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domingo, 14 de agosto de 2011

Um Pai que estará SEMPRE presente!



"Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus" (1João 3.1a; ARA)


Após ter perdido meu pai biológico, em setembro de 1983, quando ainda tinha meus 7 anos, a data comemorativa do segundo domingo de agosto tornou-se para mim algo vazio e desgostoso nos anos seguinte. Assistia na escola meus coleguinhas fazendo seus trabalhinhos, sob a orientação da professora, para levarem um presente aos seus pais. Eu, porém, não contava aos outros alunos a minha condição de órfão de pai porque não suportava estar em desvantagem em relação aos demais. Então mentia que o meu pai morava numa outra cidade bem distante, lá no Nordeste, para justificar sua ausência.

De fato, eu cheguei até a duvidar sobre o falecimento de meu pai. Isto porque, na época, os adultos não me contaram sobre como ocorreu seu óbito repentino de ataque cardíaco, em seu apartamento no Leme, Zona Sul do Rio de Janeiro (nesta época ele já estava separado de minha mãe). Aí, só depois é que inventaram que ele estava internado num hospital e fizeram isto comigo por uns três dias, sem que eu tivesse tido a oportunidade de me despedir dele no velório.

Aos 11 anos, resolvi então assumir a minha realidade. Tendo sido transferido de escola no meio ano, em Juiz de Fora (MG), decidi não mais esconder a perda do pai perante os colegas da 4ª série primária (outra coisa que muito me incomodava era estar um ano atrasado por ter repetido a alfabetização). E posso dizer que me senti bem mais aliviado por não carregar comigo a bagagem de uma mentira.

Anos depois, sendo já um complicado adolescente, vim a ter consciência de que havia sido adotado por um outro pai - DEUS.

A experiência da conversão fez com que eu não mais me sentisse órfão de pai e começasse a ver o mundo de uma outra maneira.

Chamar Deus de Pai, ainda que possa ser considerado mais um tipo de antropoformização da divindade, não deixa de ser uma imagem que O torna acessível, amoroso e íntimo. Isto porque representa a redescoberta de um relacionamento. Algo que para os israelitas, nos tempos anteriores a Jesus, ainda era mais ligado à eternidade do Criador e às vitoriosas batalhas militares do passado, ainda que as Escrituras hebraicas vez ou outra utilizassem a figura paterna e até materna para Deus. Porém, foi debaixo da opressiva dominação romana que o Messias revelou o Pai ao seu povo.

Creio que é neste nível de intimidade que Deus sempre desejou estabelecer um relacionamento com o homem. Tendo Ele nos criado à sua imagem e semelhança, penso que Deus quer que sejamos mais do que seus servos, mas sim filhos e amigos, tal como foi chamado o patriarca Abraão.

A Parábola do Filho Pródigo (Lucas 15.11-32) mostra-nos ali um pai bem diferente dentro do antigo Oriente Médio, os quais costumavam se colocar numa posição mais distante de seus descendentes tal como um patrão que dá ordens aos empregados. Porém, na metáfora do Evangelho, o pai, ao ver seu filho voltando para casa, correu em sua direção, abraçou-o e, mesmo estando sujo e maltrapilho, foi capaz de beijá-lo.

"E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não dou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se." (Lc 15.21-24; ARA)

Que Pai maravilhoso não é o nosso Deus, capaz de nos aceitar apesar de todas as faltas praticadas contra Ele e, mesmo assim, por em nossos dedos um "anel" que simboliza a nossa filiação eterna?

Apesar de ter perdido meu pai natural precocemente, sou grato por ter encontrado um Pai que é SEMPRE presente e que me ama incondicionalmente. Um Pai que é louco de amor pela sua criação, mais até do que os nossos genitores. Pois ainda que uma mãe possa esquecer-se do filho que amamenta, como diz lá em Isaías 49.15, o Criador jamais irá nos deixar. E assim diz o profeta a Israel falando sobre Deus:

"Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei; os teus muros estão continuamente perante mim." (Is 49.16; ARA)

Ainda que esta data seja muito usada pelo comércio para promover as vendas, desejo que possamos nos lembrar este dia do nosso Pai de Amor que é onipresente e também tudo conhece, inclusive os nossos anseios e sentimentos mais íntimos. E, sendo ele o detentor de todo poder, fará o melhor por nós, infinitamente mais do que podemos imaginar.

