outra vida onde passaria a morar sem nenhum parente por perto. Namoradas e amigos eu não tinha. Transava com prostitutas ou com qualquer garota que me desse chance. E, com exceção do consumo exagerado de álcool, saúde era o que não faltava para aquele corpo que, depois de anos de uma infância e adolescência com elevado grau de obesidade, experimentava então o alívio de ter me livrado de 24 quilos no decorrer de 1998 com um simples controle de alimento.

Apesar de todas as loucuras que explodiam dentro de mim, eu estava tentando me relacionar com a vida e aí a Ilha Grande compôs o meu cenário interior durante aqueles dias. Talvez o local representasse a paz que tanto almejasse e a beleza que minha alma precisasse ter. Mas, ao mesmo tempo, acho que também existisse em mim uma necessidade de superação e de auto-afirmação através da conquista de novos lugares que são destinos turísticos, ainda que sem nenhum interesse de registrar o momento através da fotografia (contentava-me em comprar camisetas estampadas ou um barato souvenir).

Penso que, no fim, de toda busca, seja ela fútil ou não, sempre encontramos algo com um maior significado, nem que aquilo nos sirva para um mero aprendizado. Porém, as mensagens que as aulas da vida ao ar livre me comunicaram vieram a fazer parte de um processo pessoal de crescimento para que eu aprendesse a respeitar melhor a existência. Pois, sempre que visitamos um paraíso ecológico, quer sejamos apaixonados pela natureza ou não, ficamos envolvidos de tal maneira pelo ambiente que até um troglodita urbano e materialista, como eu me transformara antes, consegue voltar para casa um pouquinho melhor do que como chegou.

Depois daquela maravilhosa oportunidade que Deus me concedeu, retornei à Ilha Grande por mais uma vez, salvo engano em 2001. Só que, nesta segunda ocasião, eu já tinha um relacionamento com Núbia, atualmente minha esposa. E, antes de me conhecer, ela também já tinha visitado a ilha e passado uma noite de Ano Novo no Abraão na companhia de seus amigos.

Mesmo acompanhado por minha mulher, fiz alguns passeios sozinho. Em outros, estive com ela e tive que conter a ansiedade dos meus pés para não me embrenhar na mata deixando-a para trás. Houve também um dia em que caminhei só do Abraão até o Farol dos Castelhanos e voltei, enquanto Núbia permaneceu no acampamento. Porém, para agradá-la, fomos juntos de barco até a outra ponta da ilha, na Enseada de Araçatiba, perto da famosa Gruta do Acaiá. Numa outra oportunidade, fomos à praia de Dois Rios e posso dizer que tivemos bastante sorte por não ter chovido naqueles deliciosos dias de verão pois as chuvas caíam só no continente, de modo que o tempo estava excepcionalmente bem seco em Ilha Grande.

De todos os pontos da Ilha Grande que conheci, Dois Rios foi sem dúvida o que mais me agradou até agora. Talvez o grande atrativo dali esteja na existência de dois cursos d'água que desembocam na praia cortando uma pequena área de manguezal, além de povoado ser bem pequeno e pacato. Inclusive, era em Dois Rios onde funcionava o antigo presídio até ser destruído pelo então governador Leonel Brizola, o que, na minha opinião, poderia ter sido muito bem aproveitado para ser um curso de Biologia junto com um centro de pesquisas.

Em nenhuma das duas ocasiões que estive na Ilha Grande consegui percorrê-la por inteiro (faltaram muitas praias do lado voltado para o oceano aberto) e talvez os meus desejos por novidades e pela totalidade ainda me motivem a retornar. Então, se Deus permitir, ainda quero conhecer o Provetá (segundo maior povoado da ilha) e a praia do Aventureiro, iniciando uma longa caminhada a partir do Abraão.

Pelas minhas condições de hoje, não sei quando vou conseguir realizar tal projeto visto que minha esposa ainda está recuperando-se dos seus problemas de saúde, a grana está pouca e os compromissos de trabalho com a advocacia costumam me aprisionar o ano inteiro até a época do recesso forense que vai de 20 de dezembro até 6 de janeiro, quando estão os prazos processuais e as audiências focam suspensos, de modo que, desde 2005, já nem sei mais o que é tirar umas férias.

