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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Onde Deus escolhe nascer: simplicidade, silêncio e coragem no Natal


Entre o fogo da lenha e o silêncio da espera


O Evangelho de Lucas narra que Jesus nasceu longe dos palácios e das grandes estruturas de poder, porque “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). O Filho de Deus vem ao mundo em uma manjedoura — sinal claro de que o divino se revela, antes de tudo, na simplicidade, no que é pequeno, no que não chama atenção.

O Natal, porém, muitas vezes nos encontra no extremo oposto dessa cena: agendas cheias, listas intermináveis, ansiedade por dar conta de tudo. A festa corre o risco de se tornar barulho. É nesse ponto que a literatura e a espiritualidade se encontram para nos alertar.

João Guimarães Rosa descreve com precisão esse movimento inquieto do cotidiano:
O correr da vida embrulha tudo, esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
Coragem, talvez, para não se deixar engolir pela pressa — especialmente no Natal.

Rubem Alves, por sua vez, aponta o caminho com delicadeza:
A alegria só mora nas coisas simples.
Não é por acaso que o Natal começa numa manjedoura. Deus escolhe nascer onde a vida é despojada, onde há espaço para o silêncio, para o cuidado e para a presença.

A imagem de um bule de café aquecendo lentamente no fogão a lenha ajuda a compreender essa espiritualidade. Não há urgência ali. A água ferve no tempo certo. O café é passado com calma. É nesse ritmo que a alegria se deixa encontrar — e talvez seja nesse mesmo ritmo que Deus continua a nascer.

Que, às vésperas do Natal, a gente tenha a coragem espiritual de desacelerar, simplificar e reconhecer o essencial. Afinal, foi no simples que tudo começou.

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