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terça-feira, 27 de abril de 2010

Olhando para os lírios do campo


Uma das frases que muito me chama a atenção no Sermão da Montanha está no verso 28 do capítulo 6 do Evangelho segundo Mateus. Ali, ao discursar sobre a ansiosa solicitude pela vida, Jesus mandou aos seus ouvintes que observassem como crescem os lírios do campo, afirmando, em seguida, que nem o rei Salomão chegou a se vestir como essas plantas que “hoje existe e amanhã é lançada ao fogo” (versículo 30).

No contexto da sua pregação, Jesus estava ensinando aos seus ouvintes que não vivessem debaixo das vãs preocupações sofrendo antecipadamente, demostrando que tudo aquilo que eles precisavam para alimento e vestuário são conflitos íntimos que, certamente, tentam roubar a adoração a Deus e o prazer de viver o presente.

Posso dizer que ainda sou um cara profundamente preocupado, mas tenho buscado várias vezes entregar a Deus a minha ansiedade, prosseguindo pela fé em minha caminhada com Cristo. E, sinceramente, não acho fácil a libertação da ansiedade porque o pensamento é algo que a princípio não podemos controlar, cabendo a cada um de nós não alimentarmos as ideias negativas que atacam a mente.

Todavia, tenho aprendido a prestar mais atenção nos “lírios do campo”, sendo que a minha ligação com o verde e com a natureza há muito tempo começou a fazer parte de minha vida.

Durante a infância na cidade do Rio de Janeiro, fui criado perto de uma reserva florestal situada na Zona Norte carioca, conhecida atualmente como o Parque Estadual do Grajaú. Desde aquela época, eu já sentia o desejo de alcançar uma elevação ali existente de seus 400 metros que pode ser considerado o ponto mais alto do bairro Grajaú – o Bico do Papagaio.


Também na infância, eu gostava muito de tomar banho de mar, principalmente furar ondas, sendo que desde criança meus pais me levavam às tradicionais praias do Rio: Copacabana, Ipanema e Leblon. E, eventualmente, íamos ao Pão de Açúcar e ao Corcovado.

Com sete para oito anos, mudei-me para Petrópolis, onde cheguei a morar por um ano antes de ir para Juiz de Fora com meu avô paterno. E, como já tinha uma certa identidade com o verde da Reserva do Grajaú, fiquei maravilhado com aquela belíssima floresta que cobre a vertente oceânica da Serra do Mar, separando a cidade imperial dos municípios de Duque de Caxias e de Magé. Olhando da janela do ônibus, eu desejava penetrar naquelas matas e descobrir os mistérios da natureza, imaginando o mundo mágico dos desenhos animados.

Assim, cresci contemplando de longe a natureza selvagem e, eventualmente, curtindo com mais proximidade a natureza domesticada, isto é, uma praia do litoral fluminense, o sítio de algum conhecido do meu avô que vez ou outra visitávamos, o quintal de minha avó na sua casa de Muriqui, um passeio a cavalo quando passava dias de férias no Sul de Minas Gerais e, com um certo receito de levar uma mordida, conseguia passar a mão num cachorro.

Com 13 anos de idade, finalmente, subi até o topo do Bico do Papagaio, realizando sozinho aquele meu desejo desde a época da infância. De lá, tive uma maravilhosa vista parcial da cidade do Rio de Janeiro, conseguindo avistar alguns prédios importantes da cidade, o mar da Baía da Guanabara que me parecia tão distante e a ponte que liga o Rio a Niterói.

Mais tarde, consegui, finalmente, aproximar-me da natureza selvagem, isto é, dos ecossistemas nativos. E posso dizer que tudo começou quando resolvi conhecer Ibitipoca, interior de Minas Gerais.

Desde a segunda metade da década de 90, ei tinha começado a viajar sozinho para novos lugares. Porém, os meus roteiros geralmente eram cidades, lugares bem badalados que a mídia e as agências de turismo costumam divulgar. Excursionando sozinho, fui a Florianópolis, Cabo Frio, Porto Alegre, Buenos Aires, Colônia (Uruguai), Guarapari, Lisboa, La Coruña (Espanha), Paris, Foz do Iguaçu e Porto Seguro. Porém, muita gente lá em Juiz de Fora falava sobre Ibitipoca e eu nem sabia onde ficava este lugar que era elogiado por uns e malfalado por outros.