De qualquer modo, sou grato pelas chances que o Criador proporcionou-me de conhecer não só a Ilha Grande como um montão de outros lugares interessantes, tanto longe quanto perto de casa (meus melhores passeios foram feitos aqui na região de Nova Friburgo andando a pé durante a época de estudante). E, mesmo sentindo falta das caminhadas de outrora, continuo agora andando pelas trilhas da espiritualidade, em busca dos corações das pessoas e de Deus. Uma viagem que considero mais íntima e voltada para dentro de mim.

12 comentários:

  1. Querido RODRIGO,

    Que linda confissão desta sua aventura e do seu profundo desejo.

    Realmente, acredito que não há nada na vida mais emocionante, que poder VIVER a vida. E quando digo viver, me refiro à prestigiar cada momento e cada detalhe que o Criador teve o trabalho de modelar para todos nós.

    É em cada detalhe ( do mar, da areia..da mata....das flores...do céu.. ) que vemos, o quanto a vida é bela...e quantas coisas lindas temos para olharmos todos os dias.

    Talvez, por uma falta de tempo, ou por outros imprevistos impostos pela vida, acabamos por não poder aproveitar tudo isto que está ao nosso redor...mas o que vale, é que temos sede de viver...e viver com amor, amando tudo aquilo que foi dado para nós.

    Sua esposa possui um lindo nome. Muitas felicidades ao casal.

    Bençãos Divinas!

    ResponderExcluir
  2. Rodrigo me deixaeu fazer mais uma critica administrativa do teu blog, você postou cinco texto em onze dias, geralmente eu leio um texto por semana de cada blog amigo meu, e posto também um texto por semana, por não ter muito tempo para ler e comentar e ter muito conhecidos eu também posto pouco para ler pouco.

    Pois se tivesse tempo e inspiração eu escreveria um livro por semestre, pois assunto não falta, tenho tanto tema a abordar que não dou conta.

    Por isso seja misericordioso com teus leitores que querem saber o que você tem a dizer mas não tem muito tempo para ler e escrever. Pois nós também estamos segurando a pena para andar todos juntos.

    ResponderExcluir
  3. Se você esta dês de 2005 sem férias eu estou dez de 2000 sem deixar de trabalhar por dez dias sequer. Lendo seu interesse por caminhada me lembrei de David Thoreau em suas longas caminhadas, outro também que teve caminhadas produtivas foi o Waldo Emesom.

    Isso faz tão bem para mente como para alma/sensibilidade humana, e creio que foram canais de seu encontro com a vida/Deus.

    ResponderExcluir
  4. PAULA e GRESDER,

    Graça e paz!

    Realmente o Criador fala através da sua criação, a qual é a expressão do seu desejo. Em todas as coisas e em todos os seres, há uma assinatura Dele, ecoando as palavras de vontade ditas desde o primeiro 'yom' - haja...

    Se pudermos ouvir a voz de Deus na natureza, compreenderemos o amor Dele pela vida que é boa. É aí que somos convidados para abandonarmos os outros deuses, não atentarmos contra a vida do próximo (em todos os níveis) e entrarmos no seu descanso sabático. Logo, a contemplação da natureza e as caminhadas são movimentos e métodos que nos ajudam a buscar essa conexão, conforme bem nos ensinou Jesus para que observássemos as aves dos céus (Mt 6.26) e considerássemos os lírios dos campos (v. 28).

    A Bíblia não fala em férias de trinta dias (acho que naqueles tempos rurais o homem não poderia se dar ao luxo de ficar tanto tempo parado), mas Deus instituiu o 'Shabat' e as festas para que os homens celebrassem a vida.

    Mais uma vez obrigado pela participação de vocês.

    Tenham uma semana abençoada!

    ResponderExcluir
  5. GRESDER,

    Obrigado pela sugestão, mas prefiro manter meu rítimo.

