Páginas

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Importando-se com os enfermos



"Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os vossos pecados uns com os outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos." (Tiago 5:14-18; ARA)

A epístola de Tiago é uma das obras do Novo Testamento que mais demonstra preocupação com as pessoas em condição vulnerável. Após ter se lembrado dos órfãos e das viúvas (1:27), bem como dos pobres em geral (1:9;2:1-9,15-16;5:1-6), o autor trata agora nos versos acima da assistência aos enfermos como algo a ser também observado pelas comunidades cristãs.

É provável que para os leitores de origem judaica destinatários de Tiago (1:1) o cuidado para com os doentes já integrasse a cultura religiosa que eles tinham, quer fosse em relação a parentes ou estranhos. Segundo uma interpretação de Gênesis 18, Deus teria visitado Abraão na aparição de três homens enquanto o patriarca bíblico estava convalescendo de sua circuncisão narrada no capítulo anterior. Assim, com base nisto, o Midrash recomenda que o apoio ao doente deva ser feito "com a alma" (orando pelo pronto restabelecimento da pessoa), "com o corpo" (dando um trato físico no enfermo) e "com dinheiro" (proporcionando ajuda material na hipótese de ser alguém pobre). E, por sua vez, o Talmud babilônico, outro livro dos judeus, chegou a comparar a omissão nesse tipo de assistência com o cometimento de um assassinato (Nedarim 40).

Ora, não muito diferente do que os compatriotas de Tiago deveriam praticar na época, o autor da carta recomendou que a visita ao doente fosse realizada pelos "presbíteros da igreja". Não que as demais pessoas da congregação estivessem por isso dispensadas dessa observância ética, mas sim pelo fato de que um enfermo talvez precisasse receber também um apoio mais qualificado. Digo isto por causa das características da abordagem conforme poderemos extrair do texto epistolar.

Acredito que a unção com o óleo fizesse parte dos costumes dos cristãos primitivos assim como considero implícita a imposição de mãos quando o citado verso 14 diz "sobre ele". Contudo, não acho que Tiago tenha prescrito aí uma receita para curas miraculosas fundamentada no uso de alguma substância específica da natureza ou da repetição de palavras especiais, como se o nome de Cristo e o azeite de oliva fossem coisas mágicas. Tanto é que o versículo seguinte claramente nos mostra: "e a oração da fé salvará o enfermo".

Certamente que o ministro do Evangelho, ao ver um doente, deve procurar transmitir fé e ânimo à pessoa. Em várias narrativas o Senhor Jesus assim dizia a quem tinha curado: "a tua fé te salvou". Logo, mesmo que o ato de orar seja conduzido pelo visitante, importa é o enfermo confiar totalmente em Deus e Lhe entregar, sem reservas, a sua vida.

Identifico outras coisas em jogo bem mais importantes do que a restauração física de alguém. Nas Escrituras Sagradas a cura do corpo deve ser entendida como um sinal de redenção a ponto de incluir também a alma. Por isso o texto de Tiago nos fala em seguida da confissão.

Embora eu tenha uma visão um pouco diferente do catolicismo romano quanto ao "sacramento da confissão", considero proveitoso e edificante um crente contar os seus pecados para algum irmão capacitado para ouvi-lo num ambiente de privacidade e pronto para dar orientações conforme os ensinamentos da Palavra de Deus. Eis aí uma razão para que as igrejas invistam em ministérios de visita em que o contato feito com o assistido propicie um diálogo aberto e construtivo.

Sem querer generalizar, é possível que exista uma relação direta entre a doença e a vida errante que o sujeito leva. Pois frequentemente o cultivo de uma mágoa, a falta de perdão (ou de auto-perdão), a compulsão pelo dinheiro e bens materiais, dentre inúmeras outras situações, podem provocar danos tanto à alma como ao corpo. Assim, uma vez que a causa do problema seja encontrada, existe a chance do mal começar a ser tratado com a consequente reversão dos efeitos sobre o corpo físico.

Seja como for, Tiago ressalta o tempo inteiro sobre a relevância da oração e chega a mencionar o exemplo do profeta Elias retratado como um "homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos". Com isso, o autor mostra o quanto qualquer um de nós consegue tornar-se capaz de trazer algum alívio para os doentes, caso venha a se direcionar para tal fim, de modo que esse ministério de visitas pode tranquilamente contar com a participação de pessoas humildes e simples da sociedade. Basta que haja amor verdadeiro e um pouco de preparo espiritual.

Amigo leitor, que tal neste final de semana você dispor de uma ou duas horas do seu tempo livre para visitar um doente?

Mesmo que não vá a um hospital e nem levar consigo uma porção de óleo ungido, você pode procurar qualquer parente, amigo, conhecido ou irmão da igreja que esteja acamado, o qual provavelmente ficará muito feliz com a sua presença. Poderá ainda levar conforto para os familiares dessa pessoa já que os pais, os filhos e o cônjuge também sofrem com o problema e necessitam de apoio espiritual. Pense nisso!

Um ótimo descanso semanal a todos na paz do Senhor!


OBS: A ilustração acima refere-se a uma gravura do artista veneziano Pietro Antonio Novelli (1729 - 1804), conforme extraída do acervo virtual da Wikipédia em http://it.wikipedia.org/wiki/Unzione_degli_infermi#mediaviewer/File:Pietro_Antonio_Novelli_Sakramente_Krankensalbung.jpg 

Nenhum comentário:

Postar um comentário