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sábado, 20 de junho de 2015

Um pouco de saudosismo poético...

 


Quando estou pelo Centro de Mangaratiba e preciso "matar o tempo", às vezes fico lendo os escritos do chamado "Beco da Poesia". Este trata-se de uma pequena via que passa ao lado do prédio histórico Solar Barão do Sahy, sendo perpendicular à Rua Coronel Moreira da Silva e à Avenida Vereador Célio Lopes, onde fica a praia.

Existem vários poemas no local, obras dos mais diversos autores da nossa literatura. Porém os que eu mais gosto de ler são aqueles que falam com saudosismo do agradável passado dessa região. Um deles, o MACAQUINHO, de Alberto Rodrigues da Silva, refere-se ao apelido do antigo trem de passageiros que vinha do Rio de Janeiro até à cidade:

"O trem parte
da estação
de Mangaratiba,
Macaquinho, Macaquinho,
que embala
tantas vidas,
veranistas, trabalhadores,
acampadores do Sahy,
Ribeira, Ibicuí, Muriquiiiiiiii
piuíííííííí, piuíííííííí...
A gente olha
a imagem bela,
o mar se perde pela janela."

Bons tempos deveriam ser aqueles em que a paisagem ainda não se achava tão agredida pela especulação imobiliária e os danosos empreendimentos portuários que fizeram na região da Costa Verde?! Não lembro se cheguei a viajar no tal do Macaquinho, porém meus pais fizeram a viagem. Segundo conta minha mãe, muitos mochileiros curtiam aquele incrível passeio nos anos 70. Aliás, antes da Rio-Santos ser inaugurada, talvez fosse o melhor meio de transporte do carioca que pretendia se aventurar pelas praias do litoral sul-fluminense.

Outro poema do "beco" que também me chama a atenção seria o XOTE DE MANGARATIBA que, embora conste no local como atribuído apenas a Humberto Teixeira, chegou a ser cantado pelo famoso Luiz Gonzaga. E foi o que confirmei na matéria Belezas de cidade fluminense levaram o Rei do Baião a gravar xote 'Mangaratiba' publicada numa página da EBC e também no Youtube.

Ôi, lá vem o trem rodando estrada arriba
Pronde é que ele vai?
Mangaratiba! Mangaratiba! Mangaratiba!
Adeus Pati, Araruama e Guaratiba
Vou pra Ibacanhema, vou até Mangaratiba!
Adeus Alegre, Paquetá, adeus Guaíba
Meu fim de semana vai ser em Mangaratiba!
Oh! Mangarati, Mangarati, Mangaratiba!
Mangaratiba!
Lá tem banana, tem palmito e tem caqui
E quando faz liar, tem violão e Parati
O mar é belo, lembra o seio de Ceci
Arfando com ternura, junto à praia de Guiti
Oh! Mangarati, Mangarati, Mangaratiba!
Mangaratiba!
Lá tem garotas tão bonitas como aqui:
Zazá, Carime, Ivete, Ana Maria e Leni
Amada vila junto ao mar de Sepetiba
Recebe o meu abraço, sou teu fã
Mangaratiba!
Mangaratiba! Mangaratiba!

Atualmente, como disse, já não há mais o trem de passageiros. Na primeira gestão do prefeito Evandro Capixaba, no momento preso em Bangu, inventaram um projeto chamado "Trem dos mares". E, como era de se esperar, a proposta nunca saiu do papel sendo que as únicas locomotivas que continuam perturbando o sossego dos moradores daqui são as da MBR (Minerações Brasileiras Reunidas), empresa controlada pela Vale do Rio Doce.

Também é uma pena que hoje em dia as nossas praias da baía de Sepetiba já não sejam mais tão limpas como antigamente. Porém, ainda há belezas e bananas no município. Aliás, como se traduz o nome da cidade do tupi, mangará seria aquele "coração" da bananeira enquanto tiba significa muita quantidade. Logo, este deveria ser o lugar de muitas bananas nos tempos dos valentes índios tamoios.

Bem, não posso dizer que sinta dificuldades de comprar essa fruta rica em potássio pois quase sempre acho alguém vendendo uns lotes pela manhã na praça principal de Muriqui, distrito de Mangaratiba onde passei a morar desde agosto/2012. Geralmente pago uns três reais a dúzia. Contudo, quando criança, recordo que os morros da Rio-Santos exibiam uma quantidade b em maior de bananeiras sendo que, naqueles anos de minha infância, achava um montão delas no quintal da vovó, o qual parecia ter uma extensão enorme.

Inaugurado em um ano antes de eu me mudar pro município, o Beco tem as suas paredes decoradas com uma antologia poética, passando por estilos como o barroco e o cubista, chegando aos tempos modernos e contemporâneos de poetas como Manoel Bandeira. Como se pode ver na foto, foram instalados postes de iluminação e bancos, onde as pessoas podem se sentar e conhecer os grandes nomes de toda a história de nossa poesia, num agradável ambiente ao ar livre. Enfim, cuida-se de um lugar imperdível para quem visita Mangaratiba.




OBS: Ilustrações acima extraídas do Mapa de Cultura que é um site do governo estadual do Rio de Janeiro.

Um comentário:

  1. De acordo com a matéria referenciada no texto, Gonzação teria visitado Mangaratiba no ano de 1949 e, durante passagem pela cidade, encantou-se pelas belezas naturais e por mulheres como Zazá, Carime, Ivete, Ana Maria e Leni. E, segundo eu soube, pelo menos uma delas estaria viva hoje - a dona Carime. Acredito que moradores mais antigos poderão me esclarecer melhor a respeito.

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