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sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Uma República que ainda tem muito para evoluir

Nesta sexta-feira (15/11/2019), o Brasil completou exatos 130 anos de proclamação da República, sendo esta uma data pouco festejada dentre os feriados nacionais quando comparamos com a Independência (07/09), Natal, Paixão de Cristo, Carnaval, Ano Novo e o dia da padroeira Nossa Senhora da Conceição Aparecida (12/10).

No entanto, como esperar de um povo calorosas comemorações se, quando a atual forma de governo foi imposta, não houve uma efetiva participação popular? Ou seja, se tudo não passou de um golpe civil-militar? Pois como bem escreveu o historiador Murilo de Carvalho, recentemente entrevistado pelo jornal A Folha de São Paulo, "a República extinguiu o privilégio dos Braganças, mas não conseguiu eliminar os privilégios sociais" (clique AQUI para ler), tendo sido a participação popular ausente até a década de 1940.

Embora considerando a Revolução de 1930 um movimento verdadeiramente participativo, concordo com o renomado estudioso e membro da ilustre Academia Brasileira de Letras já que, em termos eleitorais, somente após o fim do Estado Novo de Vargas que o voto no Brasil se tornou algo verdadeiramente democrático. Isto porque, durante a denominada República Velha (1889-1930), o que prevalecia era mesmo o voto de cabresto, com muita manipulação e fraudes em que os candidatos eleitos eram quase sempre convenientes aos interesses das oligarquias.

Certamente que os 21 anos de regime militar foram prejudiciais à nossa evolução republicana. Aliás, já no AI-1, de 9 de abril de 1964, fez-se a transferência do poder político dos civis aos militares em que houve a suspensão por dez anos dos direitos políticos de centenas de brasileiros, entre eles os ex-presidentes Jânio Quadros e João Goulart, governadores, parlamentares, sindicalistas, estudantes, intelectuais e funcionários públicos. E, a fim de impedir qualquer oposição forte, a tônica do período foram as cassações de direitos políticos, a supressão de direitos constitucionais, perseguição policial e militar, prisão e tortura de opositores e os vários episódios de fechamento do Congresso Nacional.

Com o movimento das "Diretas Já" (1984), a ditadura militar foi execrada e o maior erro histórico foi não ter havido no Brasil uma responsabilização daqueles que praticaram suas atrocidades e violações de direitos humanos. Porém, outra falha igualmente foi o país não ter se tornado uma nação justa e que capacitasse o seu povo para participar da gestão pública, gerando descrédito da própria democracia. Em todo momento, buscou-se preservar privilégios, mantendo uma desigualdade dentro do próprio funcionalismo estatal e colocando os interesses da maioria em segundo plano. Até mesmo nos anos mais inclusivos dos governos petistas de Lula e Dilma faltou coragem para mudar. Tanto é que, em outubro de 2018, houve a escolha pelo retrocesso...

Mas será que não podemos escrever uma nova História? Afinal, no plebiscito de 1993, o povo brasileiro não optou pela manutenção da atual forma de governo rejeitando a volta da monarquia? E como bem comentou o historiador e ex-deputado federal Chico Alencar no enunciado do vídeo postado hoje em seu perfil no sítio de relacionamentos Facebook,

"(...) Passado mais de um século, cabe a nós questionar: e a nossa República, como vai? E o povo, como opina? Continua alheio e bestializado? Para a multidão de marginalizados, que hoje somam 13,5 milhões de pessoas jogadas na miséria absoluta, o que significa a República para essa gente tão sofrida? É urgente reproclamar a República no Brasil!" (clique AQUI para assistir)

Creio ser este o caminho, o qual não tem mais volta. Aliás, até os anos de Lula não voltarão mais como muitos desejam de modo que precisamos saber construir o novo com ou sem governos assumindo o papel participativo que cabe a cada um, com responsabilidade e atuação propositiva. Pois quem sabe assim um dia o brasileiro não passará a gostar de fato da sua República?

Que possamos evoluir!

OBS: A ilustração acima refere-se à obra Alegoria da República (1896) do pintor Manuel Lopes Rodrigues (1860 - 1917), a qual se encontra no Museu de Arte da Bahia, em Salvador.

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