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domingo, 18 de dezembro de 2011

Esculpindo vidas

“Em todo bloco de mármore vejo uma estátua como se ela estivesse de pé diante de mim, já formada e perfeita em atitude e ação. Só tenho de desbastar as paredes rudes que aprisionam a bela figura e revelá-la aos outros olhos que não podem vê-la”. (Michelângelo)


Michelângelo Buonarroti (1475-1564) foi certamente um dos maiores artistas da humanidade, sendo praticamente impossível falarmos na Renascença sem nos lembrarmos de algumas de suas famosas como Davi, Moisés, a Pietà ou O escravo moribundo. E o mais interessante era que, aos olhar para um pedaço de pedra, ele conseguia vem além daquela matéria informe figuras com formas que brotavam em sua mente criativa.

O pastor norte-americano Greg Cootsona, autor do excelente livro Aprenda a dizer não, publicado no Brasil pela editora Mundo Cristão, fez um interessante estudo da vida do artista. Segundo ele, Michelângelo

“discerniu, presa dentro do bloco rígido, uma beleza que tinha de ser libertada. Assim, trabalhou com toda a genialidade e persistência que podia reunir. Desde então, o que surgiu da pedra tem admirado e fascinado os espectadores. Há quem considere a estátua de Davi a maior escultura já criada. Michelângelo desvendou a beleza através daquilo que removeu (...) descobriu que poderia criar sua escultura somente removendo aquilo de que a figura não necessitava até alcançar a beleza de sua forma inerente (...) Olhando com mais intensidade o rosto de Davi de Michelângelo, você pode ver uma projeção idealizada do artista – não sua figura real, mas a criatividade que o impulsionava (..) A precisão da visão combinada com uma incrível determinação levou Michelângelo a olhar objetivamente através do bloco informe e enxergar ali dentro a figura na qual o mármore poderia transformar-se. (extraído das páginas 25 a 29 do livro)

Igualmente, nós também podemos ser considerados uma obra-prima viva do grande Artista do Universo. Bendito seja Ele! Todavia, não somos esculturas prontas e acabadas pois estamos todos em permanente construção (e desconstrução), precisando evoluir a cada dia.

Segundo o livro de Gênesis, quando Deus criou a Terra, ela estava “sem forma e vazia” (ARA), o que pode expressar um estado anterior de desordem e caos, como se observa pela compreensão dos termos hebraicos tohu e bohu. Ou seja, no princípio, tudo ainda era uma criação que aguardava ser formada até que o movimento determinado da Vida, o ruah, o “grande vento”, foi inteligentemente moldando todo o Universo. Uma criação que, teologicamente falando, podemos dizer que é ex nihilo, isto é, “do nada”, em que apenas o Eterno transcende.

Neste sentido, vale a pena meditarmos nesta valiosa passagem bíblica:

“Pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hebreus 11.3; ARA)

Uma outra tradução deste verso acima citado diz que “o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas” (Bíblia de Jerusalém). Isto significa que a realidade é algo muito mais abrangente do que as coisas perceptíveis pelos nossos cinco sentidos, sendo assim o visível uma mera sombra ou parte de um todo. E eu acredito que o mesmo pode ser aplicado ao ser humano quando analisado de um ponto de vista transcendente. Como o Criador de fato nos vê.

De que maneira temos olhado para nós mesmos ou para o nosso próximo?

Será que nos percebemos como blocos duros de mármore impossíveis de sermos trabalhados?

Ou será que dentro de cada um não existe uma bela pessoa desejada por Deus e que só está aguardando ser esculpida e libertada?

Precisamos permitir que o grande sopro do Criador, o Espírito Santo, trabalhe em nós sem oferecermos resistência ao projeto divino. Creio que Deus não abandona a sua criação e continua criando, expandindo o Universo, permitindo a evolução de novas formas de vida e esculpindo os corações dos homens. E isto Ele faz removendo tudo aquilo que impede a manifestação de nossa forma espiritual. A saber, retirando os rancores, a imoralidade, a inveja, a intolerância, a ignorância, o egoísmo, os maus hábitos, as máscaras e a falta de fé.

A obra divina em nossas vidas coincide com o que a Epístola aos Gálatas diz nos versos 16 ao 26 do seu capítulo 5 em que Paulo contrasta as “obras da carne” com o “fruto do Espírito”. Não que o texto estivesse se referindo ao corpo humano quando o apóstolo fala em “carne”, mas sim à nossa maldade, à “árvore do conhecimento do bem e do mal” situada dentro do nosso Éden interior, da qual muitas vezes preferimos nos alimentar ao invés de buscarmos a “árvore da vida”.

Inegavelmente esta é a grande diferença entre as obras de Michelângelo e nós que somos obra-prima de Deus. O brilhante escultor dos séculos XV e XVI não perguntava ao mármore se o material bruto queria transformar-se em Davi. Contudo, o Eterno respeita o nosso livre arbítrio e nos propõe escolher entre a vida e a morte, a benção e a maldição, o caminho estreito e o caminho largo. O seu reino está com as portas sempre abertas nos aguardando com abundante graça, cabendo à humanidade decidir se quer entrar nele ou permanecer na sua obscuridade espiritual.

Desejo que, nesta semana, você receba de Deus toda a sabedoria e a criatividade necessárias para que a divina obra se realize em seu viver, com muita paz e graça.


OBS: A imagem acima trata-se de uma foto da escultura Davi, tirada por Rico Heil, e se encontra na Galeria da Academia de Belas Artes de Florença, Itália. Foi extraída da Wikipédia na presente data.

4 comentários:

  1. Genial esta frase Rodrigo "...Só tenho de desbastar as paredes rudes que aprisionam a bela figura..."

    Creio que uma das coisas mais sensatas que o ser humano pode tomar como verdade absoluta é que estamos em constante processo de evolução, nada de dogmatismos enrijecidos sejam eles de quais naturezas forem.

    O Deus criativo também nos convida para a evolução.

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  2. Amém!

    Concordo contigo, Franklin!

    Pode-se dizer que os dogmas, por si só, já são enrijecedores. Não acha?

    Penso que Michelângelo alcançou o sucesso por ter observado os princípios utilizados pelo Divino Criador e Legislador do Universo.

    Grande abraço!

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  3. Passei para ler mais uma vez esse excelente texto e aproveito o momento para desejar-lhe um feliz Natal para você e sua família.

    Abração!

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  4. Obrigado, Donizete!

    Pra você também, tenha boas festas junto com os seus.

    Grande abraço!

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