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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Como um grão de mostarda...


"Então, disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé. Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá." (Evangelho de Lucas, capítulo 17, versículos de 5 a 6; versão e tradução ARA)


Conforme chegamos a ver nestes estudos sequenciais sobre o 3º Evangelho, quando abordamos a parábola do grão de mostarda (Lc 13:18-19), devemos ter sempre em mente aquilo que a semente desta comentada planta simbolizou no contexto histórico do nosso Mestre. É o que consta na literatura rabínica conforme a lição de Geza Vermes (1924-2013) em seu livro O autêntico evangelho de Jesus, sendo meu o destaque:

"(...) é preciso que tenhamos em mente que a semente de mostarda simboliza, no dizer judaico, o menor volume ou quantidade. Quando os rabinos falam de uma minúscula gota de sangue, comparam-na com o tamanho do grão de mostarda (yBer 8d; bBer 31b). Em contraste, o arbusto em que a semente se desdobra é o maior da espécie: é grandiosamente chamado de árvore (...)" - Págs 150 e 151

No estudo bíblico anterior, Jesus havia ensinado os seus discípulos que eles deveriam perdoar sempre (Lc 17:3-4) e, ao que parece, o significado da semente de mostarda é então aplicado de maneira correspondente. Suponho eu que, devido ao uso da conjunção em destaque, a qual inicia o versículo 5, o ensino guarde sua relação com o tema do perdão como nos mostram os comentários correspondentes da Bíblia de Estudo de Genebra, muito embora, no 1º Evangelho, um dito bem parecido se aplique a uma outra situação (Mt 17:20):

"Aparentemente os apóstolos pensavam que grande fé seria necessária para perdoarem assim. Jesus aponta para aquilo que mesmo uma pequena fé pode realizar (...)"

Concordo com esta sugestão de explicação porque induz a um raciocínio contextualizado. A comparação com a mostarda pode ter servido para Jesus falar da operação da fé em pelo menos duas diferentes situações. Só que, nos dois versos anteriores à passagem bíblica citada, o Mestre estava ministrando sobre o perdão, continuando uma conversa que seria particular com os discípulos (versículo 1). E, sendo assim, faço a seguinte indagação:

Em que sentido pode a fé nos ajudar a liberar perdão já que seria preciso haver pelo menos uma dosagem bem mínima dela "como um grão de mostarda"?

O que posso considerar talvez seja a orientação para continuarmos a apostar numa transformação de caráter das pessoas por mais que elas cometam reincidentes falhas. Embora esteja aí envolvido o fator livre arbítrio, em que cada ser humano muda apenas se assim desejar, nunca podemos ignorar a ação convincente do Espírito de Deus sobre os corações das pessoas. Inclusive através do nosso comportamento amoroso quando nos dispomos a ser verdadeiramente agentes da salvação/recuperação do próximo.

É um teste de fé! Mas eu diria que uma das maiores razões que levam as pessoas a orarem seriam justamente os pedidos por seus familiares. Quantas mães não passaram anos de suas vidas clamando pela conversão de um filho que se perdia no caminho das drogas e da criminalidade?! Ainda assim, muitas dessas mulheres valentes jamais desistiram de lutar e continuaram intercedendo, levando uma foto ou uma peça de roupa do descendente para as reuniões de sua igreja.

Eu diria ainda que, para muitos casos, houve mães que nunca chegaram a ver com os olhos naturais a conversão do filho. Algumas foram para o túmulo apenas com a esperança, confiando no cumprimento das promessas divinas no tempo certo. Outras, porém, viram o fruto de seus ventres partindo prematuramente sem saberem em que momento possa ter ocorrido a tão aguardada mudança interior, mas permaneceram crendo na misericórdia e na fidelidade do Eterno em relação às suas famílias.

Ora, Jesus precisou também ter fé quanto aos discípulos que instruiu. Até à sua morte, eles cometiam várias imaturidades. Após a prisão do Senhor, Pedro ainda o negou por três vezes (Lc 22:54-62), mas o Mestre já contava com aquela atitude do homem que escolhera no mar da Galileia para ser um pecador de almas, pelo que teria até liberado antecipadamente o perdão (Lc 22:31-34).

Igualmente, assim também é a nossa caminhada. Seja no discipulado ou no trato com os nossos familiares mais íntimos. Não podemos desistir das pessoas de uma maneira tão fácil. Mesmo que venhamos a adotar algumas medidas disciplinares, ou de proteção física-emocional a ponto de restringirmos o contato, os alvos dos nossos posicionamentos não poderão deixar de ser a restauração e a reconciliação. E, se apesar de todos os esforços, o outro não reconhece a nossa compaixão, que a fé nos sirva de combustível para prosseguirmos cumprindo com o nosso papel.


OBS: Foto de origem desconhecida encontrada em vários sites na internet. Extraí a imagem diretamente de http://mfcmamonas.no.comunidades.net/index.php?pagina=1084767450_03

2 comentários:

  1. Eu creio Rodrigão que a nossa fé deve está bem firmada no Senhor, sabendo que "Ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo aquilo que pedimos ou pensamos," no entanto, não esquecendo que Deus não impõe a sua vontade de libertar, ao homem. Ele convida...

    Paz e graça.

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    1. Com certeza, amiga, que Deus não nos impõe a sua vontade quanto à escolha pessoal do bem. Esta é a grande beleza da nossa criação. Ao dotar o ser humano de vontade, o Eterno quer ver em cada um o amadurecimento/crescimento espiritual. Por isso, Ele nos dá chances e oportunidades para acertarmos. E, neste sentido, Jesus veio oferecer cura, libertação e conversão durante os dias de seu ministério. O Mestre amado nunca impôs nada e nem teria coagido qualquer um de seus discípulos para que o seguissem tornando-se participantes da ministração do Evangelho. Suas palavras tornaram-se sementes nas nossas almas que, no tempo se desenvolve e frutifica. Cada pessoa, porém, tem o seu momento certo para despertar e crescer.

      Abraços e obrigado pela visita ao blogue e comentários. A paz!

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