A princípio, movido pela compulsão de conhecer mais um ponto turístico, planejei passar um final de semana em Conceição do Ibitipoca, sede de um dos distritos do município mineiro de Lima Duarte, vizinho a Juiz de Fora. Fui de ônibus pela BR-267 até à cidade que, coincidentemente, leva o mesmo nome de um conhecido ator brasileiro de telenovelas, a qual eu já conhecia desde a época em que viajava com minha família para o Sul de Minas. Porém, jamais tinha me aventurado numa poeirenta estrada de terra de uns 27 quilômetros que vai de Lima Duarte até Conceição do Ibitipoca, cortando uma serra íngreme. E, na aventureira viagem de Lima Duarte para Ibitipoca, o velho ônibus subia transportando não só passageiros, mas também mercadorias dentre as quais se incluem os terríveis cigarros paraguaios.

Na minha primeira ida a Ibitipoca, pouco aproveitei. Subir a pé os 3,6 km de estrada até o Parque Estadual foi bastante cansativo e acabei ficando boa parte do tempo me embriagando (na época eu estava “desviado” dos caminhos do Senhor). E, talvez por excesso de álcool etílico no sangue, caí na asneira de comprar um bar naquele local.

Em razão de um dos piores negócios da minha vida, acabei indo várias vezes de Juiz de Fora para Ibitipoca durante alguns meses de 1998, restringindo-me quase sempre ao ambiente do arraial, isto é, à vila de Conceição do Ibitipoca, onde eu trabalhava bastante sem ter um retorno que compensasse o esforço. Porém, uma vez ou outra, eu me aventurava fazendo caminhadas ali por perto e cheguei a fazer amizade com uma cadela de rua, a Cristal, que me seguia para onde quer que eu fosse. Um dia, andei mais de 20 quilômetros até à cidade vizinha de Santa Rita do Ibitipoca, situada no outro lado do parque, de onde retornei para Juiz de Fora passando antes por Barbacena.

Contudo, foi nos meus últimos dias daquela aventura louca em Ibitipoca que conheci melhor o Parque. Em certa ocasião, cheguei a dormir uma noite numa barraca tendo feito contatos com o lobo-guará, um cão de selvagem de perna fina que costumava rondar o acampamento à noite procurando comida. E se, por acaso, algum visitante desavisado deixasse a barraca aberta com comida dentro o cachorro certamente “furtaria”.

Após passar o bar para outra pessoa e decidido dar continuidade aos meus estudos universitários na cidade de Nova Friburgo, resolvi tirar férias de verdade. Utilizei-me do que havia me restado na conta bancária e da venda do estabelecimento, de modo que saí passeando por vários lugarejos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. No mês de janeiro de 1999, aproveitei cada oportunidade para visitar novos pontos turísticos convencionais e também alternativos. Desta maneira, viajando sozinho, conheci Visconde de Mauá, Ilha Grande, São Tomé das Letras, Aiuruoca, Poços de Caldas, Mariana, Ouro Preto, Miguel Pereira e Paty do Alferes. Em muitos desses passeios, eu enchia a cara de cerveja, bebia vinho, uísque e até a pinga.

Tendo fixado minha residência em Nova Friburgo, no mês de fevereiro de 1999, também me propus a conhecer novos lugares pela região, tendo adquirido um mapa do município no posto de turismo da Prefeitura. Decidi que não iria parar de fazer turismo, mesmo que fosse para os locais mais próximos, sendo que o meu primeiro passeio foi para a região de Lumiar, São Pedro da Serra e Boa Esperança, de onde retornei embriagado, conforme costumava ficar em Ibitipoca e nas noitadas de Juiz de Fora.

Desta vez, contudo, tive a sorte de conhecer um vizinho frequentador do AA que me encorajou a deixar o vício da embriaguez de uma vez por todas (hoje consigo beber socialmente). E, radicalmente, parei com o consumo de bebida alcoólica por uns 5 anos, o que foi suficiente para desintoxicar o meu organismo, sendo que nunca mais tornei a me embriagar como antes. E, além dos incentivos de meu vizinho, também tive a felicidade de conhecer minha esposa Núbia em alguns dias depois de ter conhecido Lumiar.

