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sexta-feira, 27 de março de 2015

O voo 4U 9525 e a necessidade de combatermos melhor a depressão




Os acontecimentos noticiados pela mídia acerca da tragédia do Airbus A320 evidenciam cada vez mais a necessidade dos governos investirem melhor no tratamento terapêutico e preventivo da saúde mental.

Muito perplexa quanto ao comportamento do copiloto do avião da Germanwings que caiu na terça-feira (24/03) nos Alpes franceses, a Europa ainda tenta compreender o que teria levado Andreas Lubitz a derrubar deliberadamente a aeronave matando outras 149 pessoas. Pairam algumas suspeitas sobre o estado psíquico desse jovem de apenas 28 anos, o qual teria sofrido de depressão e talvez se encontrasse inapto para trabalhar (de licença médica). Há quem levante a hipótese que o fim de um namoro possa ter contribuído para o ocorrido com o voo 4U 9525.

Entretanto, em que pesem as dúvidas de que as ações do copiloto não teriam sido motivadas por problemas mentais, há diversos casos no mundo em que indivíduos resolveram praticar seus atos suicidas a ponto de causarem a morte de outros. E, se a Lufthansa de fato realizou um teste psicológico em Andreas após lhe dar treinamento e ainda o fez passar por constantes avaliações médicas, sabemos que, em geral, há muito menos monitoramento por aí quanto ao temível comportamento humano.

Em seu texto Agenda política do século XXI e a depressão, publicado em 26/08/2014, Fabio Feldmann comentou sobre a importância de se dar uma maior relevância a esse tema. Segundo ele, "a depender das circunstâncias, todos estão sujeitos aos altos e baixos da roda gigante que é a vida", porém chamou a atenção para a necessidade de enfrentarmos adequadamente a questão:

"Como a depressão nos afeta? Como a desigualdade social torna mais vulnerável pessoas com menos possibilidades de um correto diagnóstico e de escolhas para o seu enfrentamento? Existe uma pré disposição genética à depressão? Todas essas perguntas deveriam estar na agenda do debate político do Brasil, com o objetivo de se estabelecer uma política pública eficaz para podermos lidar com a depressão."

É preciso reconhecer que o mundo (e menos ainda países atrasados como o Brasil) está apto para lidar com os problemas da saúde mental adequadamente. Por aqui então temos uma enorme carência de terapeutas no SUS, nas escolas públicas e em diversas instituições estatais. Também o setor privado nacional pouco investe em psicologia inexistindo dentro da nossa sociedade uma devida valorização dos profissionais da área.

Mais do que nunca acredito que este será o século da saúde mental. Dentro de algumas décadas, governos precisarão adotar programas urgentes de combate à depressão e outros distúrbios psíquicos de modo que o assunto acabará sendo debatido em campanhas eleitorais entre os candidatos. Não tardará para que crianças comecem a ser rotineiramente monitoradas afim de não desenvolverem essa terrível doença incapacitante. Afinal de contas, estamos diante de algo que, efetivamente, anda afetando o cidadão moderno a ponto de gerar situações de grave perigo para a coletividade que, não raras vezes, mostram-se imprevisíveis.


OBS:  A imagem acima refere-se à foto do perfil de Andreas no Twitter

4 comentários:

  1. Rodrigo, assino embaixo suas palavras, mas não tendo como objeto este caso.
    Reconheço que de alguma forma todas as maselas sociais encontram "explicação" em algum tipo de transtorno de ordem mental, psicopatias, neuroses, etc.
    Não faz muito tempo tivemos a revelação de que Chico Anisio, um humorista, que e ajudava varias pessoas, admirado, pelos amigos filhos e ex-esposas, que viveu uma vida longa e produtiva sofreu a vida toda de depressão.
    Existe um forte ingrediente moral ai. Não devem existir "desculpas" para atos covardes.
    Abração.

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    1. Olá, Gabriel.

      Primeiramente quero agradecê-lo por sua leitura e pertinentes comentários.

      Realmente os transtornos psíquicos estão por trás de inúmeros atos ainda que associados ou não a atos covardes conscientes sendo que nem sem´re podemos identificar se algo fugiu do controle do agente.

      Por outro lado, pessoas com transtornos psíquicos não devem por conta disto serem excluídas do convívio social ou do mercado de trabalho. Pelo contrário! Cabe à sociedade incluí-las da melhor maneira e sempre com a devida prudência.

      Aos poucos o episódio do avião vai sendo desvendado com novas revelações tipo as recentes declarações da ex-namorada do copiloto. Mas eu não me atreveria a julgar o caso tendo ainda uma insuficiência de elementos sobre o que teria se passado. Mas o fato é que estamos vivendo uma época em que os transtornos psíquicos hoje preocupam muito e exigem uma atitude preventiva tanto dos governos quanto da sociedade.

      Um forte abraço!

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    2. Exatamente Rodrigo. Vou aproveitar sua resposta para complementar meu comentario e ponto de vista.
      Quando falo que muito da problematica social esta relacionada aos transtornos mentais quero falar mais dos transtornos disfarçados em normalidade, como parece ser o caso em questão e ai sim entra uma falha de carater neste caso em se confirmando os fatos, do que dos indivduos diagnosticados portadores de transtorno mental. Neste caso a sociedade como um todo precisa se ordenar, para ser uma promovedora de saude mental e um agente inclusivo, sempre.
      Agora, falha de carater (covardia) é INTOLERAVEL!
      Abração.

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    3. No caso do avião, o copiloto muitas das vezes aparentava ser "normal", termo que cada vez mais tem caído em desuso já que todo ser humano tem seus distúrbios de comportamento em maior ou menor grau, se é que podemos assim classificar (há quem considere que o potencial para a delinquência seria igual em todos os elementos de nossa espécie). Todavia, abstenho-me de julgar as falhas de caráter por desconhecer até que ponto a conduta de uma pessoa esteja dentro ou fora do controle. Finalmente, concordo quando diz que "a sociedade como um todo precisa se ordenar, para ser uma promovedora de saude mental e um agente inclusivo, sempre". Boa semana!

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