"Como um pai se compadece dos seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó." (Salmo 103.13-14; ARA)

Tenha uma boa semana e aproveite para curtir seus pais terrenal e celestial!


OBS: A foto cima foi tirada no meu aniversário de 5 anos, quando eu estava abraçado pelo meu pai que deveria estar com seus 34 anos. Nascido no Rio de Janeiro, em 13 de novembro de 1946, Francisco Carlos Ancora da Luz era engenheiro mecânico e trabalhava na Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro, na época de seu falecimento. Teve apenas um filho (eu). Dizia-se marxista e ateu, mas, ainda assim, dava "graças a Deus".

10 comentários:

  1. Pôxa vida Rodrigão! Desse jeito meu coração não aguenta!

    Perdas são sempre dolorosas, mas fico feliz que vc carrega consigo boas lembranças.

    Lindo e sensível seu testemunho!

    Um ABRAÇÃO AMIGÃO!!!

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  2. rodrigo, muito bom teu texto! fico imaginando como deve ser perder nosso referencial de figura masculina tão cedo.

    mas sua frase

    "Chamar Deus de Pai, ainda que possa ser considerado mais um tipo de antropoformização da divindade, não deixa de ser uma imagem que O torna acessível, amoroso e íntimo"

    está cheia de significados que só quem vive essa dinâmica relacional com o Mistério pode sentir. e chamar o Mistério de Pai cria toda uma imagem que nós já conhecemos e que nos é muito importante, nosso pai terreno.

    amigo, só hoje li sua sugestão lá no caminhos da teologia e achei bem interessante. realmente seria um modo de deixar o blog funcionando já que no momento estou sem muito tempo para atualizá-lo constantemente, já que textos teológicos e bíblicos(pelo menos para mim)dão um pouco de trabalho para escrever, já que(para mim)eu preciso consultar bons livros(minha biblioteca tem milhares deles)e isso leva tempo.

    rodrigo, o seu nível de conhecimento de temas bíblicos é maior do que muito professor de alguns seminários. por isso, se acontecer o que você propôs, você será tem que ser um dos articulistas.

    vamos ver isso aí, já fiquei um pouco empolgado, mesmo que eu tenha mais "desconstruções teológicas" a fazer do que outra coisa.

    abraços

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  3. Prezados Franklin e Eduardo,

    Primeiramente, obrigado pelo comentário de vocês, bem como pelas afetuosas palavras expressas pelos amigos.

    Realmente não é fácil a perda de um pai, independentemente da idade. Há 9 anos, numa idade adulta, a minha esposa também perdeu o dela e até hoje sofre. Vez ou outra ela tem sonhos com o seu pai. E aí suponho que o tempo de convivência sendo maior deve causar dores ainda mais profundas.

    Posso compartilhar que perda de meu pai, precedida da separação, talvez tenha gerado suas dores peculiares. Nos primeiros anos, eu ainda chegava a sonhar com ele vindo me buscar para um passeio no final de semana, vendo-me entrando num táxi e indo para algum lugar do Rio de Janeiro.

    Contudo, conhecendo Deus e dando um significado à vida que temos, conseguimos superar melhor as perdas do passado e darmos um novo significado à nossa existência. É quando entendemos que somos chamados a uma missão e que a realização desta, em tornar melhor o mundo onde moramos e também a vida de seus habitantes. Então percebemos que há um presente para ser realizado e um futuro para ser construído.

    Pelo sentido natural das coisas, em regra, os seres humanos tendem a se tornar órfãos de seus pais terrenos (a não ser que morramos cedo). Por isto, vejo que a confiança em Deus, no Pai Celestial, é que vai nos guiar durante toda a nossa existência até a eternidade. Pois Ele é o primeiro e o último, o início e o fim de todas as coisas, a origem de toda a vida e do universo, sendo que para Ele também retornaremos.

