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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Preocupações com a banalização da violência



Ontem (03/10), enquanto eu estava acompanhando a minha esposa num exame de tomografia computadorizada num laboratório de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a TV exibia cenas da violência ocorrida durante um protesto de professores da rede municipal de ensino. Fiquei impressionado como que ninguém naquela sala de espera da clínica importou-se em prestar a atenção nas notícias transmitidas pelo telejornal.

Nos meses de junho e julho deste ano, o país inteiro ainda parava para assistir as manifestações de rua que ocorreram durante a Copa das Confederações. Era o assunto do momento! Uma novidade depois de praticamente duas décadas de calmaria política quando o ex-presidente Fernando Collor tinha sofrido um processo de impeachment. Agora, porém, essas passeatas passam a integrar a nossa rotina junto com os deploráveis atos de vandalismo e de truculência policial.

Confesso que fico muito preocupado com esses reincidentes episódios de confrontos entre mascarados e PMs pelas grandes cidades do país. No nosso dia à dia, estamos assistindo a formação de um ambiente social mais agressivo e embrutecedor no qual as pessoas tendem a não se respeitar mais. Junto com as notícias de pancadaria nos protestos, a TV nos mostra ainda terríveis cenas de guerra no Oriente Médio, assaltos flagrados pelas câmeras espalhadas por aí, os acidentes de trânsito fatais nas vias públicas, as brigas nos estádios de futebol com a participação de torcidas organizadas e casos de violência doméstica.

Durante esta semana, resolvi divulgar em determinados grupos de debates do Facebook uma enquete do site da Câmara dos Deputados sobre o projeto de lei de n.º 5534/2009 do deputado José Mentor (PT/SP) que tem por objetivo proibir a transmissão de lutas marciais não olímpicas pelas emissoras de TV no país. Na ocasião, externei a minha opinião de apoio à proposta do parlamentar, escrevendo ser importante participarmos dessa consulta sobre a proibição das lutas do MMA na TV e a necessidade de se "construir no nosso país a cultura da paz". No enanto, fiquei surpreso com a reação de alguns internautas frequentadores dessas redes sociais, os quais, ao invés de discordarem com elegância das minhas posições, partiram para ofensas verbais gratuitas com o uso até de palavrões defendendo a violência. Um deles assim escreveu:

"O ser humano evoluiu do macaco como a ciencia prova, herdamos os genes do instinto animal, como o ser humano não terá violencia nele? Esse Rodrigo Ancora da Luz é uma anta, a vida é uma briga pela sobrevivência e os mais aptos sobrevivem comprovado pela ciencia, como vai ter cultura de paz e amor q essa mula defende? O MMA reflete a força do ser humano, homens fortes batendo em homens fortes pro mais forte vencer isso é a vida, e não os contos de fadas de figuras como esse Rodrigo Ancora da Luz esse ai não entende porra nenhuma de nada"

Também no mesmo grupo uma mulher posicionou-se da seguinte forma:

"Deixa de ser patético, MMA é esporte e até nós mulheres gostamos, e ridiculo falar contra esporte e dai se gera viloencia ou não? Vc vive em q mundo por acaso Rodrigo Ancora da Luz? O ser humano sempre foi e sempre será violento tendo ou não tendo lçutas, e um direito de todos que gostam poderem assistir"

A que ponto chegamos em que pessoas parecem se contentar com a banalização da violência?! Posso estar até viajando no que vou colocar, mas eu diria que as lutas de MMA e de boxe na televisão estimulam também a violência nos protestos de rua assim como na sociedade em geral. Na minha breve análise sobre o citado projeto de lei que encaminhei para a Câmara Federal, disse que:

"Não consigo ver MMA como um esporte saudável. Nas artes marciais existem princípios que ensinam o praticante a não agredir. No MMA, porém, é um tipo de vale tudo. Parece uma substituição do antigo circo romano. Triste ver a violência tomando conta das telinhas e instigando os nossos jovens... Do jeito que as coisas estão, precisamos ser bem pragmáticos na formação de um ambiente social que favoreça a paz. Chega de estímulo às agressões!"

Como um cidadão antenado com as questões políticas do país, acho que o o povo brasileiro estava precisando se despertar para tratar de questões de interesse coletivo. Porém, não tenho gostado nem um pouquinho de assistir a essa onda de violência que se repete em praticamente todo protesto. Nestas horas, prefiro ficar em casa do que ir para as ruas pois não desejo que a minha presença numa passeata oportunize a ação dos vândalos e nem dos demais tipos de baderneiros. Vejo outras maneiras até melhores de expressarmos o nosso descontentamento e a nossa indignação capazes de proporcionar um encaminhamento mais propositivo do que apenas carregar um cartaz pela praça.

Tão importante quanto lutarmos pelos direitos sociais e contra a corrupção dos políticos está a manutenção da paz, da democracia, da liberdade de ir e vir, do respeito à dignidade de outro ser humano bem como dos demais valores que já foram mais prestigiados na nossa vida nacional. Percebo que a sensatez precisa prevalecer sempre e acho que não avançaremos quebrando certos princípios que são basilares.

Finalmente, deixo o meu apelo para os dirigentes das emissoras de TV afim de que não façam tanto sensacionalismo com a violência. Tudo bem que há uma guerra feroz por audiência que é determinada também pela mediocridade do telespectador, bem como pelo anseio de rentabilidade dos acionistas de tais empresas, mas creio que, com um ideal criativo, é possível mudarmos isso. Dá tranquilamente para as TVs ganharem os seus bilhões por ano com maior responsabilidade social.

Preservemos a paz!


OBS: Foto acima extraída do site da Agência Brasil em http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-08-27/projeto-de-lei-quer-proibir-transmissao-de-lutas-de-mma

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