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domingo, 1 de março de 2015

Parabéns, Rio!




Por esses dias, muito se tem falado na mídia acerca dos 450 anos de existência da cidade do Rio de Janeiro. Na noite de sexta-feira (27/02), assisti a uma interessante matéria do Globo Repórter mostrando coisas incríveis da capital mais linda do país.

De fato, poucas das grandes cidades brasileiras se aproximam do Rio de Janeiro em termos de beleza natural e urbanística, diversidade, acolhimento, simpatia, cultura e opções de lazer. Talvez pelo sol e pelas praias, pode-se afirmar que o carioca seja um povo alegre, o que, certamente, contagia quem vem visitar o Rio.

No entanto, sabemos que, como em quase todo lugar do país, a Cidade Maravilhosa também tem suas dificuldades como congestionamentos, criminalidade, violência, transportes super lotados, serviços públicos deficientes e políticos safados. Tais coisas costumam não ser comentadas nas ocasiões festivas como nesse emblemático aniversário de quatro séculos e meio do Rio. Na reportagem da Globo, por exemplo, mostraram as favelas que foram "pacificadas" e que se tornaram atrações turísticas, mas pouco se falou dos locais onde ainda se ouvem tiros durante a noite inteira e a população não é tratada pelo Estado com a dignidade da qual deve ser destinatária, conforme previsto em nossa Constituição. Houve apenas uma breve referência ao que anda ocorrendo no Morro do Alemão cuja pacificação ainda é um processo em curso.

Penso que esta deveria ser a principal motivação dos cariocas (e de suas autoridades) no momento: ser um processo em curso ou metamorfose ambulante. A meu ver, tornou-se prematuro o fato do Rio sediar os jogos olímpicos de 2016. Pois ainda há muito o que ser feito em termos estruturais para a cidade abrigar um evento internacional de tão grande importância como são as Olimpíadas sendo que, na prática, o que vem acontecendo é mais uma maquiagem dos políticos...

Será que o Rio é apenas Copacabana, Ipanema, Pão de Açúcar, Corcovado, Floresta da Tijuca, Igreja da Penha, Centro, Maracanã e os bairros Zona Sul?!

A cidade possui apenas a Baía de Guanabara?! Ou o rio não faz parte também da esquecida Baía de Sepetiba, a qual anda bem poluída recebendo uma quantidade absurda de esgoto?! E quantos sabem que, nesta baía, ainda vivem pescadores, populações de tartarugas e até mesmo de botos-cinzas?!

Há que se lembrar de boa parte das áreas humildes da Zona Norte e da Zona Oeste. Bairros como Madureira, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz, Vila Kennedy, Guaratiba e outros não fazem parte da Cidade Maravilhosa? E o que dizer dos municípios vizinhos da região metropolitana como Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Queimados, Nilópolis e Mesquita?

Além do Metrô, não temos também os trens da SuperVia que, diariamente, transportam um número enorme de trabalhadores?!

Há muito mais coisas do Rio para serem mostradas e comentadas. Sem dúvida, tudo na cidade precisa ser inserido, qualificado e dignificado. Pois não há como se privilegiar uma parte e esquecedor do resto ou do contrário teremos um corpo urbano sempre enfermo.

Apesar de fazer tais lembranças, não vou deixar de dar meus parabéns ao Rio desejando que todo esse processo de mudança tenha continuidade e se amplie. Que não seja apenas uma  maquiagem para os próximos eventos esportivos, mas que, tanto nesta década como nas próximas, haja um real aperfeiçoamento afim de que, em 2065, comemoremos pra valer os 500 anos da Cidade Maravilhosa.

Uma boa semana para todos!


OBS: A ilustração acima refere-se ao logotipo dos 450 anos do Rio de Janeiro.

6 comentários:

  1. Amigo, o que há de pior também está sendo mostrado. Isto é, o logotipo dos 450 anos.

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    1. Caro Lacerda,

      Segundo o Comitê Rio450, o logotipo seria

      "uma expressão que, além da cara do carioca, é a cara da comemoração dessa festa. Uma proposta para provocar reflexões lúdicas sobre quem somos e o quanto amamos estar onde estamos. Ela foi pensada para resgatar o orgulho de pertencer, através de uma ideia simples e direta: se o carioca é multicultural, multiétnico e multifacetado, a marca deve espelhar tudo isso.

      A partir dessa ideia, criou-se

      "uma marca que identifica o povo do Rio e faz graça com o seu jeito; uma marca que representa o que o carioca tem de mais essencial, mostrando o perfil de quem tem orgulho de ser o que é. Composta pelos 3 números da celebração, a marca é o perfil do nosso personagem: do Marcos, da Paula, do Robson, da Helena, do Peter, da Kelly... e de todo mundo que faz parte do Rio, seja por nascimento ou por escolha."

      (Fonte: http://www.rio450anos.com.br/conheca-a-marca/ )

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  2. Rodrigo, todas as maravilhas do Rio, bem como do nosso amado e tambem maravilhoso Brasil, parece, se transformaram agora num peso em nossas conciencias(para quem tem consciencia).
    O que estamas fazendo com toda essa riqueza material e humano que Deus nos deu?
    Que Ele nos ajude!
    Já que estamos, com a sensação, de que já não somos mais capazes de dar rumo ao nosso país.

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    1. Olá, Gabriel.

      Vejo um desafio enorme pela frente que é a gestão do Brasil e de suas cidades.

      No caso do Rio, existe aí uma tendência de crescimento urbano, sobretudo na Zona Oeste, o que deve sobrecarregar cada vez mais os sistemas de transportes, demandar maiores investimentos na área de saneamento básico e de segurança, além da saúde e da educação dos jovens. Com a crise da água, bem cada vez mais escasso, temos aí uma tendência pessimista pro futuro.

      Pode ser que uma parte do Rio, a mais nobre (Zona Sul, Barra, Centro e Grande Tijuca) permaneça maquiada enquanto o outro lado da cidade esquecido. Expandem o Metrô, mas não ampliam e pouco melhoram o antigo trem que foi umas das heranças recebidas da época do Império.

      Lembrando do Segundo Reinado, pelo menos D. Pedro II teve consciência quando mandou restaurar a vegetação da Floresta da Tijuca, sem o que o Rio teria sofrido de falta d'água já que, no século XIX e primeiras décadas do XX, não havia ainda o sistema Guandu abastecido com a transposição do Paraíba do Sul.

      Sei lá, mas às vezes fico a pensar que pode ter sido um grande erro o golpe que militares e proprietários rurais deram na monarquia em 1889. Talvez a República viesse a ser proclamada mais tarde ou não, porém acredito que teríamos hoje um país mais estável política e economicamente.

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    2. Rodrigo, para começarmos a sentir saudades de D.Pedro II é porque o panorama esta feio mesmo!
      Pior e que tem muita gente sentindo saudades é da ditadura militar. Deus nós ajude!
      Abração!

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    3. Prezado Gabriel,

      Antes um descendente do D. Pedro chefiando o Estado brasileiro do que um desses Boçalnaros da vida da chamada "bancada da bala". A eleição de caras assim no Congresso demonstram os retrocessos de nossa sociedade em sua marcha histórica-evolutiva com avanços e recuos. Que Deus nos ajude mesmo!

      Boa semana!

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