Páginas

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As borlas das vestes de Jesus




"E Jesus, levantando-se, o seguia, e também os seus discípulos. E eis que uma mulher, que durante doze anos vinha padecendo de uma hemorragia, veio por trás dele e lhe tocou na orla da veste; porque dizia consigo mesma: Se eu apenas lhe tocar a veste, ficarei curada. E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou. E, desde aquele instante, a mulher ficou sã." (Evangelho de Mateus 8.19-22; ARA) - destaquei

A maioria dos cristãos ainda não consegue pensar num Jesus que estivesse de fato integrado à cultura judaica. Eu, porém, imagino o Senhor andando pelas ruas e cidades da Palestina usando os trajes típicos de seu povo, tal como prescrito pela Torá, a Lei de Moisés:

"Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que nos cantos das suas vestes façam borlas pelas suas gerações; e as borlas em cada canto, presas por um cordão azul. E as borlas estarão ali para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR e os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos, após os quais andais adulterando, para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus." (Números 15.37-40; ARA)

Estas borlas ou franjas, como consequência de um mandamento bíblico, ganhou uma enorme importância dentro da cultura judaica (antes de usarem o talit, os judeus ortodoxos ainda se vestiram assim até o século XVIII). Tratava-se do tsitsit e, como o texto nos mostra, tinha por objetivo fazer com que o cidadão israelita viesse a se lembrar da Lei de Moisés e guardar os seus mandamentos. Inclusive, para reforçar mais ainda a simbologia, tendo em vista o valor numérico das letras em hebraico da palavra tsitsit ser de número 600, foram acrescentados às vestes oito fios e cinco nós de uma franja, cuja soma dá 613 e corresponde o número total dos preceitos da Torá, segundo o Talmude.

"Nossas roupas com quatro cantos exigem tsitsit, e poucas roupas atualmente (exceto ponchos) têm quatro cantos, portanto usamos um talit especial com quatro cantos para podermos cumprir essa mitsvá. Durante as preces matinais, os homens usam um talit gadol – uma versão maior do talit catan. Tradicionalmente, os meninos começam a usar um talit catan aos três anos de idade." (http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1124380/jewish/Tsitsit.htm)

Contudo, no verso 5 de Mateus 23, Jesus aparece criticando os fariseus por alargarem os seus filactérios e alongarem suas franjas afim de serem notados pelos homens como praticantes de boas obras.

Certamente que as franjas foram dadas ao povo judeu para uma observância pessoal dos mandamentos. Algo que servia para alertar o israelita sobre os impulsos maus de seus corações (os pensamentos) e não seguisse tudo aquilo que atraísse suas vistas. Logo, não era uma coisa para ser exibida publicamente como se este ou aquele sujeito fosse um destaque moral, mas sim para cada um guardar para si mesmo.

Deve-se observar que Jesus conformou-se com o uso do tsitsit ainda que tenha reprovado a sua prática como fingimento, fato que me leva a fazer algumas reflexões sobre como deve ser o nosso comportamento em relação à guarda dos mandamentos de Deus, dos quais o crente nao deve ter vergonha de praticar.

Assim como Jesus não teve vergonha de suas franjas e nem se preocupou em alongá-las para ser visto pelos homens, nós não devemos nos retrair diante da sociedade a ponto de escondermos das pessoas a nossa opção pela obediência a Deus. Um homem fiel, por exemplo, deve assumir que se relaciona sexualmente só com a sua companheira e desta maneira agir com clareza diante de seus colegas de trabalho e demais pessoas de seu convívio, abstendo-se de comportamentos contrários à Palavra de Deus e se recusando a frequentar certos ambientes de prostituição e promiscuidade. Igualmente, lembrando aqui da célebre frase do Rui Barbosa, o homem não deve ter "vergonha de ser honesto" em seus negócios e atividades políticas, como se estivesse fazendo papel de trouxa ao devolver o troco que recebeu a mais.

Como um verdadeiro israelita, Jesus honrava a Deus e a Sua Palavra onde quer que estivesse, anunciando a Verdade em cada aldeia de Israel e pagando o preço pela escolha de seu ministério, tanto no meio do seu povo como diante do samaritano ou do estrangeiro que encontrasse. Desde a manhã até à noite, em todas as condições e a todas as horas da sua existência, sempre, e em todo lugar, ele se mostrava pronto a se entregar como um sacrifício vivo pela causa do Pai.

