Recentemente, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou planos para “atualizar” a Doutrina Monroe — política que há dois séculos define a relação dos EUA com a América Latina. Segundo o próprio governo americano, trata-se de uma estratégia para reafirmar a presença e influência dos EUA no Hemisfério Ocidental, em um contexto de crescente competição geopolítica, sobretudo com a China.
A Doutrina Monroe, formulada em 1823, nasceu como uma promessa de proteção aos países americanos contra colonizações europeias. No entanto, a história mostrou que, à medida que os Estados Unidos se tornaram potência mundial, a Doutrina foi reinterpretada para justificar interferências políticas, econômicas e militares na região. O Corolário Roosevelt, lançado há exatos 121 anos, é o exemplo clássico: sob o pretexto de manter a ordem, os EUA se deram o direito de intervir sempre que considerassem governos latino-americanos instáveis ou incapazes, inaugurando uma longa tradição de hegemonia e ingerência.
O que Trump propõe hoje tem claros ecos desse passado. O documento de sua administração sugere ampliar a presença militar no Caribe e em regiões estratégicas da América do Sul, condicionar investimentos e ajuda a interesses americanos e limitar a influência de potências fora do Hemisfério, como China e Rússia. Trata-se de uma forma moderna de “polícia hemisférica”, travestida de defesa da segurança regional, mas que, na prática, ameaça diretamente a soberania dos países latino-americanos.
Para o Brasil e demais nações da América Latina, essa reedição da Doutrina Monroe representa um risco duplo: além da possibilidade de pressão política e militar, há um componente econômico estratégico. Ao priorizar empresas e interesses americanos na região, os EUA tentam reduzir a liberdade dos países de buscar suas próprias parcerias internacionais, restringindo sua autonomia e capacidade de decidir seus caminhos de desenvolvimento.
Em outras palavras, o “Corolário Trump” não é apenas uma retórica de poder, mas uma tentativa de restaurar um padrão histórico de dominação externa. A experiência do século XX nos mostra que esse tipo de intervenção gera dependência econômica, instabilidade política e ressentimento popular, deixando claro que a soberania nacional não é um conceito negociável quando confrontado com interesses de grandes potências.
Diante desse cenário, a reação da América Latina precisa ser firme. É fundamental fortalecer organismos regionais que promovam integração, autonomia e respeito mútuo, como a CELAC, e reforçar alianças internacionais equilibradas, sem subordinação a uma única potência. O Brasil, por sua dimensão e peso estratégico, tem papel central em defender um Hemisfério Ocidental livre de hegemonias externas, garantindo que a Doutrina Monroe continue sendo um capítulo do passado — e não uma ameaça renovada ao futuro da região.


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