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sábado, 13 de dezembro de 2025

Tudo o que vivi me trouxe até aqui



Costuma-se dizer que ninguém pensa o mundo a partir do nada. A forma como enxergamos a política, o trabalho, as instituições e as pessoas é fruto de experiências acumuladas ao longo do tempo — algumas marcantes, outras aparentemente banais, mas todas formadoras.

Minha trajetória não foi linear, nem previsível. E, talvez, por isso mesmo ela tenha sido tão determinante na construção do meu olhar.

Na infância e adolescência, vivi realidades distintas. Passei por bairros urbanos da Zona Norte do Rio, como o Grajaú, experimentei a vida em cidades serranas como Petrópolis e mais tarde Nova Friburgo, e convivi com dinâmicas muito diferentes entre capital, interior e regiões de transição. Essas vivências iniciais moldaram algo fundamental: a percepção de que políticas públicas não impactam todos da mesma forma e que território, cultura e contexto importam — muito.

Já adulto, ao morar em Nova Friburgo por mais de uma década, aprofundei essa compreensão. Foi ali que participei de debates ambientais, sociais e institucionais mais estruturados, inclusive contribuindo, ainda na época da faculdade, para a formação do Comitê de Bacia do Rio Macaé, por meio da atuação na ONG Planeta Vivo. A experiência de acompanhar a construção de uma instância de governança participativa, envolvendo múltiplos municípios e interesses conflitantes, foi decisiva para entender como decisões técnicas se tornam disputas políticas e como o diálogo é, muitas vezes, o único caminho possível.

Essa visão se consolidou mais tarde com a experiência profissional em Engenheiro Paulo de Frontin, no âmbito do Consórcio de Resíduos Sólidos Centro Sul. Trabalhar em um consórcio intermunicipal é lidar, diariamente, com a complexidade do Estado real: diferentes prefeitos, prioridades divergentes, limitações orçamentárias, pressões políticas e desafios técnicos que não cabem em discursos fáceis. Ali, aprendi que boas intenções não bastam e que políticas públicas exigem articulação, método e persistência.

Outras experiências também ampliaram meu horizonte. Morar por um período em Juiz de Fora, em outro estado, permitiu observar uma cultura política distinta da fluminense e compreender melhor como decisões estaduais e federais reverberam de formas diversas pelo país. Ter familiares vivendo em Brasília reforçou uma percepção importante: aquilo que é decidido nos grandes centros de poder nunca é abstrato. Afeta vidas concretas, famílias, territórios e histórias.

Hoje, vivendo em Mangaratiba, mais especificamente em Muriqui, todas essas experiências fazem sentido em conjunto. Elas não me afastaram do território; ao contrário, ajudaram a enxergá-lo com mais profundidade. Entender o Estado como sistema, as regiões como partes interdependentes e a política como processo — e não como evento isolado — é resultado direto desse caminho percorrido.

Não acredito em visões prontas nem em soluções mágicas. Acredito em aprendizado contínuo, em escuta e em responsabilidade. Tudo o que vivi me trouxe até aqui não como ponto de chegada, mas como ponto de consciência: a certeza de que pensar o futuro exige memória, experiência e disposição para compreender a complexidade do presente.

E é a partir desse acúmulo — humano, profissional e político — que sigo refletindo, trabalhando e dialogando sobre os rumos que escolhemos enquanto sociedade.


OBS: Imagem acima extraída de https://secure.avaaz.org/po/petition/INEARJ_MMA_MPRJ_ALERJ_PMNF_APAEMCCBHMacae_PMNF_PMM_PMCA_Nao_autorizem_a_instalacao_de_hidreletricas_no_Rio_Macae/?sXndGeb

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