Num sábado do inverno carioca, Rosa chegou em casa toda empolgada anunciando aos filhos que havia começado seu namoro com um homem que conhecera na internet. Ambos foram encontrar-se na orla de Copacabana e, quando ela retornou para sua residência na Tijuca, o mais velho estava na sala usando o computador.
Com 54 anos, Rosa enviuvou-se aos 25. Não foi feliz nos relacionamentos seguintes (o pai do segundo filho espancava-a), embora tivesse experimentado bons momentos com o último namorado.
Jorge, a pessoa que Rosa escolheu, não estava fora de sua faixa etária, sendo ele pai de duas filhas formadas e se divorciara dois anos atrás da esposa. Carioca da gema, viveu uma década nos Estados Unidos e resolveu retornar ao país com a crise econômica. Estava trabalhando como advogado num escritório próprio na Barra enquanto que ela recebia a pensão do INSS deixada pelo marido, apesar de ter dado um duro como empregada na iniciativa privada com a maior parte do tempo sem a carteira assinada.
Sem nenhum minuto a perder, ambos resolveram não enrolar e escolher aquilo que desejavam para si. Nenhum deles tinha motivos para esconder algo um do outro ou nutrir ilusórias expectativas quanto ao futuro. O objetivo comum parecia ser a busca da felicidade de uma maneira madura, diferente dos adolescentes, dos solteiros recém formados e das pessoas de meia idade com filhos menores.
Durante o jantar que tiveram, o papo foi bem direto. Não demorou muito para Rosa receber a proposta:
- “Quero namorar com você, mulher. Amanhã iremos nos ver novamente?”
- “Claro que sim, Jorge. Meus finais de semana serão todos seus.”
- “Prometo cuidar de você. Sou cristão metodista e vou ao culto pela manhã. Podemos almoçar juntos. O que acha?”
- “Está feito. Vou à missa cedo, tomo o meu banho e venho de metrô ao seu encontro. Só que, desta vez, nos veremos no restaurante do qual lhe falei no Flamengo.”
- “Combinado!”
Assim, Rosa e Jorge concluíram o primeiro encontro e retornaram contentes para casa. Tendo já cumprido com o ciclo vital, tinham sob controle o desejo de maternidade/paternidade, assim como já não sofriam de nenhuma ansiedade adolescente pelo começo de um namoro nem padeciam daquela mania de beleza corporal. Dinheiro não era problema para os dois. Se a grana ficasse curta, não teriam muitas exigências para fazer. O objetivo deles seria a felicidade mútua e não se meterem na vida dos filhos afim de envelhecerem tranquilamente com qualidade.
OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro A Proposta (1872) do artista francês William-Adolphe Bouguereau (1825-1905).
¿Por qué hemos llegado a la pavorosa situación actual?
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Leonardo Boff* Es un lugar común afirmar que estamos en el corazón de una
gran crisis de civilización. No es una crisis regional sino global. A decir
verda...
Há 10 horas
Lendo o seu texto, Rodrigo, lembrei-me do que minha mãe sempre dizia a seus filhos: não se metam em jugo desigual, baseada em conceitos bíblicos.
ResponderExcluirMas eu te pergunto:
Casamento não é um salto no escuro, uma vez que a subjetividade de cada um, como a impressão digital, é única, sendo esse desejo de encontrar um igual uma impossibilidade?
Prezado Levi,
ExcluirConcordo com a sua indagação/colocação.
Muitos falam em "alma gêmea", o que, caso exista, não significa que o outro deva ser igual, mas alguém que de alguma maneira nos completa. Mesmo com suas diferenças.
Analisando os casais da Bíblia, será que Abraão e Sara foram iguais? Tanto o velho patriarca quanto o seu filho Isaque pareceram ter encontrado suas respectivas "alma gêmea". Mas e a esposa que Deus deu a Jacó? Refiro-me a Lia, que ele não escolheu, e foi quem o Eterno manteve viva depois da amada Raquel ter partido prematuramente...
De qualquer modo, entendo que a escolha precisa ser feita levando em conta a identificação entre ambos, ainda que seja impossível conhecer na totalidade a outra pessoa. Mas, em muitos casos, somos completos nas diferenças e quando a própria vida nos coloca em jugo desigual. É aí, por incrível que pareça, que muitos aprendem a amar.
Quando puder, dê uma lida na minha primeira postagem do mês:
"A esposa que aprendeu a gostar"
Abraços e tenha uma excelente semana cheia de paz e de graça.