    Penso não haver necessidade de que meus leitores acompanhem todas as postagens.

    Eu "sigo" um blogue chamado "Púlpito Cristão" onde há várias postagens diárias de diversos autores, mas acompanho como posso. Ou melhor, simplesmente não acompanho. Entro lá, leio algumas postagens e, se der vontade, comento.

    Ainda não sei quando vou escrever meu primeiro livro ou se vou escrever um livro. Porém, acho que meus textos longos ainda são mais fáceis de serem lidos do que um livro. Ainda mais as publicações atuais em que vejo autores enchendo linguiça e reaproveitando constantemente o que já escreveram em outras obras dando apenas uma nova roupagem, isto é, dizendo as mesmas coisas dentro de um outro tema.

    Acho que se a ideia surge na cabeça e pode servir para a edificação, devemos escrever. Se nada temos a compartilhar, devo ficar o tempo que fornecessário sem escrever ou falar para não encher a cabeça dos outros com "linguiças". Não concorda?

    O Senhor Jesus não escreveu livro algum. Ele simplesmente viveu. Suas sábias palavras produziram um impacto gigantesco na vida de muitas pessoas. Eu, todavia, acho que escrevo mais do que vivo. Porém, quem escreve cumpre a sua missão registrando experiências para comunicar a alguém. E acho que um escritor assíduo, seja ele profissional ou amador, muitas das vezes pode não ter desenvolvido outros dons mais potentes para se comunicar.

    ResponderExcluir
  6. GRESDER,

    Mas você é um criticador compulsivo, vem aqui palpitar no blog do Rodrigo? Tomee jeito..rss..

    Liga não Rodrigo, é que este menino gosta de acompanhar a Blogosfera inteirinhaa, mas é impossível que as pessoas acompanhem o ritmo dele ou que ele acompanhe os ritmos dos outros...

    Pra falar nisso, está com um século que ele não vai no meu blog..

    Beijos..valeu amigo!

    ResponderExcluir
  7. Nossa Paulinha voce veio aqui me cobrar?! rsrs

    ResponderExcluir
  8. ;-)

    Acho que o Gresder está precisando fazer uma passeio na Ilha Grande.

    Aliás, vocês já estiveram lá alguma vez?

    ResponderExcluir
  9. Olá,
    O agBook, da AlphaGraphics, publica livros sob demanda de forma fácil e totalmente gratuita. Para publicar, basta acessar www.agbook.com.br e efetuar seu cadastro.
    O principal objetivo do agbook é apoiar novos escritores brasileiros e ainda oferecer todas as técnicas para que o autor não somente publique o seu livro como também o promova de maneira eficiente.
    Coloco meus contatos à disposição para qualquer dúvida pbaiadori@alphagraphics.com.br
    Abraços.

    ResponderExcluir
  10. kkk..

    GRESDER,
    Vim te controlar, isto sim! Você não tem Juízo menino!

    RODRIGO,
    Confesso que nunca fui para Ilha Grande, mas vontade agora não me falta, pois pela bela descrição que você fez..acho que lá é o paraíso...rss

    Abraços.

    ResponderExcluir
  11. Olá, PAULA,

    Acredito que você irá amar a Ilha Grande. Aquela região de Angra dos Reis e Paraty é o que há de melhor no litoral fluminense, com altas montanhas cheias de verde que ficam bem próximas da costa.

    O paraíso nós o encontremos dentro de nós, em Deus, independentemente de onde estamos.

    Muito obrigado pela sugestão sobre o AgBook. Gostaria muito de poder transformar meu longo artigo "Os quatro pastores e o projeto de igreja" que escrevi meses atrás neste blogue e também publicar a monografia que apresentei no final da faculdade, em 2004, além de outros textos que posso reunir em futuras obras. Afinal, o livro é uma maneira bem interessante de me comunicar...

    Já plantei algumas árvores e agora, mais do que antes, quero poder escrever pelo menos um livro.

    Valeu pela dica!

    ResponderExcluir