A ocasião em que conheci Núbia foi também num desses locais alternativos que eu costumava visitar. Já havia ouvido falar de um lugar chamado Sana que fica nas serras macaenses, não muito distante de Casimiro de Abreu e de Lumiar. Então, após ter me informado sobre como chegar lá, resolvi sair caminhando pela RJ-142 a partir de Lumiar, andando e pegando carona. Na época, a rodovia Serramar ainda não era pavimentada e tinha fascinantes pontes de madeira, de modo que transitar por lá ainda era uma verdadeira aventura e muito mais seguro depois do asfaltamento feito no governo da Rosinha.

Ao chegar no Sana, fui conhecer o Bar do Jamaica, um dos locais mais exóticos do arraial. Porém, nenhuma cerveja ou taça de vinho tomei, tendo me limitado a um copo de mate. Lá eu conheci Núbia com quem novamente me encontrei na noitada daquele mesmo dia. E, a partir então, o nosso relacionamento começou.


Sana é um lugar fantástico, cheio de cachoeiras e de fragmentos preservados de Mata Atlântica secundária. Foi desmatado na época do ciclo do café, produziu bastante banana na década de 70 e, finalmente, foi descoberto por hippies e pessoas alternativas. Quando fui lá pela primeira vez, no Carnaval de 99, o local estava lotado de turistas, sendo a maioria pessoas do Rio de Janeiro e de Niterói. Núbia era mais uma visitante que veio de Niterói.

Posso dizer que Núbia fez uma enorme diferença na maneira como eu observava os “lírios do campo”. Com ela eu tive que frear a minha compulsão por apenas querer conhecer lugares novos e então comecei a prestar mais atenção nos detalhes. Meus olhos, que até então fixavam-se nas grandes paisagens, passaram a identificar a beleza dos ambientes menores e nos seus elementos. Núbia me ensinou a observar com mais carinho as plantas menores, os animais da floresta, as borboletas e também as pessoas.

De volta a Nova Friburgo e precisando recuperar-me da gastança de janeiro, tive que me contentar com o turismo interno. Com o mapa turístico da Prefeitura, percorri não somente os pontos turísticos principais, mas também os locais não divulgados. Além de Lumiar e de São Pedro da Serra, pesquisei passeios pelas regiões de Três Picos de Salinas, Cascatinha, Amparo, Riograndina, Macaé de Cima, Rio Bonito de Lumiar e Toca da Onça. Descobri acidentalmente a prática do trakking, fazendo travessias de uma localidade a outra em que, muitas das vezes, precisava percorrer uma trilha no meio da floresta. Em maio de 99, subi pela primeira vez o Pico da Caledônia com seus 2.218 metros de altitude.

Tendo visitado vários lugares de Nova Friburgo, meus novos roteiros passaram a ser Cachoeiras de Macacu. Por acaso, descobri na internet que o município vizinho, onde os ônibus da 1001 faziam breves paradas na viagens para o Rio de Janeiro, esconde incríveis belezas naturais nas suas serras, além de um passado histórico bastante curioso. No site que eu pesquisei havia inúmeros roteiros sobre cachoeiras, informações sobre um jequitibá centenário perdido nas matas, picos elevados para serem conquistados, ruínas históricas da gloriosa época do café, o caminho desativado uma ferrovia construída no século XIX atualmente sem os trilhos e o nome de um guia amador conhecido popularmente como Jorge “Passarinho”, o homem que explorou muitos desses locais.

Um dia, após ter tentado chegar a uma distante cachoeira de 40 metros de queda escondida nas florestas de Guapiaçu, procurei pelo Passarinho quando retornei a Cachoeiras de Macacu sem nunca tê-lo conhecido antes pessoalmente e daí começamos nossa amizade.

