Lideranças reacionárias, sendo muitas delas fascistas e até defensoras de um novo golpe militar, estão convocando para este domingo (16/08) um protesto pelo impeachment da presidente Dilma. Mesmo sem haver ainda provas cabais de envolvimento da mandatária com a corrupção no escândalo da Petrobrás, temos nos deparado com as ações incoerentes de grupos sem nenhuma tradição política na história brasileira surgidos nas redes sociais, dentre os quais podemos mencionar os seguintes: Acorda Brasil, Revoltados Online, Brasil Melhor, Nas Ruas, Pátria Amada, Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua, UND (União Nacionalista Democrática) e Endireita Brasil.
Já as lideranças que estão indo às ruas podem ser citados o deputado extremista Jair Bolsonaro (PP), o ruralista Ronaldo Caiado (DEM) e o sindicalista "pelego" Paulinho da Força (SD), o qual foi vaiado na manifestação de março. Como representante da classe artística aguarda-se a presença não de personalidades como Gilberto Gil, Caetano ou Chico Buarque, mas, sim, do cantor Lobão. Quanto ao candidato derrotado no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, o tucano Aécio Neves, a sua participação também é aguardada muito embora o PSDB não esteja oficialmente apoiando esses protestos que pretendem unicamente a desestabilização do governo a qualquer custo.
Defensores históricos da democracia como Fernando Henrique Cardoso e José Serra não apoiam o "Fora Dilma"! Ora, ontem a presidenta voltou a defender o regime democrático e o respeito aos candidatos vitoriosos nas eleições, tendo ela lembrado o período em que esteve presa durante a ditadura militar:
"A democracia é algo que temos que preservar custe o que custar (...) Respeitar não é ficar agradando o adversário. Eu brigo até a hora do voto e depois, eu respeito o resultado da eleição."
A meu ver, estão em jogo tanto a democracia quanto a legalidade. Um processo de impeachment não pode se basear apenas num mero sentimento de insatisfação da sociedade com a condução da política, valendo ressaltar que, por vivermos num sistema presidencialista, o chefe de governo também representa o Estado de modo que o seu afastamento pode importar numa indesejável crise institucional. Além do mais, não tem qualquer cabimento ideias do tipo "intervenção militar" visto que não existe o mínimo respaldo quanto a isto na Constituição, sendo certo que as nossas lideranças nas Forças Armadas nem se pronunciam a respeito.
Conforme posicionou-se há cerca de quatro meses no 14º Fórum de Comandatuba, ocorrido em 19/04 do corrente ano, Fernando Henrique declarou que "impeachment não pode ser tese". De acordo com o ex-presidente, quem pode dizer se há ou não uma razão objetiva seriam "a Justiça e a Polícia", de modo que, a seu ver, "os partidos não podem se antecipar a tudo isso" pois configuraria "uma precipitação". Para ele é "especulação" tentar responsabilizar Dilma quanto às pedaladas fiscais.
Estou de pleno acordo com o que disse FHC e espero que ele mantenha firme o seu discurso. Inclusive, é importante diferenciar a situação atual do processo de impeachment de Collor ocorrido há cerca de 23 anos atrás. Na época, a denúncia contra o primeiro presidente eleito após o regime militar foi assinada pelos presidentes da Associação Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima Sobrinho, e da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcelo Lavenère. Apenas para refrescar a nossa memória histórica (se é que o brasileiro possui uma), eis que, nas grandes manifestações de 1992, estavam nos palanques lideranças do porte de Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Lula e Fernando Henrique Cardoso, juntamente com os maiores nomes da sociedade civil organizada, da ABI, da CNBB e da OAB, do teatro, do cinema e da música popular brasileira, tal como havia sido na campanha das Diretas Já.
Espero que, neste próximo domingo, as pessoas sensatas da nossa sociedade não acompanhem a irracionalidade dos que querem prematuramente sair em defesa do impeachment da presidente. Respeito o legítimo direito de manifestação pacifica acerca de qualquer ideia esdrúxula, quer seja pelo fim da democracia, em favor da volta do absolutismo monárquico, uso livre de drogas pesadas, casamento gay infantil ou até um Estado teocrático. Porém, em que pese o direito fundamental de opinião assegurado pela nossa Constituição, posso dizer que constitui um grave erro as manifestações do "Fora Dilma" porque de alguma maneira desestabilizam o país e atrasam mais ainda a nossa recuperação econômica tendo em vista que milhares de brasileiros estão desempregados ou ganhando menos em 2015. Portanto, meus amigos, prefiro ficar em meu sofá no dia 16/08.
Um ótimo final de semana a todos!
OBS: Imagens acima extraídas da página da "comunidade" Não Me Representam na rede social do Facebook, conforme extraídas de https://www.facebook.com/NaoMeRepresentam?fref=photo
Observações ponderadas e equilibradas, Rodrigo.
ResponderExcluirA solução é o povo aprender a votar, escolher melhor os governantes e os representantes...
Mas, com a educação que temos, os desníveis socioeconômicos e a facilidade de cooptar o eleitor com "pequenos presentes", sinto que ainda está longe o dia de uma democracia baseada em ideias e propostas.
Falta discernimento ao eleitor - essa é a verdade!
Toninho
Boa tarde, Toninho!
ExcluirPrimeiramente agradeço por sua leitura e comentários.
Realmente, devido às deficiências educacionais de nosso povo e má formação política, os resultados eleitorais continuarão sendo insatisfatórios, bem como a qualidade na participação popular. Entretanto, ainda sou otimista. Talvez daqui algumas três décadas estejamos em condições melhores e aí considero importante a manutenção do regime democrático, através do qual a sociedade poderá aprender com seus erros e acertos.
Ótimo final de semana aí no Distrito Federal!
Abraços.
“Nestor Cerveró revela que o superfaturamento pagou dívidas da campanha presidencial do PT em 2006”.
ResponderExcluir“As pedaladas fiscais ferem a lei de responsabilidade fiscal, mas a presidenta Dilma diz que isso sempre existiu em nossa republiqueta”. No íntimo ela deve está dizendo: O que se tornou banal deve ser relegado.
Se a Lava Jato, tentar lavar toda sujeira, a República cai. A confissão de que a Casa da Mãe sempre funcionou à base do “toma-lá-dá-cá”, não seria a via mais sensata para encerrar todo esse imbróglio que ninguém aguenta mais, caros internautas?
Ao invés de se fazer alvoroço com passeatas, seria melhor que houvesse uma confissão pública irrestrita dos pecados cometidos ao longo da história. E Deus, que além de misericordioso é brasileiro, perdoaria a todos. (rsrs)
Boa noite, Levi!
ExcluirRealmente seria o ideal que todos resolvessem vir a público e confessassem seus pecados. Inclusive em relação às doações de campanha sendo certo que hoje as candidaturas majoritárias (e muitas proporcionais também) dependem mesmo de um caixa dois. Tal fato inclui tanto os governistas quanto a oposição...
Quanto às pedaladas fiscais, não acho que seja razão para impeachment. Entendo pela não caracterização de crime e, portanto, impossível um argumento desses dar fundamento a um processo de afastamento da presidente.
Na boa, posso estar insatisfeito com a Dilma e com o PT, mas não acho que impeachment seja solução. Nossa República, apesar de todas as suas contradições, ainda é estável e a manutenção do regime democrático importante para o desenvolvimento social deste país de dimensões continentais.