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terça-feira, 10 de junho de 2014

A família do paciente




Geralmente costuma-se comentar muito mais sobre as dores de quem sofre por alguma doença do que a respeito de seus parentes mais próximos. Poucos são realmente capazes de lembrar do drama dos pais, irmãos, filhos, cônjuge, tios, sobrinhos e amigos do indivíduo enfermo, sendo que, conforme a gravidade da moléstia que a pessoa tem, toda a família adoece junto.

Quanto a isso, a Bíblia não é omissa ao relatar os diversos milagres de Jesus. Há nos evangelhos ricas mensagens sobre pais que imploraram ajuda ao Mestre para os complicados problemas de seus filhos e, com fé, alcançaram a bênção da qual os entes queridos deles tanto necessitavam. Podemos citar os casos da ressurreição da filha de Jairo sobre o que escrevi na postagem anterior, da cura da sogra de Pedro, do filho (e/ou servo) do centurião romano, da filha da mulher cananeia, do pai cujo menino repentinamente se convulsionava, bem como da morte de Lázaro de Betânia, irmão de Marta e de Maria.

Verdade é que o familiar que realmente ama sente-se de alguma maneira preso ao doente. Devido a essa forte ligação, ele passa por inúmeras lutas em sua caminhada a ponto de sofrer até mais do que o próprio paciente. E, não raras vezes, tal parente suporta terríveis humilhações na sociedade, não é satisfatoriamente reconhecido, escuta as mais infundadas críticas de quem não vive na sua pele, deixa de progredir na carreira profissional, surpreende-se com atitudes de ingratidão por quem está sendo ajudado, e, frequentemente, nem chega a dispor de tempo para cuidar direito de si. Em se tratando de alguém com distúrbios psiquiátricos, uso imoderado de álcool ou de dependência química, aí é que as mentes julgadoras e incompreensivas em nossa volta não poupam palavras afim disparar acusações de todos os tipos, inclusive direcionadas ao cuidador.

Fico também imaginando como deve ser duro estar ao lado de um paciente terminal ou que padece de uma doença incurável e degenerativa. Alguém que, por exemplo, tenha um câncer avançado possuindo apenas poucos meses de vida em que os mais próximos sentem-se impotentes diante da situação. Então, sem poderem humanamente evitar os acontecimentos, não lhes resta outra coisa a fazer senão tentar melhorar o nível de convivência familiar e elevar a qualidade de vida do parente. Algo que pode ser praticado por meio de proveitosas conversas sem máscaras, pelo exercício da fé, com orações sinceras, e cultivando alegrias ao invés de improdutivas tristezas.

Em todos os milagres que mencionei acima, os personagens das narrativas bíblicas trouxeram Jesus para os seus relacionamentos familiares. Nenhum deles ficou inconsolavelmente sofrendo sozinho e decidiram procurar o Mestre porque sabiam da possibilidade de contar sempre com sua compaixão nas horas mais difíceis. E, nas buscas empreendidas, alcançaram um resultado descrito como feliz.

Ora, é nesse contínuo caminhar onde compreendemos a essência de um milagre. Pois mesmo tudo acontecendo naturalmente, Deus opera algo surpreendente nos nossos relacionamentos familiares e na vida do enfermo, conforme a abertura de cada coração. Basta que sejamos receptíveis à ação de seu Espírito!

Assim, pode-se afirmar que, quando buscamos verdadeiramente a Jesus, o Mestre vem nos curar da paralisia de amar, limpa os nossos olhos para entendermos as coisas espirituais, abre os ouvidos afim de que escutemos melhor o nosso próximo em sua aflição e, finalmente, gera a sua vida no interior da gente. Aí um problema pode vir a se tornar uma oportunidade incrível de crescimento e de superação em nossa existência de modo que aprendemos a substituir o momento perecível da matéria pela eternidade do espírito para a qual somos chamados.

Mais do que nunca precisamos andar mais atentos com os conflitos dos familiares dos pacientes, recordando que eles devem ser também destinatários do nosso apoio. Sempre que uma pessoa vier nos pedir um aconselhamento pastoral ou oração em favor de alguém de sua casa, lembremos de perguntar sobre como ela tem passado e deixemos que fale desabafando por um tempo porque a conversa certamente lhe fará bem.

Que possamos dar força uns aos outros sabendo que toda a luta travada jamais será em vão! Afinal, além do aprendizado em cada situação da vida, nunca nos esqueçamos de que tudo se resolverá em Deus, sendo certo que temos ao nosso lado um grande Mestre e Pastor  Jesus Cristo, nosso Senhor.


OBS: A ilustração acima trata-se da obra Jesus e a mulher cananeia (1496-1504), sendo parte do políptico de Isabel de Castela, feita por Juan de Flandes (1460 — 1519), e que, atualmente, encontra-se no Palácio Real de Madrid. Extraí a figura do acervo virtual da Wikipédia, conforme se encontra em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus_exorcizando_a_filha_da_canaanita#mediaviewer/Ficheiro:Juan_de_Flandes.Altarpiece03.jpg

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