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sábado, 4 de agosto de 2012

A auto-estima recuperada no divã da graça de Deus

É muito comum ouvirmos no meio popular que para alguém conseguir amar o outro é preciso primeiramente amar a si próprio. E, sob certo aspecto, compreendo o que se quer dizer com isto porque, em tal caso, a referência seria quanto à auto-estima do indivíduo e não ao seu egocentrismo.

Acho importantíssimo a pessoa sentir-se realmente acolhida em seu íntimo. A Bíblia nos diz que foi Deus quem nos amou primeiro pois, sendo a humanidade errante e rebelde, todos fomos graciosamente aceitos pelo Criador que demonstrou a sua eterna bondade de diferentes maneiras até, finalmente, revelar tão incomparável graça em seu Filho Jesus Cristo. Este é o amor que entre os homens foi conhecido e deve ser anunciado ao mundo:

“Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” (1João 4.10)

Com sua digníssima obra, Cristo Jesus tornou-se o maior símbolo da graça divina acessível a todos. Através dele entendemos que os nossos pecados estão perdoados e podemos compreender que Deus já está reconciliado conosco independente de ainda sofrermos as conseqüências dos atos praticados, colhendo aquilo de ruim que foi semeado.

Por meio de Cristo, somos incondicionalmente aceitos, salvos e libertos! Podemos, assim, usufruindo de tão grandiosa graça, tratarmos a nossa machucada auto-estima que algum dia foi tão massacrada por palavras más ou por comportamentos de outras pessoas com as quais convivemos tanto no passado quanto no presente.

Neste sentido, fico imaginando o interior psicológico de quem foi moralmente assediado por seus pais, cônjuge, professor, colega de escola, vizinho, chefe ou superior hierárquico. Penso também nas pessoas que, além de receberem palavras ofensivas, são vítimas de outras formas de violência no seu corpo físico, na liberdade de ir e vir, nas finanças, na sexualidade e até nas escolhas religiosas. Pois, dependendo da experiência, a vítima pode começar a se ver como alguém sem dignidade alguma, um zero na sociedade, passando a ter maiores probabilidades de algum dia descarregar suas frustrações em outros.

Não é por menos que hoje o mundo vive um tsunami de amarguras onde o rebaixamento consciente da auto-estima alheia tornou-se até uma estratégia maligna de dominação de uns sobre os outros. E os homens que padecem desse problema têm grande potencial para anularem as suas companheiras jogando-as para baixo já que, dificilmente, eles conseguirão amá-las até que comecem a se tratar.

Ora, mas o que podemos fazer quando é preciso ainda conviver com pessoas duras de coração e que estão indispostas a mudar? Será que tudo se resolve com o simples afastamento delas?

Penso que há situações nas quais a distância torna-se inevitável, mas esta atitude jamais poderá efetivamente ajudar na maneira como precisamos lidar com os fatos desagradáveis registrados na memória. E aí ressalto que a solução será encararmos um tratamento com o divã da graça de Deus.

Nos salmos, deparamo-nos constantemente com poemas que revelam o interior caótico de uma mente atribulada. Seus autores, por viverem numa época bem antiga, quando ainda não se vislumbrava o amor pelos inimigos, oravam fervorosamente com imprecações contra quem estivesse lhes fazendo mal. Com fé, os salmistas agarravam-se na eterna misericórdia divina, buscando renovar suas forças Naquele que não nos trata segundo os nossos pecados. Logo, por mais que o poeta bíblico se sentisse um verme e não homem, ele fazia do Altíssimo a sua rocha de proteção, seu socorro bem presente no dia da angústia e a sua morada eterna.

Atualmente, em que vejo pessoas tentando elevar a auto-estima sem incluírem Deus, percebo o quanto o mundo tem caminhado para um terrível abismo. Uns optam equivocadamente por proferir palavrões, acreditando ser isto um desabafo saudável. Porém, de que vale tal atitude reativa? Dizer ao vento palavras de baixo calão não seria uma maneira de expressar ingratidão?

Paralelo a isto, também vejo muita gente cometendo o erro de compensar suas tristezas indo a um shopping ao invés tratarem o interior maltratado. Mas, se refletirmos bem, para que alguém precisa enganar a si próprio com a aquisição de bens de consumo? Será que manifestar algum status no meio social vai resolver o problema? Não será melhor abrir o coração com o Pai Celestial bendito e deixar que o seu bálsamo cure todas as feridas da alma?

