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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A violência que ainda consome o Rio


Esta semana o Brasil inteiro está lamentando a morte de seis adolescentes brutalmente assassinados na Baixada Fluminense. Amigos de infância, Josias, Victor Hugo, Christian, Glauber, Douglas e Patrick partiram de suas casas em Nilópolis para um banho de cachoeira no Parque Natural de Gericinó, mas não retornaram. Foram sequestrados por bandidos que controlariam uma comunidade próxima (favela da Chatuba) pelo que acabaram sendo torturados e mortos. Um dos autores do crime, quando atendeu ao telefone de um dos pais dos rapazes, simplesmente respondeu friamente que seu filho "já era".

É triste ver como anda a situação real dos arredores da cidade governada por Eduardo Paes e ajudada pelo governador Sérgio Cabral de seu mesmo partido. A política denominada de "pacificação", com a ocupação de algumas comunidades carentes com as UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), tem se evidenciado como um verdadeiro engodo, uma maquiagem dos lugares mais visíveis do espaço territorial urbano, mais precisamente dos morros do Centro, Zona Sul e da Grande Tijuca que é a área nobre da Zona Norte, além daquelas favelas bem populosas e conhecidas pelo público através da mídia: a Rocinha, a Cidade de Deus (lembram do filme?) e o Complexo do Alemão, onde morreu aquele jornalista da TV Globo - o Tim Lopes.

Entretanto, a maior parte do Rio ainda permanece sob o controle direto do tráfico a exemplo do que se vê na extensa Zona Oeste, no Complexo da Maré e em muitos outros locais da Zona Norte. Pois, deixando o bucólico Grajaú (bairro da Grande Tijuca) em direção aos antigos "subúrbios", avista-se da estação de trem do Méier o Complexo do Lins, o qual se extende até um trecho da estrada que vai para Jacarepaguá, no Morro do Encontro, onde certa vez o carro de um juiz trabalhista foi atingido por tiros. Mais adiante, na região de Madureira (cinco estações depois), muitas comunidades ainda vivem submetidas à ditadura dos comandos criminosos e pude constatar bem de perto esta realidade nos quase dois meses em que minha esposa permaneceu internada numa clínica em Piedade, próxima ao Morro do Urubu, onde atua uma facção do tráfico. Durante o período de 12/07 a 07/09, ouvi falar de mortes ocorridas ali tal como acontecia com frequência nos morros do Andaraí e dos Macacos antes da vinda das UPPs.

Será que o governo do Rio de Janeiro investirá todos os recursos necessários para ampliar essa política de segurança para todo o estado e completará o trabalho iniciado nas comunidades tidas como "pacificadas"?

É justamente aí que podemos avaliar o tamanho do cobertor, que é curto.

Sabedores de que o Rio irá sediar a final da Copa de 2014 e os jogos olímpicos de 2016, nossas autoridades resolveram investir nas áreas de maior proximidade com os roteiros turísticos ou que se tornaram conhecidas mundialmente a exemplo da Rocinha, o Alemão e a Cidade de Deus, já citadas neste texto. Só que as causas do crime organizado não estão sendo suficientemente combatidas de maneira sistêmica sendo certo que, com a ocupação dos antigos pontos de venda de drogas, a bandidagem simplesmente migrou para novos locais. O interior fluminense, anteriormente um refúgio de quem tinha resolvido fugir da violência nos grandes centros urbanos, está com a sua paz ameaçada. Municípios da Baixada, da Costa Verde, da Região Serrana, da Região dos Lagos, do Vale do Paraíba e do Norte Fluminense tornaram-se igualmente perigosos.

Não nego que a política de segurança permitiu que eu pudesse visitar este ano os morros e as matas do Grajaú, bairro do Rio onde fui criado na infância até os sete anos, a ponto de ter explorado livremente várias quedas d'água ali por perto que até bem pouco tempo eram controladas pelos traficantes. Contudo, não me conformo em saber que outras cachoeiras do estado estão se tornando impróprias para banho devido à crescente violência. Lamento que jovens moradores dos municípios de Nilópolis e de Mesquita, amantes do ecoturismo assim como eu, agora precisem evitar futuros passeios às unidades de conservação da natureza. E espero que essa bela região de Muriqui, o 4º Distrito de Mangaratiba, lugar onde estou agora morando, de modo algum tenha os seus recantos ocupados por bandidos.

Finalizo o texto solidarizando-me com a dor das famílias dos seis rapazes assassinados final de semana na Baixada Fluminense e convoco a sociedade brasileira para mobilizar-se contra esse tipo de covardia. Chega de tanta violência! O Rio de Janeiro todo precisa de paz.

2 comentários:

  1. Olá rodrigo, realmente toda indignação, protestos e criticas são pouco diante de um caso tão assombroso como esse que ocorreu. mais por outro lado as vezes é até difícil comentar uma coisa que nos traz tanta revolta. Parabéns pelas palavras! deixei uma resposta que me foi possível a seu comentário no meu post sobre esse fato tão triste que fica até difícil falar. um grade abraço.

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  2. Caro Gabriel,

    Esta ditadura do crime é inaceitável e a sociedade precisa levantar a cabeça e se posicionar.

    As ruas, as praças e os parques são nossos! Não podemos permitir que se tornem espaços controlados pelos bandidos e que a nossa liberdade fique confinada aos shoppings. Ainda mais quando os políticos mentem desavergonhadamente dizendo que o Rio está sendo "pacificado".

    Obrigado pelos comentários.

    Abraços.

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