A Costa Verde, reconhecida internacionalmente por suas praias, trilhas, ilhas e áreas de preservação ambiental, pode estar diante de uma oportunidade estratégica que redefiniria a forma como turistas — nacionais e estrangeiros — vivenciam a região.
A proposta do conceito “Costa Verde – Um só destino” vai além da simples promoção conjunta: trata-se de articular um corredor turístico e aquaviário que conecte Mangaratiba, Ilha Grande, Angra dos Reis e Paraty como parte de uma experiência contínua, e não mais como destinos isolados.
Hoje, milhares de visitantes chegam à Costa Verde por Mangaratiba ou Angra, passam pela Ilha Grande, seguem para Paraty e retornam às suas origens sem perceber que poderiam ter desfrutado de uma travessia integrada, com embarque ou desembarque planejado, pernoites programadas e experiências complementares em cada cidade. O que existe é um fluxo espontâneo, e não estruturado.
A proposta que defendo, entretanto, é transformar o deslocamento em produto turístico.
A ideia não seria inédita no mundo. Regiões mediterrâneas e caribenhas se tornaram referências justamente por transformar o mar em avenida cultural e ambiental. Se Capri, Positano e Amalfi compartilham turistas; se Mykonos e Santorini se revezam em perfumes, panoramas e gastronomias; se Tulum e Cozumel se conectam pela memória do mar — por que a Costa Verde não poderia se consolidar como rota única de natureza, história e gastronomia brasileira, atravessando três séculos de paisagens e culturas?
Mangaratiba sairia do papel de corredor e assumiria o protagonismo
Integrar um roteiro é mais do que somar pontos no mapa: é convocar o visitante a permanecer na Costa Verde. E é nesse ponto que Mangaratiba tem um papel essencial.
Hoje, a cidade recebe o fluxo, mas não necessariamente retém o turista. Com uma estratégia de turismo de rota, Mangaratiba deixa de ser apenas o primeiro passo rumo à Ilha Grande e passa a ser parte da jornada: cachoeiras próximas, praias de mar calmo, comunidades tradicionais, gastronomia litorânea e passeios ecológicos podem ocupar a primeira ou a última no site de quem visita a região — aumentando a permanência média, o gasto e o vínculo afetivo com o território.
Instituições de turismo: oportunidade de política pública e de marca regional
Para as instituições, a proposta representa:
- fortalecimento do destino por marketing conjunto;
- criação de um produto com identidade própria, reconhecível e exportável;
- distribuição geográfica e temporal do turismo, reduzindo sazonalidade;
- estímulo à formalização e qualificação da cadeia turística;
- viabilização de rotas aquaviárias regulares ou sazonais como opção sustentável;
- criação de oportunidades para pequenos empreendedores e turismo comunitário.
A marca “Costa Verde – Um só destino” pode ser adotada por consórcios de turismo, cooperativas, trade hoteleiro, setor náutico, agências receptivas e feiras internacionais — reforçando que o valor agregado está justamente na viagem integrada.
Itacuruçá e Ilha de Jaguanum — um futuro capítulo possível
Num segundo momento, a proposta poderá ampliar o corredor turístico com a inclusão de Itacuruçá e Ilha de Jaguanum — regiões que combinam tranquilidade, baías protegidas, praias pouco exploradas e uma vocação natural para turismo sustentável, cicloturismo, pesca esportiva e roteiros de observação de fauna e flora marinha.
Essa expansão se adaptaria ao conceito de turismo de baixo impacto e alto valor, alinhado às diretrizes de destinos que preservam seu patrimônio ambiental e evitam modelos predatórios de ocupação.
Um destino, muitos caminhos
Transformar a Costa Verde em um destino único não é apenas um slogan, mas uma nova forma de olhar para a economia do mar, para a história compartilhada e para o futuro sustentável da região.
O turista de hoje não viaja para ver lugares — viaja para viver percursos. E é nesse percurso que a Costa Verde encontra sua melhor história para contar.
📌 Nota — A reflexão sobre o transporte aquaviário apresentada neste artigo dialoga diretamente com o resgate histórico feito pelo professor Adinalzir Pereira, em sua postagem no Facebook (link: https://www.facebook.com/share/p/1EpV81fxHP/), na qual relembra o período em que as águas eram as “estradas naturais” que conectavam Santa Cruz, Sepetiba e todo o litoral da Costa Verde. Sua pesquisa mostra que, muito antes da abertura das rodovias, barcos de diferentes portes realizavam viagens regulares, transportando trabalhadores, mercadorias, pescadores e famílias, promovendo intercâmbio social e econômico entre comunidades. Essa memória histórica ajudou a inspirar a ideia de repensar, agora sob a perspectiva da mobilidade moderna, as possibilidades de revitalização do transporte marítimo regional.


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