O laboratório era silencioso, exceto pelo zumbido do núcleo quântico. Entre fios luminosos e painéis flutuantes, Dra. Mara Liang e Dr. Joren Kael ajustavam a última calibragem da máquina de tempo. Não era apenas uma máquina — era a ponte para o futuro, para eras que nenhum humano jamais ousara imaginar.
Um toque no painel, uma explosão de luz azul e eles se viram catapultados através do tempo. Cada segundo que passava era um milhão de anos comprimido, o universo se desenrolando à velocidade da mente.
Era 1: O futuro próximo (10 milhões de anos)
Primeiro, a Terra ainda era reconhecível. As florestas tropicais cobriam continentes que começavam a se unir novamente em um supercontinente chamado Amasia. Os oceanos se reorganizavam, criando mares longos e estreitos. Mara olhou para Joren:
Pequenos grupos humanos, descendentes dos nossos tempos, haviam aprendido a viver em harmonia com os novos ciclos. Mas Mara sabia que isso era apenas o começo.
Era 2: 500 milhões de anos
A Terra já não era mais a de hoje. Os continentes se fundiram em uma massa única, e vastos desertos ocupavam o interior. Mara e Joren apareceram no topo de uma montanha que antes fora oceano, agora seca, rachada pelo calor intenso.
No horizonte, torres de cidades humanas se erguiam como pequenos oasis de tecnologia. A humanidade havia se adaptado: estufas gigantes, cidades subterrâneas e luz artificial controlando os ciclos de sono.
A diversidade era impressionante, mas a unidade estava fragmentada.
Era 3: 1 bilhão de anos
O calor do Sol já se fazia sentir. Os oceanos evaporaram, e a superfície da Terra estava coberta por desertos radioativos. Mara e Joren flutuavam dentro de um habitat orbital, uma esfera de vidro e titânio protegida por escudos solares.
Eles viram habitats artificiais gigantes, cidades flutuantes orbitando estrelas moribundas, e naves cruzando lentamente para outros sistemas. A humanidade havia se tornado civilização galáctica, dispersa e resiliente.
Era 4: 4,5 bilhões de anos
O Sol estava prestes a engolir a Terra. Mara e Joren observaram o núcleo da estrela crescendo, expandindo-se em uma gigantesca bola de fogo. A Terra, agora apenas um esqueleto de rochas secas, brilhava sob o fogo do Sol.
No espaço, eles viram civilizações humanas entrelaçadas com inteligências artificiais, sondas autorreplicantes viajando para sistemas vizinhos, e naves intergalácticas partindo em direção a Andrômeda.
— Somos pequenos — disse Joren. — Mas sobrevivemos.
Era 5: 5 bilhões de anos
Eles se aproximaram do ponto final da viagem: a Terra não existia mais como mundo habitável. Mas, olhando para a galáxia, viram uma civilização espalhada entre milhares de sistemas, vivendo e prosperando longe da morte do Sol.
A máquina de tempo cessou seu zumbido. Eles haviam testemunhado o fim e a eternidade. A galáxia era agora o lar da humanidade, e o futuro não tinha limites.
PARTE II: O JULGAMENTO DOS VIAJANTES
Quando Mara Liang e Joren Kael foram encontrados, eles flutuavam entre as colunas de energia de uma nave autônoma que patrulhava os limites do setor Orión Extremo. Seus trajes de proteção temporal ainda brilhavam com o resíduo da passagem pelos éons, e os sensores avançados registraram algo que nenhuma inteligência da galáxia havia visto antes: humanos do início da expansão planetária.
Eles foram imediatamente transportados para a Estação de Detenção Interestelar nº 42, orbitando uma estrela morta no sistema de Epsilon Eridani. Pouco tempo depois, receberam a notificação: seriam processados pela Quarta Turma Julgadora do 1° Tribunal Galáctico, por violarem o Pacto Interestelar, que proíbe viagens temporais não autorizadas.
— Nós… não sabíamos da lei — disse Mara, olhando para Joren, que mantinha a calma, apesar do impacto do anúncio.
— Sabíamos que isso poderia acontecer… — respondeu ele, mas havia uma centelha de esperança.
