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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Bicentenário do nascimento de D. Pedro II

 


No dia 2 de dezembro de 1825, nascia no Paço Imperial de São Cristóvão — no Rio de Janeiro do Brasil-Império — o príncipe que viria a se tornar D. Pedro II. Filho de D. Pedro I e da imperatriz Maria Leopoldina de Áustria, o menino trazia no berço os nomes e as expectativas de uma nação jovem, ainda em formação. Quando seu pai abdicou em 1831, com apenas cinco anos de idade, Pedro foi proclamado herdeiro — assumindo a coroa, de fato, pouco tempo depois, por um golpe político que antecipou sua maioridade.

Entretanto, não é a cerimônia monárquica que desejo celebrar aqui — e sim o que aquele nascimento simbolizou: o começo de uma história no Brasil marcada por transformações profundas, modernização e alguma ambição de progresso. Mesmo para quem, hoje, vê no republicanismo um caminho de justiça e igualdade, avanço este que não abro mão, é possível reconhecer que o Brasil sob Pedro II colheu frutos estruturais importantes.


📈 O Brasil se ergueu — politicamente e economicamente

Sob o reinado de D. Pedro II, abriu-se uma era relativamente longa de estabilidade política e institucional, notável no contexto latino-americano da época. A economia brasileira, centrada na agroexportação, encontrou no café seu grande motor: o produto se consolidou como principal item de exportação nacional, impulsionando um crescimento vigoroso. Esse dinamismo econômico permitiu a ampliação das receitas públicas, a emergência de novas elites e o surgimento de classes médias urbanas — um alicerce para o Brasil emergente.

Para permitir que a economia se expandisse e o país se integrasse de fato — não apenas geograficamente, mas institucionalmente —, foram traçadas ferrovias, melhorados portos, instaladas linhas telegráficas e fomentada a infraestrutura de transportes e comunicação. A malha ferroviária, os correios, os telégrafos, os portos — todos esses elementos técnicos e logísticos constituíram a base de um Brasil conectado e mais moderno, um Brasil disposto a romper com a imobilidade colonial e atrasada.


🏫 Cultura, ciência e ideias: a aposta num Brasil de futuro

D. Pedro II era, acima de tudo, um homem erudito. Desde muito jovem, foi preparado para reinar com uma educação ampla — artes, línguas, ciências, humanidades — e, ao longo do reinado, manteve vivo esse espírito de curiosidade e aprendizado. Sob seu patrocínio, o Brasil ampliou investimentos em educação, cultura e ciência — sinais de uma nação que buscava mais do que lucros imediatos: buscava alma, identidade, progressos civilizatórios.

Esse empenho contribuiu para tornar o país menos atrasado em termos relativos, elevando a aspiração coletiva, valorizando idéias, incentivando debates, ciências e artes. Mesmo que a alfabetização permanecesse limitada, iniciativas e instituições educacionais floresceram — um passo (ainda que pequeno) rumo a um Brasil mais letrado, culto, menos dependente exclusivamente da lógica agrária.


⚖️ Escravidão, imigração e os limites de um tempo — com ganhos sociais e contradições

Durante o reinado de D. Pedro II, começou um processo, ainda que lento e imperfeito, de desmonte da escravidão no Brasil. A importação de novos escravos foi formalmente proibida em 1850 com a Lei Eusébio de Queirós, assinada sob o governo imperial. Depois vieram outras leis progressistas — a Lei do Ventre Livre (1871), a Lei dos Sexagenários (1885) — até a abolição definitiva, ainda que sob regência de sua filha, com a Lei Áurea (1888).

Embora muitos críticos justos apontem os limites dessa transição — a demora, a resistência da elite agrária, as injustiças sociais herdadas —, esse conjunto de medidas representa uma guinada moral e histórica: o Brasil começou a se aproximar de um ideal de liberdade, dignidade e direitos humanos. Para um republicano consciente, há grande valor simbólico e real em ver esse país inaugurando a era da liberdade formal, mesmo que a igualdade concreta ainda estivesse distante.

Além disso — para suprir a força de trabalho e seguir com a economia cafeeira — o país passou a incentivar a imigração europeia, integrando novos povos, culturas e realidades ao solo brasileiro. Isso contribuiu também para a formação de uma sociedade mais diversa, plural e aberta a transformações.


🌎 Um Brasil que se projetava — na diplomacia, na geopolítica, no reconhecimento internacional

Durante o Segundo Reinado, o Brasil não foi uma colônia desacreditada, mas um ator emergente no concerto das nações. Sob Pedro II, o país viveu momentos difíceis — como a Guerra do Paraguai (1864–1870) — mas também demonstrou capacidade militar, diplomática e administrativa. A consolidação das fronteiras, a modernização das forças armadas, o esforço por manter a unidade nacional em um contexto continental turbulento… tudo isso contribuiu para que o Brasil começasse a entrar no século XX não mais como um território fragmentado ou periférico, mas como uma nação com pretensões, ambições e identidade.


🤔 Um legado para a República — reconhecimento dos avanços e superação das contradições

Hoje, vivendo sob a forma republicana, podemos olhar para o nascimento e o reinado de D. Pedro II com olhar crítico — reconhecendo contradições, injustiças e os limites da monarquia. Mas também com gratidão histórica: muitos dos alicerces institucionais, econômicos, culturais e sociais do Brasil contemporâneo foram lançados ou refinados nesse período.

O Brasil que se imaginava durante aquele reinado — diverso, conectado, voltado para a educação e o progresso — não foi um paraíso, mas foi um terreno fértil. Daquelas ferrovias que cruzavam o país aos diálogos científicos e culturais fomentados nos salões, dos riscos de guerra à ousadia diplomática, da lenta abolição à entrada de imigrantes, forjou-se uma nação complexa, plural, em construção.

Que possamos, como republicanos, reconhecer os méritos do passado — não por nostalgia fácil, mas com consciência histórica — e levar adiante os valores de liberdade, justiça social e desenvolvimento civilizatório, honrando aqueles esforços, corrigindo suas falhas e olhando sempre rumo ao futuro.


📷: Retrato de D. Pedro II, feito em 1875, por Delfim da Câmara (1834 - 1916), quando o monarca tinha 49 anos.

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