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domingo, 9 de junho de 2024

Diante da urgência da questão climática, temos que brecar logo o negacionismo!



Neste mês de junho de 2024, indígenas da ilha panamenha de Gardi Sugdub, no arquipélago de San Blas, tiveram que deixar suas casas transferindo-se para o continente por conta da elevação do nível do mar. Trata-se da primeira de 63 comunidades ao longo das costas do Caribe e do Pacífico do país que autoridades governamentais e cientistas nacionais preveem que serão forçados a se mudar devido ao aumento do nível do mar nas próximas décadas.


Do outro lado do Atlântico, porém, apesar da urgência das questões climáticas que ameaçam a vida na Terra, assistimos às projeções de um resultado desastroso nas eleições do Parlamento Europeu, quanto à escolha dos 720 novos eurodeputados. Pois, embora conservadores, liberais e social-democratas devam seguir com maioria no colegiado, houve um preocupante avanço da ultradireita, sendo estimado que os Verdes devem perder cerca de 20 assentos caindo para a sexta posição, quando for proclamado o resultado oficial.


O crescimento da extrema direita está sendo tão impactante que, na França, o presidente Emanuel Macron anunciou a convocação de eleições legislativas antecipadas em que o segundo turno deve acontecer em julho, mesmo mês em que se iniciarão as aguardadas Olimpíadas de Paris. Isto porque o seu partido sofreu uma pesada derrota para a agremiação de ultradireita chamada Reunião Nacional, que é liderada por Marine Le Pen, o que, certamente, ameaçará a estabilidade política do país, caso o povo francês não seja convocado a retornar às urnas.


Já na Alemanha, projeções indicam que o apoio aos sociais-democratas de centro-esquerda de Olaf Scholz caiu para 14%, atrás da "Alternativa para a Alemanha", de ultradireita, que subiu para o segundo lugar, 


Uma exceção, todavia, seriam os países nórdicos, onde a esquerda e os ecologistas avançaram com força, tendo também a extrema direita perdido força na Bélgica.


Por sua vez, no Brasil, mesmo com Lula de volta ao Planalto desde janeiro do ano passado, sofremos com um Legislativo conservador, de mentalidade retrógrada e predatória, que acaba servindo aos interesses do agronegócio com pouca consciência ambiental, sem contar as ligações dos deputados da "bancada evangélica" com as igrejas fundamentalistas. Ou seja, grande parte dos nossos parlamentares parecem inertes diante das questões climáticas emergenciais que afetam toda a humanidade, inclusive aos próprios produtores rurais, podendo fazer com que parte dos habitantes de Porto Alegre, por exemplo, tenham que se mudar também como as comunidades panamenhas.


Confesso que não imaginava ver um quadro de tamanha ignorância no mundo estando já em pleno século XXI. Lamento que, em meados de 2024, os noticiários ainda alimentem as nossas mentes com informações diárias sobre os horrores das guerras na Ucrânia e em Gaza, num momento político em que os povos deveriam estar cooperando entre si para salvar o planeta do aquecimento global.


Tenho pra mim que já estamos atingindo os chamados "pontos de não retorno", o que ocorre quando mudanças do clima se tornam autossustentáveis, levando a transformações qualitativas em seu modo de funcionamento. No caso da Amazônia, mesmo com a diminuição do desmatamento durante o governo Lula, a floresta ainda corre o sério risco de colapsar até 2050 em razão da fundada possibilidade de novos incêndios e das secas prolongadas, o que afetaria duramente comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, além da fauna silvestre.


Voltando à política, fico a pensar sobre termos uma combinação do regime democrático com a sofocracia pensada há uns vinte e quatro séculos por Platão, indagando se isso não seria uma solução através de uma espécie de "Poder Moderador". 


De acordo com o que o filósofo grego expôs em sua célebre obra A República,  um governo de sábios seria mais eficiente do que a democracia. Isto porque, no seu entender, o julgamento popular quase sempre se deixaria levar pelas aparências.


Embora a sofocracia possa tender a um certo elitismo intelectual, creio que a sua parcial adoção como um "Quarto Poder", sem excluir o exercício da democracia nas eleições e dos direitos políticos constitucionalmente previstos, possibilitaria a uma câmara científica assegurar a estabilidade do país diante de questões graves como os problemas ambientais e as pandemias, por exemplo.


Certo é que essa função estatal não poderia ser dada ao Judiciário porque, apesar da tecnicidade dos nossos tribunais, os julgadores ainda são sensíveis às influências políticas e haveria um desequilíbrio institucional na hipótese de ser conferido mais poder a uma Corte como o nosso STF. Logo, suponho que uma Câmara Científica, composta por doutores das universidades públicas e dos centros de pesquisa, eleitos pelos seus pares, possibilitaria uma ação ao mesmo tempo propositiva e repressiva quanto às condutas decisórias dos Três Poderes.


Por fim, devemos lembrar que a palavra sofocracia vem do grego sophrosine, significando "virtude da moderação". E, nesse momento tão crítico que o mundo vive, não vejo outra saída a não ser limitar a estupidez humana pela supremacia da razão.

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