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terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Um mundo sob pressão: balanço de 2025 e os desafios imediatos de 2026



O ano de 2025 foi marcado por intensas transformações e desafios em escala global, refletindo profundas mudanças climáticas, conflitos diplomáticos e militares de grande impacto, além de esforços para a cooperação internacional e avanços sociais em várias regiões do mundo. Ao mesmo tempo, temas como meio ambiente, segurança alimentar e desigualdades sociais ganharam destaque, interligando acontecimentos aparentemente distintos.

Uma das questões que mais definiu o cenário global em 2025 foi a crise climática, com temperaturas médias globais atingindo níveis recordes — levando a ondas de calor extremo, incêndios florestais, enchentes e ciclones com enormes prejuízos humanos e econômicos — como em partes da Ásia, Europa e América do Norte, eventos que somaram mais de US$ 120 bilhões em perdas seguradas e milhares de vidas perdidas em desastres climáticos intensos. Essas tragédias não apenas evidenciaram a urgência por ações climáticas, mas também reforçaram a importância de fóruns internacionais como a COP30, realizada em Belém, Brasil, onde líderes mundiais se reuniram para debater compromissos de redução de emissões e adaptação global às mudanças do clima, apesar de divergências sobre metas e financiamento climático.

O impacto global desses eventos ambientais ficou ainda mais claro em debates que destacaram que saúde, migração e deslocamentos forçados estão diretamente ligados às mudanças climáticas, ilustrando que o aquecimento global não é apenas um problema ambiental, mas também social e econômico.

Em meio à ameaça climática, o mundo também conviveu com conflitos armados e tensões geopolíticas profundamente influentes em 2025. A guerra entre Israel e Gaza — um conflito que começou em 2023 e que muitas organizações de direitos humanos qualificaram como uma das campanhas mais destrutivas dos últimos anos — dominou grande parte das atenções internacionais. Ao longo de 2025, confrontos continuaram com ataques aéreos, bombardeios e operações militares, resultando em dezenas de milhares de mortes, deslocamento forçado de civis e uma crise humanitária grave. Episódios como a Operação Carruagens de Gideão ilustraram a intensidade dessa ofensiva militar.

Apesar da longa duração do conflito, além da violência que marcou o ano, houve uma significativa virada quando o grupo Hamas declarou o fim da guerra e o início de um cessar‑fogo permanente, em um acordo mediado por Estados Unidos, Egito e países árabes, incluindo a liberação de prisioneiros e a retirada de forças do enclave. Esse cessar‑fogo representou um dos momentos diplomáticos mais importantes de 2025, oferecendo um caminho — ainda que frágil — para a reconstrução e paz na região após anos de intenso sofrimento.

Outro conflito de larga escala que continuou a impactar a ordem internacional foi a guerra na Ucrânia, que persistiu em 2025, prolongando tensões entre grandes potências e mobilizando esforços diplomáticos com foco em cessar‑fogo, sanções econômicas e ajuda militar humanitária.

Contra esse pano de fundo de conflitos e emergência climática, também ocorreram eventos diplomáticos relevantes, como a cúpula do G20 em Joanesburgo, que reuniu líderes das maiores economias do mundo para debater comércio, segurança e cooperação multilateral — temas que ganharam ainda mais urgência com os desafios globais acumulados ao longo do ano.

No campo tecnológico, 2025 foi um ano de avanços e debates intensos sobre o papel da inteligência artificial (IA) em sociedades modernas. A IA generativa emergiu como infraestrutura crítica em empresas e instituições, ao mesmo tempo em que alimentou preocupações sobre desinformação, manipulação de dados e impacto no emprego e nas estruturas democráticas.

Já no esporte e cultura global, eventos marcantes como o Campeonato Mundial de Atletismo em Tóquio reuniram atletas de quase 200 países, destacando conquistas esportivas e a resiliência humana diante de adversidades coletivas.

Em meio a essa complexa cena internacional, o Brasil também viveu um ano de grande relevância, tanto no cenário interno quanto na projeção global. A sede da COP30 em Belém não apenas colocou o país no centro dos debates climáticos mundiais, mas também reafirmou a importância da Amazônia como símbolo ambiental mundial, com discussões sobre proteção da floresta, financiamento climático e justiça ambiental.

No cenário político internacional, o Brasil, sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sediou a 17ª Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, fortalecendo sua posição diplomática e promovendo o diálogo entre países emergentes e em desenvolvimento em temas de economia, cooperação e governança global.

O turismo internacional no Brasil registrou números recordes, com mais de 9 milhões de visitantes estrangeiros em 2025, impulsionando setores como hotelaria, cultura e serviços — um reflexo da recuperação econômica e da atração do país como destino global de eventos e lazer.

A vida esportiva brasileira também foi agitada, com destaque para competições nacionais como a Supercopa do Brasil, a ascensão do futebol feminino e eventos culturais de grande público, como a Virada Cultural em São Paulo e o Festival de Gramado, que reforçaram o potencial artístico e turístico nacional.

Internamente, grandes investimentos foram anunciados em mobilidade urbana e infraestrutura — como um pacote de R$ 770 milhões destinados a melhorias viárias e sistemas de drenagem em Belo Horizonte — refletindo o foco do governo em projetos estruturantes para as cidades.

