Desde o momento em que um candidato à Presidência declara publicamente que sua candidatura pode ser barganhada — “tem preço para não ir até o fim” — como o próprio Flávio admitiu, acende-se um alerta grave sobre o grave problema da mercantilização da política.
Essa fala, longe de revelar sinceridade ou realismo político, escancara com clareza um desprezo pela democracia e pelos eleitores: a candidatura deixa de ser uma expressão de um projeto de país ou de propostas, e passa a ser tratada como objeto de negociação — uma “moeda de troca” de interesses pessoais ou de grupo. Isso transforma eleições em transações e compromete a legitimidade do debate público.
Além disso, há um profundo conflito ético e moral quando tal “preço de desistência” parece envolver a agenda de anistia aos condenados por participação em atos golpistas — o que beneficiaria, conforme ele mesmo sugeriu, pessoas condenadas por atentados à democracia. Ao fazer isso, Flávio não está propondo debate político: está propondo chantagem institucional, negando o devido valor da lei, da justiça e da vontade popular expressa nas urnas.
Essa estratégia revela uma visão de poder profundamente instrumental: não se busca conquistar corações ou convencer com ideias, mas chantagear o sistema, usar a candidatura como moeda de troca para garantir impunidade ou privilégios. Isso não é compatível com a ideia de serviço público — é a negação da política como mecanismo democrático e civilizado.
Por fim, a própria insegurança demonstrada — de já considerar a possibilidade de desistir da disputa — expõe fragilidade de convicção. Se a candidatura depende de negociações de bastidores para existir ou não, como acreditar que um eventual mandato seria pautado por firmeza de princípios, e não por interesses de conveniência?
Em resumo: ao declarar que sua pré-candidatura tem preço, Flávio Bolsonaro sinaliza que vê a democracia como comércio e a eleição como leilão — e não como um processo de escolha popular. Essa postura não merece respeito, mas desconfiança.


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