    Mais uma vez, valeu pela participação de vocês.

    Abração!

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  4. Edu (sobre o seu blogue),

    Minha sugestão é que, primeiramente, publique esta minha proposta de tornar o blogue "Caminhos da Teologia" um espaço compartilhado com outros pensadores e estudiosos no assunto.

    Agradeço pelo seu incentivo e aceito o seu convite para escrever lá como um articulista. Não sou teólogo, mas posso tentar colaborar com algumas ideias e reflexões a respeito de temas bíblicos ou religiosos.

    A meu ver, todas as ciências, inclusive o Direito em que me formei, deveria ter espaço para quem não seja um profissional da área ou não tenha um diploma no bacharelado. Eu, por exemplo, tenho mais aprofundamento no Direito do Consumidor, mas reconheço que este ramo das ciências jurídicas pode receber também contribuições de leigos como os próprios consumidores, os comerciantes ou empregados das empresas que lidam com o público, além de funcionários do PROCON e de outros órgãos oficiais.

    Em matéria de Teologia, tenho pra mim que todos nós a contruímos. Tanto o teólogo, como o simples pregador da mensagem religiosa sem formação acadêmica e o crente que, dentro dos prédios de uma instituição eclesiástica, apenas "esquenta dos bancos", como se diz no vocabulário evangélico. E, além desses três exemplos, eu ainda levantaria a hipótese de que o próprio descrente participa de alguma maneira dos processos teológicos. Aliás, veja aqui este artigo "A respeito da visão marxista sobre a origem do cristianismo" escrito por um ateu e com base na análise de teólogos seculares, publicado no site "Irreligiosos":

    http://irreligiosos.ning.com/profiles/blog/show?id=2626945%3ABlogPost%3A21217&xg_source=activity&page=14#comments

    Grande abraço, mano, e não desista de seus sonhos (e nem de seus blogues)!

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  5. Rodrigão, você era uma criança belíssima em? É comovente sua história, mas fiquei feliz por você haver ido além do pai materializado, essa harmonia, amizade entre você e o Paizão lá de cima é algo muito lindo e que nem todos conseguem crer que é possível. Parabéns!

    Beijão amigo.

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  6. Oi, Gui!

    Obrigado pelo incentivo.

    Sem dúvida que precisamos mais do que o ar que respiramos deste Paizão do Céu.

    Sabemos que Ele bate à porta dos corações das pessoas. Basta abrirmos. E o "crer" está neste humilde ato de se abrir para o Pai. Algo que não depende num acredditar baseado em provas.

    Abração!

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  7. ok, rodrigo. eu concordo com você. a teologia não é feita só por teólogos. depois eu confiro o link. eu postei sua proposta lá no caminhos.

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  8. Eu vi, Edu! Ficou show!

    É uma ótima ideia você tornar o "Caminhos da Teologia" num blogue coletivo e não jogar fora o que construiu talentosamente até aqui, investindo tempo e estudo.

    Sugiro que, ao invés de ser o único administrador, tenha vários. E a diferença pra C.P.F.G. deve ser o foco na Teologia, procurando incluir todas as visões: liberais, ortodoxas, católicas, protestantes, judaicas, espíritas, etc...

    Abraços.

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  9. Rodrigo

    Eu perdi meu pai aos 16 anos, idade em que a gente já aguenta mais o tranco, por ter superado muito dos traumas da infância.

    Mas perder o pai aos cinco anos de idade, quando se está em plena resolução do complexo de Édipo, e em início de estudos escolares, imagino que deve ser bastante doloroso.

    Mas o importante é que você está aí para contar alguma coisa que ficou gravada no curto período de convivência paterna.

    Abraços,

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  10. Oi, Levo!

    Perdi meu pai aos 7, não aos 5.

    Penso que vale a pena as pessoas investirem na sua superação e aí a nossa relação com Deus e a nossa fé certamente vem a nos dar força em toda a caminhada da vida.

    Demorei um tempinho depois dos 7 anos para conhecer o Pai Eterno e até hoje sinto que ainda preciso conhecê-Lo mais.

    Abração e valeu aí pela visita.

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