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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Por "mais ONU"!



Se não fosse por causa de tantos escândalos de corrupção em seu governo, Temer poderia ser um ótimo Presidente da República pois até que ele representou bem o Brasil na reunião de hoje na ONU e soube se posicionar diante dos graves problemas mundiais. Senão vejamos este trecho de sua fala, sendo meus os destaques em negrito:

"(...) Têm sido muitos os desafios enfrentados pelas Nações Unidas desde sua criação. E sabemos todos que não se cumpriram plenamente as aspirações de seus fundadores.
Mas a verdade é que, nestes mais de setenta anos, a ONU continuou e continua representando a esperança. A verdade é que a ONU continuou e continua representando a possibilidade de um mundo mais justo. Um mundo de paz e prosperidade. Um mundo em que ninguém tenha que sujeitar-se à discriminação, à opressão, à miséria. Em que os padrões de produção e consumo sejam compatíveis com o bem-estar das gerações presentes e futuras.
A ONU já se confirmou como espaço privilegiado para a construção desse mundo que almejamos. Construção que requer método e realismo, sem nunca perder de vista nossos ideais.

Neste momento da história, de tão marcados traços de incerteza e instabilidade, necessitamos de mais diplomacia e negociação – nunca menos. De mais multilateralismo e diálogo – nunca menos. Certamente necessitamos de mais ONU – e de uma ONU que tenha cada vez mais legitimidade e eficácia.
Não por outra razão, sustentamos, ao lado de tantos países, o imperativo de reformar as Nações Unidas. É particularmente necessário ampliar o Conselho de Segurança, para ajustá-lo às realidades do século 21. Urge ouvir o anseio da grande maioria desta Assembleia. (...)" - clique AQUI para ler a íntegra do discurso no Estadão

Sinceramente, concordo com o Presidente neste aspecto. Pois, embora objetivando colocar o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, uma reivindicação de governos anteriores, não podemos negar que o discurso de Temer de valorização das Nações Unidas vai de encontro ao que de fato o mundo hoje precisa para manter e promover a paz. Ainda mais com um líder norte-americano fanfarrão que não parece levar jeito para a diplomacia e está causando retrocessos desnecessários em suas relações internacionais com Cuba e Irã.

Outras posições maduras de Temer expostas neste encontro foram suas falas sobre livre comércio, meio ambiente, a solução de dois Estados para o conflito Israel-Palestina, repúdio ao terrorismo, contra as violações dos direitos humanos, defesa da democracia e a assinatura do Tratado de Proibição de Armas Nucleares sobre o qual abro outra citação:

"(...) Terei a honra de assinar, amanhã, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. O Brasil esteve entre os artífices do Tratado. Será um momento histórico.

Reiteramos nosso chamado a que as potências nucleares assumam compromissos adicionais de desarmamento.
O Brasil manifesta-se com a autoridade de quem, dominando a tecnologia nuclear, abriu mão, voluntariamente, de possuir armas nucleares. O Brasil pronuncia-se com a autoridade de um país cuja própria Constituição veda o uso da tecnologia nuclear para fins não pacíficos. De um país que esteve na origem do Tratado de Tlatelolco, que, há meio século, estabeleceu a desnuclearização da América Latina e do Caribe. De um país que, com seus vizinhos sul-americanos e africanos, fez também do Atlântico Sul área livre de armas nucleares. De um país, enfim, que, com a Argentina, estabeleceu mecanismo binacional de salvaguardas nucleares que se tornou referência para o mundo.
Ao marcarmos a conquista que é o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, cumpre, contudo, reconhecer: perduram, na agenda de paz e segurança, questões que suscitam fundada apreensão.
Os recentes testes nucleares e missilísticos na Península Coreana constituem grave ameaça, à qual nenhum de nós pode estar indiferente. O Brasil condena, com toda a veemência, esses atos. É urgente definir encaminhamento pacífico para situação cujas consequências são imponderáveis (...)"

Se pensarmos bem, a desnuclearização de todos os países, com a entrega de suas respectivas armas de destruição em massa para a ONU, seria a melhor solução para evitarmos futuramente não só uma guerra atômica como qualquer novo conflito mundial. Pois somente um organismo imparcial, como seriam as Nações Unidas, é que teria legitimidade para possuir um arsenal perigoso desses promovendo a sua gradual extinção.

E a conclusão do discurso do presidente brasileiro apontou qual o melhor caminho a ser tomado. Algo bem diferente do que ameaçou fazer Trump com a ONU, quando disse que iria enfraquecer a entidade financeiramente. E aí, mesmo eu sendo oposição ao governo Temer na política interrna, considero que ele soube realmente tratar bem das questões externas e não transformou a assembleia num palanque para falar aos brasileiros, que foi o famoso "discursar para dentro" como a ex-presidente Dilma andava fazendo:

"(...) Assim é nossa política externa: uma política externa verdadeiramente universalista.
E, Senhor Presidente, o mais universal dos foros com que contamos é esta Assembleia Geral.
Aqui nos beneficiamos do mais plural conjunto de perspectivas. Aqui encontramos os parâmetros e as normas para o convívio respeitoso. Aqui haveremos de nos tornar nações mais unidas – em nome do desenvolvimento de nossos povos, da dignidade de nossos cidadãos, da segurança de nosso planeta."

Fato é que para o mundo pouco importa saber de detalhes quanto aos nossos problemas internos de Operação Lava Jato, denúncias contra o Presidente, a corrupção no Parlamento e nas outras instituições estatais, o excesso de partidos, o sistema de governo adotado que não coaliza nada, dentre outros detalhes. Tornam-se relevantes, porém, o desempenho da nossa economia, o cuidado que precisamos ter com a o meio ambiente, além do respeito aos direitos humanos. E, apesar de não sermos nenhum bom exemplo para a humanidade nestas áreas (esse papo de redução do desmatamento da Amazônia é vitrine "para inglês ver"), acredito que a diplomacia brasileira tem muito a contribuir, voltando a recuperar o seu prestígio após o impeachment da Dilma.

Sim, por mais ONU! E eu defenderia até aquilo que se considera uma utopia: um governo mundial.

Precisamos talentosamente ajudar à comunidade internacional a não abandonar o propósito de construção de uma economia liberal, próspera, ambientalmente equilibrada, distributiva de riquezas e livre dos nacionalismos protecionistas. Pois, em nosso estágio evolutivo, não vejo outra maneira para a humanidade sobreviver a não ser pela união entre todos aderindo a uma nova ordem global livre e inclusiva.

2 comentários:

  1. Por vezes fala-se bem. O pior é essas falas corresponderem à prática
    .
    Deixo um abraço, sincero e amigo

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    Respostas
    1. Olá, Gil.

      Obrigado por sua visita e comentários.

      Sem dúvida, quando se trata políticos, as práticas nem sempre correspondem às falas.

      Um abraço

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