Páginas

terça-feira, 11 de junho de 2024

Chegou a hora de modernizar a visão do "caipira"!



Finalmente estamos em pleno mês de junho e as chamadas "festas caipiras" já começam a ser anunciadas por todos os cantos tendo como ápice o dia 24/06, quando se comemora a natividade de São João Batista, numa correspondente adaptação do solstício do verão europeu (embora seja inverno por aqui). Tratam-se de umas das mais antigas celebrações introduzidas pelos portugueses em nosso país, durante o período colonial, homenageando também a Santo Antônio e a São Pedro.


Pode-se dizer que o que mais se sobressai nos festejos juninos seria a celebração da vida rural com a apresentação de roupas, comidas e danças típicas (principalmente a quadrilha), sendo a fogueira, os balõezinhos e as bandeirinhas elementos importantes desse ambiente de aconchego. E não poucas são as escolas que costumam ser enfeitadas para receber as famílias da respectiva comunidade, mesmo quando estabelecidas numa cidade grande.


Entretanto, apesar dessas festas resgatarem a memória do nosso passado rural, tenho os meus questionamentos sobre como a vida do homem do campo, o "caipira", ainda é retratada, induzindo muitos a pensar que o presente na roça ainda seja assim.


Ora, entendemos por caipira a população do centro-sul do Brasil originada dos antigos bandeirantes paulistas que teriam desbravado violentamente o interior. O termo vem do tupi significando "cortador de mato" pois, de fato, foi isso que os nossos ancestrais fizeram nos séculos XVII, XVIII e XIX, quando passaram a invadir a Mata Atlântica até então preservada pelos povos indígenas.


Mesmo sem a consciência de sua origem, o vocábulo se mantém presente até hoje na maior parte do país e, não raramente, é contextualizado de maneira pejorativa para se referir ao morador do campo. Principalmente depois que a literatura do Monteiro Lobato (1882 - 1948) retratou o homem do campo em seus criativos contos como um ser "atrasado", como se vê no célebre livro Urupês (1918).


Entretanto, não é o pejorativo e nem o romântico que deveriam prevalecer no imaginário do brasileiro acerca da população rural do país quer sejam os paulistas, os gaúchos, os mineiros, os nordestinos, os pantaneiros ou os ribeirinhos da região amazônica. Pois tão importante quanto mantermos vivas as tradições herdadas dos velhos antepassados da nossa gente (até às primeiras décadas do século XX o brasileiro esteve mais no campo do que na cidade) é reconhecer os aspectos positivos de um presente próspero nessas regiões.


Assim sendo, já não cabe mais representar o caipira através daquela figura de um cafona roceiro desdentado, bronco, falando errado o português e usando roupas remendadas como o personagem Jeca Tatuzinho. Isso já não tem mais nada a ver com a realidade que foi mudando progressivamente nos últimos quarenta anos.


Ao contrário de muitos moradores das grandes cidades que vivem contando dinheiro para pagar as dívidas da prestação do carro, a mensalidade do plano de saúde e manter em dia o aluguel do apartamento, há lugares no Brasil onde a riqueza parece brotar do chão com a ajuda das mais modernas tecnologias. São propriedades com aeroportos particulares, eletricidade, acesso rápido à internet, contando com a colaboração de trabalhadores muito bem pagos (inclusive cientistas de diversas áreas), e que fazem do campo uma verdadeira indústria de alimentos.


Certamente que essas colocações não mudarão a maneira como as festas caipiras são tradicionalmente festejadas e nem quero que tais celebrações se percam. Porém, é fundamental vê-las como algo do nosso passado representando um tipo de Brasil que vive na nossa memória cultural.  

2 comentários:

  1. Não acho que a visão geral que se tenha hoje do "caipira" seja pejorativa. Essa figura do Jeca já não é tão forte hoje. As festas juninas celebram exatamente esse ambiente rural com suas tradições, comidas e danças. Na escola do meu filho ano passado tentaram dar uma "atualizada" nas músicas tradicionais caipiras colocando uns funks misturado com sertanejo e ficou horrível!! Algumas tradições merecem ser preservadas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia, Eduardo. De modo algum desejaria ver as tradicionais músicas sendo trocadas por funks e os "sertanojos". Nem tão pouco uma substituição pela moda country pois daqui a pouco vão imitar o cowboy americano. No entanto, o que quero dizer é que hoje o meio rural já é outro. Não representa mais a pobreza e nem a ignorância. Se antigamente o caipira falava errado o nosso idioma português, por exemplo, isso se devia também ao fato de que, por muitas décadas, o tupi foi o idioma predominante na antiga capitania de São Paulo. No entanto o modo de vestir com chapéu de palha e roupa remendada já não tem a ver com a realidade. Usa-se hoje em dia roupas iguais da cidade e boné no lugar do chapéu de palha. Logo, são apenas lembranças de um passado que, já no nosso tempo de criança, estava começando a desaparecer do cotidiano.

      Excluir