Concluo lembrando sobre o grande potencial que temos para apoiarmos as pessoas ainda obstruídas quanto ao relacionamento amoroso com o Deus invisível. Creio que, vivenciando o amor do Onipresente, podemos transmiti-lo para todos de várias formas, sendo indispensável aprendermos a ouvir o próximo na sua dor e fortalecermos a auto-estima de cada irmão ou irmão. E, com a autoestima tratada em Deus, tornamo-nos agentes de sua graça.

Finalizo compartilhando a letra de um inspirado corinho que, desde a adolescência, ouvia e cantava no grupo jovem da igreja. É uma música bem fácil de aprender e que pode muito bem ser aprofundada em maiores detalhes pelos líderes das congregações pois todos temos um grande valor para Deus que nos ama imerecidamente pela sua maravilhosa graça. E basta a graça para sermos importantes!


Quero que valorize o que você tem
você é um ser
você é alguém
tão importante para Deus
nada de ficar sofrendo angústia e dor
neste seu complexo interior
dizendo às vezes que não é ninguém

Eu venho falar
do valor que você tem (bis)

Ele está em você
o Espírito Santo se move em você
até com gemidos
Inexprimíveis
inexprimíveis

Aí você pode então perceber
que prá Ele há algo importante em você

Por isso levante e cante
exalte ao Senhor
Você tem valor

o Espírito Santo se move em você...



OBS: A ilustração acima trata-se de uma foto do sofá onde Freud atendia os seus pacientes e foi extraída da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Freud_Sofa.JPG

6 comentários:

  1. Olá Rodrigo, vejo que você é um estudioso da Bíblia e assuntos correlatos, e confesso ser uma ignorante total porque já passo de uma premissa diferente: Deus pra mim é algo sobrenatural, acredito nele porque vejo seus feitos, o Equilíbrio do Universo, as Galáxias,a Morte, a Vida, todos os seres vivos, etc porém não consigo nem de longe imaginar que Deus tenha enviado um filho, homem, (pq não mulher,rsrs) que viveu tão pouco aqui na terra, sim, teve mãe mas não teve "pai", e tudo que contam sobre Jesus Cristo...não consigo conceber o Deus que acredito com essa sintonia, pra mim ele está muito além disso tudo. "...enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados", isso me lembra quando criança uma tia que queria que eu fizesse a primeira comunhão e para isso teria que confessar na Missa ao Padre meus Pecados, que pecado meu Deus? Já ali aos meus 9anos nunca fui convencida: confissão a Padre, salvação, Espírito Santo, Papa,Virgem Maria, "Jesus", José... Você acredita dessa forma por muito ter estudado ou por Fé? Eu me conformo com minha ignorância de não saber de onde vim para onde vou mas tenho certeza que há uma ordem nesse caos e que Deus existe, algo que nem sei o que é, mas que tem poder!! Desculpe, mas tenho que contar que não acredito dessa mesma forma e vamos vencendo os atropelos que fazem parte do show de viver.

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    1. Olá, Wilma.

      Obrigado por suas contribuições.

      Creio que Deus está muito acima de nossas concepções humanas teológicas, doutrinárias, religiosas, etc.

      Embora eu maneje a Bíblia na elaboração de meus textos (não desprezo a minha formação cristã batista), não sou fundamentalista.

      Sobre a frase "...enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados", entendo a visão cristã acerca do sacrifício de Jesus como uma forte simbologia da graça e que, no contexto em que os livros do Novo Testamento foram escritos, teve (e tem) uma forte significação. Representou uma ruptura quanto aos sistemas penitenciais daquelas religiões do mundo romano nos séculos I e II. O reconhecimento de que Deus já se encontra (e sempre esteve) reconciliado com a humanidade revoluciona a nossa maneira de lidar com a Vida.

      Observe, amiga, foram os próprios homens que criaram a separação de Deus alienando-se da Essência da Vida. As encrencas fomos nós mesmos, por razões de nossas atividades, que inventamos. Daí, quando resolvemos retornar ao princípio de tudo, ao nosso estado anterior de harmonia com o Universo, acabamos por criar mais encrencas ainda pelas doutrinas das religiões. E acho que até a mensagem do sacrifício de Jesus que se expressa pela palavra GRAÇA ainda não foi suficientemente entendida pelas religiões e seitas cristãs. Inclusive pela maior de todas estas seitas que é a Igreja Católica. Aliás, acho que a compreensão completa da graça e sua aplicação em nossas vidas ainda é um processo de crescimento e aprendizado pessoal.