Junto com Passarinho, desbravei uma trilha que vai da localidade de Castalha até à região de Guapiaçu. Foi umas das mais belas travessias que fiz até hoje aqui pelas serras fluminenses, o que posso considerar como um verdadeiro mergulho no verde. Ali, fazendo passeios deste tipo, finalmente eu estava realizando um antigo desejo de infância quando viajava de ônibus pela BR-040 do Rio para Petrópolis.


Passarinho é uma cara fenomenal! Ele não só conhece as matas de Cachoeiras de Macacu como também defende causas ambientais. Quando eu ainda era uma criança, ele já promovia concursos de voo livre e de asa delta na Pedra do Colégio. Também sempre foi atuante na área cultural pelo que fundou a popular festa do Rock Noel no começo dos anos 80. E, além disso, procurou resgatar a história e as lendas de seu município.

Todas essas experiências despertaram em mim uma forte paixão pela natureza. Comecei a descobrir um novo mundo que sempre estava ao meu lado, mas que passava desapercebido pelos meus olhos. O próprio ambiente urbano que até então eu percebia como algo desconectado da natureza, passei a compreender como uma edificação dentro de um ambiente natural.

Não demorou muito para que eu me tornasse um “ambientalista” (foi um professor de Direito Constitucional da faculdade que pela primeira vez me identificou com este termo). Como as caminhadas se tornaram o meu esporte favorito e o contato da natureza passou a fazer parte da minha vida, agonizei junto com as árvores quando começaram as terríveis queimadas nos meses de agosto e setembro de 99. Indignado, eu não me conformava em ver os morros de Nova Friburgo pegando fogo e daí comecei a defender a criação de um corredor de biodiversidade na região, o que ainda era um conceito muito pouco conhecido. Então, resolvi elaborar um site e hospedá-lo num provedor local afim de divulgar as minhas primeiras ideias.

Como consequência de meu novo envolvimento, acabei fazendo da ecologia uma espécie de "religião". Não que eu saísse por aí adorando cristais ou abraçando árvores. Nada disso! Mas a minha vida espiritual, pouco ativa nesta época quanto à frequência da igreja, extraiu da observação da natureza importantes ensinamentos que me levaram a um conhecimento de mim mesmo e do outro. Reconheci o quanto havia magoado as pessoas da família nos meus tempos de rebeldia, quando tratava mal o meu avô e cheguei a praticar um delito quando ainda estudava Administração na Universidade Federal de Juiz de Fora tornando amargos os dias de sua velhice aos 80 anos.

Por outro lado, meus novos interesses pela defesa da natureza reaproximaram-me da política. Em 1993, cursando o 2º grau em Juiz de Fora, cheguei a militar por uns tempos na política estudantil secundarista. Em 2001, participei de um movimento contra a instalação de uma pequena central hidrelétrica no rio Macaé pretendida pelo Grupo Monteiro Aranha. Depois, acompanhei até 2003 o processo de criação de dois comitês de bacia hidrográfica na região, passando a representar uma ONG – o Instituto Planeta Vivo – junto ao Consórcio Intermunicipal MRA5.

Não fui eu quem criei o Planeta Vivo, pois a ONG já existia desde a época em que havia chegado a Nova Friburgo. E foi numas das reuniões sobre comitês de bacia que fui estabelecendo contatos com Juão Tavares. Formado nas áreas de ciências econômicas e de psicologia, Juão tornou-se um dos proprietários do Gaia, um sítio na localidade de Boa Esperança adquirido por ele e seus sócios no início dos anos 90. E, com persistência, ele fundou a ONG e lutou por vários anos defendendo o meio ambiente até que, em 2003, cansou-se da causa.

No entanto, apesar de tanto envolvimento com a política ambiental, eu já estava deixando de olhar para os lírios do campo. Viajava para participar de reuniões em que políticos e representantes de ONGs muitas vezes estavam defendendo seus próprios interesses ou discutindo o sexo dos anjos, sendo que eu também, num determinado momento, estava mais interessado em captar recursos para projetos ambientais do que para pensar em assuntos ecológicos. Para satisfazer as vaidades dos prefeitos, os locais das reuniões eram definidos aqui ou ali, sendo que a Prefeitura de Macaé esbanjava recursos públicos promovendo eventos de aparência e procurando influenciar a seu modo nas posições do grupo de trabalho.

