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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Por que a legalização das drogas pode reduzir o sofrimento do dependente e de sua família



Como defensor de uma política mais flexível sobre drogas, já fui várias vezes questionado com uma indagação que impacta profundamente: “Você gostaria de ter um filho seu viciado?” A pergunta, dura e direta, corta qualquer discurso político ou acadêmico, pois toca na essência do medo e da dor de um pai ou mãe.

Corajosamente, este artigo vai abordar essa questão delicada: diante de tal infortúnio hipotético, é preferível encarar o sofrimento do filho em um país onde a droga seja legalizada ou descriminalizada? Minha resposta, embasada em dados concretos e experiências internacionais, é que a legalização ou descriminalização reduz significativamente os riscos e o sofrimento associados à dependência química.

Em países proibitivos, o dependente vive constantemente sob pressão legal e social. Ele se esconde, teme a prisão e o estigma, e muitas vezes evita procurar ajuda médica ou psicológica por medo de represálias. A família, por sua vez, convive com a culpa, o segredo e a frustração, incapaz de apoiar adequadamente o ente querido sem receio de envolvê-lo em problemas com a lei.

Contrastemos isso com exemplos reais:


  • Portugal, que descriminalizou todas as drogas em 2001, viu uma redução drástica nas mortes por overdose, de 80 por milhão de habitantes para menos de 10 em cerca de uma década. Usuários passaram a buscar tratamento sem medo de serem presos, e famílias puderam apoiar seus filhos de forma mais aberta, com acompanhamento médico e programas de redução de danos.
  • Nos Estados Unidos, estados como o Colorado, onde a maconha foi legalizada em 2012, observaram queda significativa nas prisões por uso de drogas e melhor controle da qualidade dos produtos, reduzindo riscos de intoxicação ou adulteração. Mais pessoas procuraram ajuda voluntária, algo que seria muito mais difícil em um ambiente criminalizado.
  • No Uruguai e no Canadá, políticas de mercado regulado e educação pública proporcionaram às famílias a tranquilidade de saber que seus filhos têm acesso a drogas de qualidade controlada, além de orientação sobre riscos e suporte em caso de dependência.


A conclusão é clara: embora a dependência nunca deixe de ser um desafio pessoal e familiar, o sofrimento e os riscos são menores em ambientes onde a droga é legalizada ou descriminalizada. O dependente tem acesso a tratamento, menor risco de morte por overdose, menor estigma social e mais chances de reinserção social. A família, por sua vez, consegue apoiar de maneira mais saudável e efetiva, sem medo de represálias legais.

Encarar a hipótese de um filho viciado é doloroso, mas se esse infortúnio ocorrer, é humanamente preferível que ele viva em um país que prioriza saúde, educação e redução de danos em vez de punição e exclusão. Legalização não significa incentivo ao vício, mas sim proteção da vida, da dignidade e do bem-estar do dependente e de sua família.

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