1. A Corte se reúne
A Quarta Turma Julgadora consistia de cinco juízes lendários:
1. Desembargador-presidente Callen Vorath — conhecido pela interpretação rígida da lei galáctica.
2. Juíza Lyra Tenebris — especialista em ética temporal e jurisprudência cósmica.
3. Juiz Arkon Drel — veterano em disputas interplanetárias.
4. Juíza Nivara Solen — defensora da preservação de espécies e ecossistemas alienígenas.
5. Juiz Thales Vryn — rigoroso e pragmático, com ampla experiência em colonização estelar.
O promotor era uma IA avançada chamada Xerion-9, programada para argumentar com lógica impecável e ausência total de empatia:
> “Mara Liang e Joren Kael violaram o Pacto Interestelar. Não importa a intenção. O tempo é lei. A sociedade galáctica exige punição.”
O advogado dativo, nomeado pelo desembargador Vorath, era Dr. Kael Rynn, um renomado especialista em direito temporal e ética intergaláctica.
2. O julgamento
O caso tornou-se um fenômeno midiático: transmissões via rádio, hologramas e fluxos neurais conectaram milhões de cidadãos da galáxia para assistir. Cientistas desejavam estudar os dois viajantes, para compreender como humanos do passado primitivo sobreviveram em eras tão distantes.
O julgamento começou. Kael Rynn levantou-se:
— Meritíssimos, meus clientes iniciaram sua viagem há mais de dois milênios antes da instituição do Pacto Interestelar. Prosseguir em sua jornada no futuro distante não pode ser interpretado como desobediência consciente. Eles não tinham como conhecer leis que não existiam.
Xerion-9 replicou com precisão fria:
— Ignorar o Pacto Interestelar, mesmo sem conhecimento prévio, representa risco existencial. O precedente não pode ser ignorado.
Cada juiz pronunciou seu voto, analisando o caso sob perspectivas distintas:
Callen Vorath — “Mesmo sem intenção, o ato existe. Punição é necessária.”
Lyra Tenebris — “A consciência não pode ser um argumento. A lei temporal é absoluta.”
Arkon Drel — “Não há precedente. Mas a sociedade exige proteção contra anomalias temporais.”
Nivara Solen — “Há mérito ético na defesa, mas o risco de alteração da evolução interestelar é real.”
Thales Vryn — “O julgamento deve ser firme para preservar ordem temporal.”
O veredito: condenados.
Mara e Joren foram transportados para a colônia penal de Plutão, orbitando o planeta gelado, enquanto Kael Rynn preparava recurso imediato ao Supremo Tribunal Galáctico.
3. Supremo Tribunal Galáctico
No Supremo, o caso foi julgado pelo ministro Alexander Veyrin, conhecido por sua visão pragmática e compreensão profunda da ética temporal:
— Em momento algum Mara Liang e Joren Kael poderiam ter conhecimento das leis do Pacto Interestelar — declarou Alexander. — Não houve contato temporal possível com a civilização que promulgou as normas.
> Veredito: absolvição unânime.
Os viajantes foram libertos, indenizados por danos temporais e estresse existencial, mas receberam restrição clara: proibido regressar ao passado, sob pena de nova ação legal.
4. Novos caminhos
Diante da liberdade, a galáxia lhes ofereceu duas opções: (i) viver em um planeta semelhante à Terra de 5,2 bilhões de anos atrás, com grandes répteis, mantendo sua responsabilidade de não alterar a evolução natural; (ii) ser professores na Esfera Universitária Joviana, uma estação científica em órbita de Júpiter, transmitindo conhecimento e história da humanidade primitiva para gerações galácticas.
Mara olhou para Joren:
— Você prefere ensinar… ou caminhar entre os gigantes do passado?
— Talvez ambos — respondeu Joren, sorrindo. — Mas, por enquanto, vamos aprender a respeitar o tempo.
E assim, dois humanos do início da expansão planetária receberam uma segunda chance, navegando entre eras e mundos, agora cientes da responsabilidade de preservar a linha temporal e a evolução do universo.


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