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| AP/Ariana Cubillos, Arquivo |
As recentes manifestações realizadas em dezenas de cidades ao redor do mundo em apoio a María Corina Machado, apresentadas pela imprensa como um indicativo de amplo respaldo internacional, a exemplo de uma recente matéria no G1, merecem análise mais cuidadosa — não apenas sob o aspecto político, mas principalmente sob a ótica da soberania venezuelana. Há uma distância considerável entre mobilização global de grupos organizados no exterior e apoio popular real dentro do território nacional.
A entrega do Prêmio Nobel da Paz a Machado, por mais emblemático que seja do ponto de vista simbólico, ainda se limita à percepção externa. Não se pode ignorar que boa parte dessas manifestações acontece fora das fronteiras venezuelanas, impulsionadas por comunidades migrantes politicamente mobilizadas, por governos interessados no enfraquecimento de Caracas e por organizações que adotam intenções claramente alinhadas com agendas de intervenção ou mudança de regime.
Essa desproporção entre entusiasmo internacional e respaldo doméstico levanta um questionamento essencial: até que ponto a aceitação de uma liderança escolhida por atores externos se compatibiliza com o princípio basilar de autodeterminação dos povos? Se setores estrangeiros passam a legitimar — ou deslegitimar — governantes conforme seus próprios interesses estratégicos, abre-se um precedente perigoso para a Venezuela e para qualquer outro país.
Mesmo críticos de Nicolás Maduro reconhecem que a solução para a crise venezuelana deve emergir de dentro, por meios civis, democráticos e constitucionais, não por aclamação internacional nem por chancela de potências. Apoio externo, por mais robusto que pareça, não substitui urnas, instituições nem consenso interno. É legítimo defender novas eleições, reformas ou transições. O que não é admissível é que essas decisões sejam terceirizadas a governos estrangeiros, prêmios internacionais ou pressões econômicas.
Soberania significa, antes de tudo, que cabe aos venezuelanos definir os rumos do seu país — inclusive quem deve representá-los. Qualquer narrativa que sugira que manifestações no exterior ou elogios de lideranças internacionais equivalem à vontade de um povo inteiro corre o risco de transformar um conflito político complexo em um espetáculo geopolítico, onde a Venezuela não é sujeito de sua história, mas objeto de disputa de poder.
Assim, antes de celebrar manchetes que apresentam apoio internacional como sinônimo de unanimidade, é preciso fazer perguntas incômodas, porém necessárias: Quem realmente apoia? Quem realmente decide? E, acima de tudo, quem realmente se beneficia? Sem essas respostas, a defesa da democracia corre o risco de se tornar o contrário do que pretende — uma imposição revestida de boas intenções.


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