      Citando um trecho de seus comentários:

      "Deus pra mim é algo sobrenatural, acredito nele porque vejo seus feitos, o Equilíbrio do Universo, as Galáxias,a Morte, a Vida, todos os seres vivos, etc"

      Também creio dessa forma e vejo aí uma manifestação dessa maravilhosa GRAÇA. Pois nada fizemos para existir. A Vida surgiu e nos proporcionou momentos de felicidades, admiração, contemplação e nos fexz participantes Dela. Olhamos para o Universo, a natureza e todo que há mais belo e por que não louvar a Inteligência Superior que comanda todas as coisas? Porém, também existe a destruição, pessoas, animais, planetas e galáxias morrem. Partimos um dia dando lugar a outros que virão e o mesmo ocorreu com os nossos ancestrais e também acontecerá com os descendentes que deixaremos. E isto mostra a grandeza da Vida perante nós, nossos planos, anseios e apegos. Passaremos, porém Deus é eterno. Até os céus passarão, mas Deus permanece para sempre.

      Mais é interessante que Deus, na sua inalcançável grandeza manifesta-se também em pequenas coisas, em momentos de segundos e situações menos esperadas. Diante das palavras e de livros escritos nos seus contextos culturais, há uma Essência que está acima da cultura de um povo. E, se focarmos na compreensão dessa Essência, olhando para além das narrativas, as quais nada mais são do que mera roupagem, veremos algo espetacular. E, por este motivo, é que continuo apegado à Bíblia e ao Evangelho de Cristo.

      Ótima semana pra você, amiga, e obrigado por compartilhar aqui seus pensamentos.

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    2. Respondi no texto mais recente e voltei aqui. Espero que esteja bem, você e sua esposa.
      Obrigada pela resposta, admiro sua narrativa, vejo que você é um estudioso e um leitor como gostaria de ser,rsrsrs
      Destaco a frase que gostei:"... há uma Essência que está acima da cultura de um povo..." É verdade, essa essência pelos poucos povos que conheci vejo que a seu modo cada um se explica, mas a essência é a mesma, a INCERTEZA de uma vida que nos foi dada, ou como você disse brilhantemente:"... Pois nada fizemos para existir" e o grande desafio e sentimento do dever cumprido pra mim é manejar, essa mesma essência que à vida me trouxe, prazerosamente até o dia que ela me levar, isso acho bacana, alguém ser convidado a nascer e morrer com "elegância", não é o máximo, morrer por exemplo dormindo? Gostaria imenso ter essa SABEDORIA. Porém triste é morrer como por exemplo aquela mulher que assaltou o restaurante na Tijuca, aos 37anos anos!! que convite à vida e à morte, não é?? Fiquei tão impactada, passava por ali naquele dia e hora. Enfim, é a vida. Todavia, acredito que a grande magia dessa VIDA é mesmo essa INCERTEZA, essa FINITUDE para alguns (alguns se acham eternos), essa CORDA BAMBA, ESSA RODA GIGANTE, GANGORRA... rsrsrs Bom Dia Rodrigo e a certeza que o amanhã sempre será melhor ainda...apesar de qualquer coisa.

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    3. Olá, amiga!

      Triste este episódio que ocorreu no restaurante da Tijuca! Repentinamente as coisas acontecem no Rio sem aviso prévio. A cidade parece calma, mas nem tanto...

      Concordo com sua análise. Mas é em meio ao ambiente de incerteza que a vidsa nos coloca que as pessoas desenvolvem algo bem interessante chamado de fé.

      A fé é a crença na Vida, é olhar para além do horizonte, buscar inspiração/motivação para não deixar de caminhar mesmo quando as coisas vão mal, a violência anda solta no mundo, problemas surgem e nem tudo ocorre como gostaríamos.

      Ninguém sabe o dia que irá partir. Podemos viver trinta e poucos anos como também chegarmos aos 100. E, infelizmente, tem pessoas que passam mais de 80 anos "vivendo" sem nenhum sentido. Há quem chegue na velhice e, apesar de não ter cometido crimes, fez mal a muitos em sua volta com palavras e ações más,a ponto de afastar-se da família e da comunidade.

      Os evangelhso falam sobre Jesus que teria vivido pouco segundo a tradição da Igreja - uns 33 anos. Porém, creio que foram três décadas e um terço de década bem significativos.

      Abraços.

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  2. Rodrigão

    Esse hino é um grande antídoto contra a baixa auto-estima. O autor foi muito feliz, até sobre a ótica da psicanálise. (rsrs)

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    1. Com certeza, Levi! É um hino maravilhoso e bem edificante que pode nos transmitir força nos momentos mais difíceis de nossas vidas. Por mais que as coisas estrejam difíceis e que a pessoa tenha o mal costume de se depreciar por inúmeras razões, vale a pena lembrar dessa mensagem e aí a música ajuda bastante na sua interiorização. Abraços.

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