Vivendo com profunda naturalidade, sem precisar de recursos financeiros ou do marketing religioso, eis que até as vestes de Jesus exalavam o Poder de Deus que estava sobre ele. E este Poder estava baseado em sua autenticidade e relacionamento sincero com o Pai, sendo manifestado espontaneamente pela prática de um amor não fingido e que seria notado pela sociedade sem que ele precisasse preocupar-se em divulgar a sua imagem para ficar conhecido como o Messias prometido a Israel. E, assim, a sua fama se divulgou de maneira bem surpreendente, ainda que ele pedisse as pessoas que guardassem segredo a respeito dos milagres feitos por seu intermédio.

Que nós também possamos imitar os exemplos de vida ensinados por Jesus Cristo, andando em seus passos e almejando por uma obediência sem falsidade.

OBS: A imagem acima foi retratada nas catacumbas de Roma, antigos cemitérios subterrâneos onde as comunidades cristãs e judaicas se reuniam secretamente nos primeiros séculos da era comum. Extraído de http://campus.belmont.edu/honors/CatPix/womanblood.jpg através da Wikipédia, sendo material de domínio público, livre de direitos autorais.

6 comentários:

  1. Rodrigão, o grande problema da espiritualidade farisaica é que eles faziam da literalidade legalista o merchandising da auto-piedade (pura estética e performance), ao invés de interpretar o Espírito da lei e aplicá-lo de forma humilde e misericordiosa.

    Os caras eram tão obedientes a lei que se faziam inimigos do Espírito delas!

    Obediência sem sensibilidade é sinônimo de vaidade embrutecida.

    Abraços meu brother!

    ResponderExcluir
  2. Olá, Franklin!

    Mais uma vez te agradeço por sua visita sendo muito bem pertinentes os seus comentários.

    Verdade é que o mesmo espírito legalista daqueles fariseus criticados por Jesus ainda continua rondando as igrejas de hoje.

    A obediência do homem legalista é mais à letra do que a própria Lei já que a base desta é a essência do amor. E aí o moralismo comete uma das maiores crueldades contra os seres humanos ao excluir pessoas que não se enquadram nos padrões (ou não aparentam nada).

    Interessante saber que o Talmude também fez críticas aos fariseus, muito embora devemos observar que este grupo judaico foi importante para a preservação de Israel. E, em termos de teologia, há até uma identificação do pensamento de Jesus com os fariseus (a crença na ressurreição dos mortos por exemplo). Logo, foi em relação a esta facção mais próxima de Jesus que ele fez suas críticas no capítulo 23 de Mateus, sendo provável que José e sua família tivessem sido fariseus.

    Analogamente, vejo hoje no partido religioso dos evangélicos, onde recebi minha formação cristã, comportamentos não muito diferentes dos fariseus do século I. E não foi por menos que o nosso Senhor preveniu os discípulos para que se acautelassem do "fermento dos fariseus" que é a hipocrisia.

    Como resultado de uma conduta legalista, tem-se também o comportamento hipócrita, consistente na guarda fingida dos mandamentos.

    Abração!

    ResponderExcluir
  3. Doutor Rodrigo, eu tenho um caso por danos morais na justiça à mais de um ano. E agora saiu a sentença favorável, minha advogada me ligou e me informou que o banco foi condenado à me pagar 8.000,00. Só que ela também informou que o banco pode recorrer. Se isso acontecer, fica mais muitos anos na justiça?
    Ela não me explicou nada e sempre tento entrar em contato com ela pra saber e não consigo, tem alguma forma de acompanhar isto pela a Internet? Desde já obrigada

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde!

      Como me informou já possuir uma advogada atuando no processo, o certo é que acompanhe o andamento da ação através dela. Muitos clientes consultam a tramitação da ação pelo site do Tribunal mas acabam ficando confusos com os termos muitas vezes técnicos ou que fazem parte apenas da rotina forense.

      O tempo de duração de um processo na Justiça, tanto na origem como nas instâncias recursais, pode variar conforme os diversos acontecimentos, sobrecarga do órgão ou magistrado para o qual foi distribuído, sendo que, após toda esta fase, iniciam-se os atos de executórios para recebimento dos valores arbitrados, caso o devedor não efetue espontaneamente o pagamento.

      Importante é que mantenha um bom diálogo com a sua advogada. E, pelo que colocou, ela não deixou de entrar em contato para informá-la acerca de uma informação importante que foi a sentença de primeiro grau e da possibilidade de haver recurso da parte do réu. E, se este último contato não tem muito tempo, aconselho que aguarde sem deixar a ansiedade prejudicar a bopa relação que tem com a profissional.

      Boa sorte!

      Excluir
  4. Graça e paz muito bom conteúdo , enriqueceu muito o sermão que estou preparando, Deus o abençoe...

    ResponderExcluir