Num certo momento, assim como Juão, também me cansei da politicagem ambiental, muito embora reconhecesse a importância dos comitês de bacia hidrográfica como um organismo capaz de incentivar o debate com as comunidades. Então, enquanto ia perdendo o interesse pela coisa, fui retornando às caminhadas junto à natureza, tendo, desta vez, explorado lugares nas serras de Macaé e de Trajano de Moraes. Caminhando quase sempre sozinho, fui até a represa de Tapera, às cabeceiras do rio Sana, à região de Bicuda (visitei lá um pequeno assentamento de sem terras), além de conhecer Frade, Glicério e Sodrelândia. Ficava às vezes vários dias fora de casa viajando por lugares ainda pouco divulgados no meio turístico em que eu dependia apenas dos meus dois pés para locomover-me.

Familiarizado com os hábitos do homem do campo, eis que, nesta época, eu já me encontrava acostumado a cumprimentar quem encontrasse a pé pelas estradas. E, sem nenhum medo, atravessava propriedades rurais sabendo que nessas regiões é a coisa mais normal do mundo obter passagem por dentro de uma fazenda em razão do uso de servidões sendo que, não raras vezes, era convidado por algum morador da roça para tomar um café em sua casinha humilde.

Em algumas caminhadas Núbia chegou a me acompanhar, o que ocorria com mais frequência entre os anos de 1999 a 2001. Juntos, nós tivemos aventuras incríveis, mas também passamos por enormes apertos. Certa vez, ficamos perdidos nas florestas de Cachoeiras de Macacu numa fria noite de outono até sermos encontrados por dois caçadores. E, no caminho de Cascatinha para São Lourenço, que uns chamam de “Trilha do Barão”, quase fomos mordidos por um fila. No Pará, enfrentamos mais de 500 quilômetros na Transamazônica de Marabá até Altamira e, partindo de Gurupá, no rio Amazonas, o barco em que estávamos quase que colidiu com outra embarcação durante uma sofrida tempestade na Baía de Belém.

Em nenhum desses passeios preocupei-me em levar máquina fotográfica. Núbia sempre se interessou por fotos, mas, quando eu estava caminhando sozinho, considerava que era um peso a mais carregar a máquina, pois a busca desenfreada por querer registrar o momento pode prejudicar o aproveitamento do presente, sendo que esta posição até hoje eu mantenho.

Contudo, os meus esforços finais para sair da faculdade, o começo do trabalho com a advocacia e, mais tarde, o casamento, o encarecimento das coisas e os problemas de saúde de Núbia puseram obstáculos aos frequentes passeios que antes fazia junto à natureza. Daí em diante, foram poucas as andanças e quase sempre caminho por lugares já conhecidos, situados bem próximos de casa.

Atualmente, poucas horas passo fora de casa e, quando resolvo programar uma caminhada tornou-se algo raro. Porém, não posso reclamar da minha vida, a qual é muito boa quando vejo por aí o que de fato é o sofrimento humano. E, afinal, tudo posso Naquele que me fortalece.

Além disso, onde estaria a minha contemplação acerca dos “lírios do campo”? Será que precisarei escalar o Aconcágua, mergulhar nas águas do Mar Vermelho ou visitar as savanas africanas com seus elefantes, girafas, zebras, crocodilos, hipopótamos e guepardos para conseguir ouvir a voz de Deus falando através da natureza? E será que os viajantes de lugares exóticos conseguem sempre perceber a beleza que há na simplicidade das coisas?

Aqui no meu apartamento, situado no centro da cidade de Nova Friburgo, inúmeras vezes a natureza me convida para um bate-papo. Pode ser através de um banho de sol no terraço do condomínio que fica ao lado de minha varanda. Ou quando alguns pássaros vêm alegrar meu ambiente com seus cantos, mesmo em meio à poluição da urbes. Ou ainda através de minha gata que, em meus momentos mais estressantes, resolve pedir a minha atenção roçando pelas minhas pernas enquanto tento apressadamente terminar determinadas atividades.

