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domingo, 21 de dezembro de 2025

Natal: celebrar a vida, a solidariedade e a "humanização de Deus"

 

Adoração dos Magos, de Bartolomé Esteban Murillo


O teólogo Leonardo Boff, em seu artigo “Natal: a humanização de Deus”, nos lembra que o Natal é muito mais do que luzes, presentes e ceias: é o momento em que Deus assume nossa condição humana, se aproxima de nós e nos revela a dignidade de cada pessoa.

Ao nascer na humildade de uma estrebaria, ao lado de Maria e José, Deus nos mostra que a verdadeira grandeza está na solidariedade, no cuidado com os vulneráveis e na proximidade com quem mais precisa.

Os presentes dos magos — ouro, incenso e mirra — carregam símbolos que vão muito além da narrativa bíblica. O ouro representa a realeza ética, um convite a liderar com justiça e responsabilidade; o incenso remete à divindade que se manifesta na vida humana; e a mirra nos lembra que a verdadeira missão envolve entrega e compromisso, mesmo diante do sofrimento. Esses símbolos nos inspiram a refletir sobre nossas escolhas, nossas relações e a missão que cada um de nós tem na sociedade.


O Natal visto pela ciência

A mensagem de Boff dialoga com a ciência de maneira profunda:


  • Psicologia: promove empatia, solidariedade e reconhecimento da dignidade humana, fortalecendo vínculos familiares e comunitários.
  • Sociologia: mostra como tradições e práticas coletivas, como o Natal, fortalecem coesão social, inclusão e atenção aos vulneráveis.
  • Política: princípios éticos e justiça social podem transformar estruturas e garantir que todos sejam respeitados e amparados.


O Brasil e a humanização social


A Adoração dos Pastores, de Gerard van Honthorst

Nossa legislação, políticas públicas e programas sociais existem para proteger e incluir, mas muitas vezes enfrentam burocracia e desigualdade de acesso. O INSS cumpre papel essencial ao garantir direitos econômicos, mas atrasos e dificuldades comprometem a função humanizadora. A Justiça protege direitos, mas lentidão e disparidade de tratamento ainda mostram lacunas.

Como sociedade, convivemos com desigualdade, violência e individualismo, mas ações voluntárias e comunitárias demonstram que é possível agir com solidariedade e ética.


O papel das igrejas cristãs 

As igrejas e grupos religiosos cristãos sempre tem algo a contribuir para a celebração real da vida, a solidariedade e a humanização, muito embora muitas vezes todos possam acabar se afastando da essência da Evangelho.

  • Católicos: Pastoral social, cuidado com os pobres e atenção às comunidades refletem a mensagem de Boff, apesar do ritualismo às vezes se sobrepor à ação social.
  • Evangélicos: Amor e projetos comunitários refletem solidariedade, mas o foco em prosperidade ou crescimento institucional pode reduzir a prática social.
  • Espíritas kardecistas: Caridade e ética social estão alinhadas com Boff, ainda que o foco na evolução individual nem sempre gere ação coletiva estruturada.
  • Esotéricos cristãos: Valorizam experiência pessoal do divino, mas a prática social organizada nem sempre é prioridade.


Relações pessoais, familiares e conjugais

Cada abraço, conversa, gesto de carinho, reunião familiar ou ceia compartilhada é expressão do cuidado e da atenção ao outro. Nas relações com o cônjuge e com os entes queridos mais próximos, a mensagem de Boff inspira humildade, entrega e generosidade, mostrando que o espírito do Natal se manifesta não apenas em datas comemorativas, mas no dia a dia.


Celebrar o Natal todos os dias

Celebrar o Natal não se limita a acender luzes ou trocar presentes. É acolher o outro, lutar por justiça e praticar solidariedade — nas relações pessoais, familiares, institucionais e sociais. É transformar o espírito do Natal em ações concretas todos os dias, vivendo os princípios representados pelo ouro, pelo incenso e pela mirra: liderança ética, espiritualidade ativa e entrega comprometida.

Que este Natal nos inspire a praticar a alegria, a compaixão e a solidariedade ao longo de todo o ano, valorizando tradições, celebrando a vida e construindo uma sociedade mais humana, justa e próxima daquilo que Boff nos ensina: um Deus que se humaniza e nos chama a fazer o mesmo.


📝 Nota explicativa sobre “humanização de Deus”

Quando Boff fala em “humanização de Deus”, ele não quer dizer que Deus se torna limitado ou menor. Trata-se do mistério da encarnação: Deus se faz humano em Jesus, vivendo nossas fragilidades, alegrias e sofrimentos, e mostrando que cada pessoa possui dignidade, valor e capacidade de amar e transformar o mundo. É um convite para reconhecermos a presença do divino em nossa própria humanidade e nos outros.

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