No plano das políticas sociais e econômicas, o governo Lula destacou avanços na redução da pobreza e da insegurança alimentar, ampliando programas sociais como o auxílio à população de baixa renda e iniciativas focadas em saúde pública, geração de empregos e educação. A implementação de medidas como a isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil e a expansão de programas de assistência social fortaleceram a economia interna e aumentaram a renda disponível de milhões de famílias.

O reforço à educação pública com programas como a abertura da Carteira Nacional Docente e premiações para professores também marcaram o ano como uma aposta na qualificação profissional e no reforço institucional das escolas públicas.

No campo internacional, a diplomacia brasileira ampliou parcerias estratégicas, principalmente no Sudeste Asiático, com viagens presidenciais à Indonésia e à Malásia, fortalecendo a presença do Brasil em mercados emergentes.

Resumo, então, 2025 foi um ano em que a humanidade foi confrontada com crises ambientais, guerras, acordos diplomáticos e respostas coletivas a desafios sem precedentes. No Brasil, as ações governamentais refletiram um esforço de equilíbrio entre desenvolvimento econômico, políticas sociais e protagonismo internacional, buscando conectar o país às grandes pautas globais enquanto respondia às necessidades internas.


2026: o ano em que as escolhas deixam de ser adiadas

Se 2025 foi o ano em que os grandes problemas do século XXI se tornaram aparentemente incontornáveis, 2026 corre o risco de ser o momento em que a sociedade global — e o Brasil em particular — será forçada a decidir como conviver com eles. Não se trata de um ano de inaugurações simbólicas ou grandes anúncios fundacionais, mas de consequências, cobranças e decisões difíceis a serem tomadas.

O primeiro e mais abrangente desafio para 2026 é o clima. Após uma sequência de recordes de temperatura, eventos extremos e desastres ambientais, o aquecimento global deixa definitivamente de ser uma pauta prospectiva. Ele passa a ser um fator permanente de pressão sobre economias, sistemas de saúde, produção de alimentos e infraestrutura urbana. O que se espera para o próximo ano não é uma reversão imediata desse quadro, mas uma perigosa normalização: ondas de calor mais longas, chuvas mais intensas, secas mais severas e cidades cada vez mais vulneráveis. O desafio central será adaptar sociedades inteiras a um cenário já alterado, num ritmo muito mais rápido do que as instituições estão acostumadas a operar.

Nesse contexto, a política climática internacional entra em uma fase crítica. A COP30, realizada no Brasil, projetou o tema ambiental ao centro da diplomacia global, mas 2026 será o ano em que se medirá o quanto desse protagonismo se traduzirá em financiamento real, cooperação técnica e compromissos verificáveis. Será que a distância entre discurso e ação alimentará mais frustração social, especialmente em países mais vulneráveis aos impactos do clima?!

Outro eixo decisivo para 2026 será o pós-conflito. O fim da guerra em Gaza, após um dos episódios mais violentos e traumáticos do século XXI, não inaugura automaticamente um período de estabilidade. Ao contrário, o mundo entra em uma fase marcada por reconstrução difícil, debates jurídicos internacionais, crises humanitárias prolongadas e disputas políticas internas. Em paralelo, a guerra na Ucrânia corre o risco de se arrastar ou se transformar em um conflito “congelado”, mantendo tensões geopolíticas elevadas. O desafio global não será apenas encerrar guerras, mas administrar as cicatrizes que elas deixam — sociais, políticas e morais.

A democracia, por sua vez, enfrentará em 2026 talvez um de seus testes mais complexos desde o fim da Guerra Fria. A consolidação da inteligência artificial como ferramenta de produção de conteúdo, manipulação de imagens e disseminação de narrativas falsas coloca em xeque a confiança pública em eleições, instituições e na própria ideia de verdade compartilhada. O desafio não será apenas tecnológico, mas ético e político: como preservar o debate público e a legitimidade democrática em um ambiente informacional profundamente contaminado?

No Brasil, esses dilemas globais se condensam em um ano eleitoral carregado de significado. 2026 será menos sobre promessas de futuro e mais sobre avaliações de trajetória. A economia deverá crescer de forma moderada, pressionada por fatores externos e pelos custos internos da crise climática. Já as políticas sociais, ambientais e diplomáticas implementadas nos anos anteriores entrarão em escrutínio público, assim como os limites fiscais e institucionais do Estado. Logo, o desafio central será evitar que a polarização transforme problemas reais — clima, desigualdade, segurança, governança — em meras armas retóricas.

Ao mesmo tempo, o Brasil chega a 2026 com ativos importantes: maior projeção internacional, credibilidade ambiental em reconstrução e capacidade de diálogo com diferentes polos de poder global. A questão será se seremos capazes de conseguir transformar esse capital simbólico em benefícios concretos para a população, sem ceder à tentação de soluções fáceis ou discursos de negação?

Em síntese, 2026 se desenha como um ano de maturidade forçada. Não será um período confortável, nem heroico, nem fundacional. Será um ano em que governos, instituições e sociedades terão menos espaço para adiar decisões e mais necessidade de lidar com limites — ambientais, econômicos, políticos e morais. O maior desafio do próximo ano talvez seja este: agir com responsabilidade em um mundo que já não permite ilusões de normalidade. Ou seja, será preciso entrar com os dois pés — para lembrar, com ironia brasileira, a famosa propaganda das Havaianas.

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