Acredito que todos nós podemos contemplar as coisas mais simples que Deus nos deu, o que independe dos problemas que enfrentamos, da carga de trabalho, da falta de recursos financeiros ou das limitações físicas. Contudo, o que realmente nos impede de prestar a atenção nas “aves do céu” ou nos “lírios do campo” são as preocupações cotidianas que nós mesmos cultivamos lá no íntimo pela nossa falta de confiança no Deus que nos ama e tudo pode.

Jesus, quando proferiu tais palavras no Sermão do Monte, certamente, não estava apenas demonstrando os cuidados de Deus com os homens, numa restrita comparação com os pássaros ou com os lírios. Ele também mandou que seus ouvintes prestassem atenção na natureza.

Se buscarmos contextualizar como era a vida nos tempos de Jesus, os seus ouvintes na Galileia, mais do que nós, teriam todos os motivos do mundo para viverem preocupados, ansiosos, frustrados e desgostosos com relação à vida. E, pensando assim, podemos imaginar o quanto aquelas palavras são transcendentes.


Como se sabe, a Palestina havia sido incorporada pelo Império Romano, o qual impunha pesados tributos à população dominada. Naqueles tempos, não se respeitava a capacidade econômica do contribuinte e, mesmo se a colheita não fosse tão generosa, ou se o Mar da Galileia não produzisse tantos peixes, os impostos deveriam ser pagos a César de qualquer jeito. A corrupção dos soldados, dos governantes e dos publicanos era tanta que muitas das vezes cobrava-se mais do que Roma realmente exigia. Praticava-se também o castigo físico através da pena de açoites. Revoltas dos zelotes aconteciam com frequência e muita gente inocente sofria as piores injustiças. Se alguém contraísse a doença da lepra era logo tido por imundo e banido do convívio social.

Vivendo nesse ambiente hostil de miséria, opressões, torturas e enfermidades, Jesus teria motivos de sobra para ter se tornado mais um homem angustiado, frustrado e triste, conforme nos ensina Augusto Cury em seu best-seller “Análise da inteligência de Cristo”. Porém, não é uma mensagem derrotista que encontramos nas quatro “biografias” de Jesus - os Evangelhos. Apesar de todos os graves problemas que o Senhor testemunhava cotidianamente, ele expressava amabilidade, ternura, compreensão, tolerância com as crianças e ainda procurava ocasiões para observar as aves do céu e os lírios do campo.

Pode-se dizer que a vida de Jesus é o maior exemplo do que é praticar o Evangelho, mostrando que nós também podemos seguir seus passos. Pois, embora Ele seja Deus, visitou o nosso planeta na condição de homem, ficando vulnerável aos mesmos sentimentos de tristeza e de dor aos quais também estamos sujeitos. Porém, o Senhor não foi refém dos acontecimentos ruins que experimentou, pois sabia muito bem como proteger e trabalhar as suas emoções.

Embora ainda tenha muito para tratar a respeito do tema (os lírios do campo), prefiro encerrar meu texto por aqui e compartilhar estas reflexões: será que, mesmo nos momentos mais difíceis, não podemos ser capazes de por de lado os problemas por um instante e prestarmos mais a atenção no que Deus está dizendo através da natureza? Mesmo diante de uma perda, a beleza de uma flor não permanece digna de ser contemplada? O que pode nos acrescentar as preocupações e o cultivo da angústia?

2 comentários:

  1. Olá Rodrigo, pesquisando sobre Cachoeiras de Macacu,encontrei seu blog. Estou procurando casa para alugar, e estou pesquisando sobre este município, mas nada se acha objetivamente, nenhuma imobiliaria local encontrei. Gostei do seu blog e voltarei, eu também morei no Grajaú, subi o Bico do Papagaio, e fiz treino de alpinismo/montanhismo no parque do Grajaú. Um abraço. Wilma, www.vievivi.blogspot.com

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  2. Oi, Wilma, acho Cachoeiras de Macacu um lugar muito bonito e que nos proporciona um verde bem intenso, típico das encostas úmidas da Serra do Mar onde o calor e a chuva são abundantes. Se conseguir algo nas localidades de Castália ou Boca do Mato acredito que irá gostar e poderá tomar banho de rio na maior parte do ano. Abraços e participe sempre que desejar.

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