Páginas

segunda-feira, 16 de março de 2015

Não deixe que oportunistas tirem proveito das manifestações!




Os protestos ocorridos ontem pelas principais cidades do país foram, em geral, manifestações pacíficas e democraticamente legítimas. Milhões de pessoas foram às ruas pedindo um basta na corrupção e expondo a impopularidade do atual governo que, além de não estar combatendo satisfatoriamente a roubalheira, tem arrochado a vida do brasileiro com aumentos na tarifa de energia elétrica, prejudicando direitos trabalhistas e conduzindo mal os rumos da nossa economia.

No entanto, fiquei perplexo com a presença oportunista de uma minoria de manifestantes que aproveitaram aquele momento de cidadania para pedirem coisas absurdas como uma intervenção militar. Até mesmo a campanha pelo impeachment da presidente Dilma, contra quem ainda não existem provas fundadas sobre o envolvimento de corrupção no caso da Petrobrás, mostrou-se algo prematuro e insensato.

Ora, por que esses pequenos grupos de descontentes com a democracia não passam a clamar por uma reforma política capaz de dificultar a corrupção e que permita um controle maior da sociedade sobre os atos dos agentes públicos?!

Por que não fundam um partido sólido com princípios éticos elevados e regras estatutárias que assegurem ao filiado comum voz e vez na nova agremiação ao invés de desejarem a entrega dos rumos do país a militares que jamais teriam legitimidade democrática para governar?!

No entanto, devemos ter sempre em mente a memória dos golpes que assaltaram a nossa história. Pois, desde os tempos da Proclamação da República, oportunistas de plantão sempre buscaram ocasiões para forjarem uma falsa representatividade popular quanto às suas pretensões. Assim ocorreu em novembro de 1889 e também no triste ano de 1964, sendo que agora uma meia dúzia de reacionários quer repetir novamente esse filme.

Acho difícil que a essa altura do campeonato tenhamos um novo golpe militar no país, embora seja sempre prudente os setores esclarecidos da sociedade ficarem atentos quanto a manobras do tipo. Felizmente não vejo nas Forças Armadas nenhum general instigando o povo contra a democracia, porém sempre existem aqueles políticos espertalhões, a exemplo do deputado Jair Bolsonaro, que tentam tirar vantagens afim de ganharem popularidade com discursos contrários à ordem constitucional.

É de comezinha sabença no meio jurídico, inclusive entre os calouros de uma faculdade de Direito, não haver qualquer legalidade, nem sentido, pedir uma intervenção militar. Conforme bem se posicionou ontem o ex-ministro do Supremo Dr. Carlos Velloso, numa entrevista exibida pelo Fantástico, as Forças Armadas têm a obrigação de proteger o Estado democrático:

"Uma intervenção militar seria algo inusitado, fora da lei, fora da Constituição, ao arrepio da lei, ao arrepio da Constituição. Vale evocar Rui Barbosa no ponto quando ele afirmou diante do Supremo Tribunal Federal, 'fora da lei não há salvação'. Temos que sempre nos comportar dentro da lei. No momento em que a lei, que a violação da lei prejudica alguém e nos colocamos em silêncio, amanhã poderá ser nós, sermos nós aqueles atingidos por quem está violando a lei. Sempre dentro Constituição, sempre com observância da lei"

Por sua vez, quanto ao pedido de impeachment da presidente Dilma, aplaudo de pé as colocações de outro ex-ministro do STF, o Dr. Ayres Britto, ao declarar no noticiário que a liberdade de expressão permite que os manifestantes discutam temas como esse muito embora não veja, no atual momento, nenhuma base jurídica para que isso venha a acontecer:

"Pedir o impeachment enquanto manifestação livre de vontade, tudo bem. Agora, concretamente, vamos convir, a presidente da República no curso deste mandato que mal se inicia não cometeu nenhum crime que é pressuposto do impeachment. Seja à luz do artigo 85 da Constituição, seja à luz da lei 1079, de 1950, versando sobre crimes de responsabilidade e por consequência, impeachment, não há a menor possibilidade de enquadramento da presidente da República nessas normas, sejam constitucionais, sejam legais;"

Como um cidadão que se sente indignado com tanta safadeza na política e mal uso do dinheiro público, penso que o foco dessas manifestações deve ser o combate efetivo à corrupção e a proteção dos direitos dos trabalhadores diante dos recentes ajustes econômicos. Se de fato o governo está disposto a ouvir a sociedade, deve considerar a hipótese de revogar as impopulares medidas provisórias 664 e 665 impostas no apagar das luzes do ano passado. Aliás, considero que foi um tiro no pé a edição das duas MPs que contrariam tudo aquilo que foi prometido em campanha pela atual mandatária.

Finalmente, faço aqui meu apelo aos cristãos de verdade neste país para que a Igreja posicione-se diante desse momento de crise política. Como havia colocado na postagem anterior, O avivamento que o Brasil precisa, poderíamos ser a resposta para essa geração em busca de um rumo certo para seguir. E, neste sentido, mais do que nunca devemos nos manifestar pacificamente oferecendo soluções sem abrir mão dos princípios éticos básicos do Evangelho.

Que Deus ilumine o Brasil!


OBS: Imagem acima extraída de uma notícia da EBC sendo os créditos autorais atribuídos a Marcelo Camargo / Agência Brasil.

2 comentários:

  1. muito bom,farei um resumo para mim,de tanto que gostei,muitos precisam de ouvir isso, é a DEMOCRÁCIA.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Vera!

      Obrigado por sua leitura e comentários.

      Vejo que depois de uma longa luta da sociedade brasileira pela democracia, a qual teve seu ponto alto com a campanha das DIRETAS JÁ, eis que agora surgem uns grupos pedindo uma intervenção militar. Muito triste...

      Como cristãos precisamos defender a democracia brasileira e a Constituição de 1988 pois é através desse regime que a Igreja mantém-se livre de perseguição e o Evangelho aqui consegue ser divulgado. Jamais o ser humano deve abrir mão de sua liberdade por causa de uma falsa segurança.

      Embora acho quase improvável que ocorra uma intervenção militar, considero educativo informarmos o povo brasileiro acerca de seu passado e das inúmeras vantagens de se preservar o atual regime político. Este pode não ser perfeito, mais eu considero como o mais adequado.

      Um abraço.

      Excluir