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sábado, 16 de janeiro de 2010

O Salmo 22 e agente: muita coisa a ver


Embora tenhamos um grande apego pelo Salmo 23, conhecido como “O SENHOR é o meu pastor”, não podemos desprezar as riquezas contidas no Salmo 22, o qual em muito pode nos ajudar durante os momentos de grande sofrimento assim como foi lembrado por Jesus em seus últimos instantes quando esteve pendurado na cruz.

Em minha vida também já me senti como Davi no começo do Salmo 22 por não ver uma solução imediata para o meu problema, ainda que a situação enfrentada não fosse lá tão grave e às vezes eu soubesse explicar os motivos de minha dor. Nem sempre, porém, cheguei a fazer como o salmista, o qual não apenas desabafou o seu drama como foi capaz de compartilhar também com Deus os seus próprio sentimentos, numa verdadeira amizade íntima com o SENHOR.

O Salmo 22, além de conter preciosas passagens proféticas que pressentiram o sofrimento do Messias, também é uma demonstração da fé do poeta que o escreveu. Davi começa falando da falta de resposta de Deus ao seu sofrimento, expressando as aflições de um homem que, mesmo após orar e clamar, ainda não via a sua situação aparentemente solucionada.

No entanto, o poeta, em meio à sua luta, reconhece quem é o seu Deus e se lembra do livramento prestado pelo SENHOR no passado ao povo de Israel (versos 4 e 5), numa provável referência ao Êxodo.

Entre os versos de 6 a 8 e de 11 a 18, o salmista expõe de forma poética e sincera o seu sofrimento, coincidindo com as aflições do Messias em sua morte e prevendo acontecimentos como a repartição de suas vestes pelos soldados romanos.

Contudo, o Salmo 22 não é apenas profético, sendo que até a crucificação de Jesus dificilmente alguém poderia imaginar que Davi, mil anos antes, teria previsto alguns detalhes do sofrimento de Cristo, o qual repetiu na cruz as palavras do primeiro verso em aramaico: “Eli, Eli, lamá sabactáni?” (Mateus 27:46)

Para o contexto de Davi, porém, o Salmo 22 significava o comportamento de um crente sofredor, o qual não escondeu de Deus o seu drama e nem mesmo o sentimento de desamparo pela a ausência de uma resposta divina, mas reconhecendo o plano do SENHOR em sua vida desde o nascimento, pelo que, mesmo em meio à angústia, o salmista continuou buscando o livramento.

Nota-se que, a partir do verso 22, o ânimo do salmista muda quando ele começa a louvar e a glorificar a Deus, vencendo a tentação de se levar pela inútil autopiedade. A partir daí, verifica-se que não é o sofrimento que governava o coração e a mente do poeta e sim a sua confiança em Deus que podemos muito bem chamar de fé. E, depois de ter experimentado as dores de uma forte angústia comparáveis ao sentimento de morte, Davi declara a esperança que aguarda os crentes sofredores (verso 26).

Além disso, o salmista declara o controle de Deus sobre a história e sobre as nações, chegando a profetizar a conversão dos povos ao SENHOR, o que também é outra manifestação de fé.

Para Philip Yancey, o Salmo 22 forma um contraste com o tão festejado Salmo 23, dizendo que:

“É verdade que Davi acha um tipo de solução no salmo 22, ao divisar um futuro em que Deus governará as nações e os pobres ganharão sua parte. Mas ele deixa bem claro o que está sentindo no momento em que escreve: 'Meu Deus! Eu clamo de dia, mas não respondes (…) Mas eu sou verme, e não homem (…) Como leão voraz rugindo, escancaram a boca contra mim (…) e todos os meus ossos estão desconjuntados (…) e a minha língua gruda no céu da boca; deixaste-me no pó, à beira da morte' (…) Tenho descoberto que esses salmos estão desafiando diferentes tipos de fé. O salmo 23 forja a fé como de criança, e o salmo 22 modela a fidelidade, um tipo de fé mais profundo e misterioso. A vida com Deus pode incluir os dois tipos. Às vezes experimentamos momentos de rara proximidade, quando as orações são atendidas de forma inequívoca e Deus parece íntimo e atencioso. Mas também experimentamos dias negros, em que Deus se cala, em que nada funciona de acordo com as fórmulas, e todas as promessas da Bíblia parecem descaradamente falsas. Um dos aspectos da fidelidade é aprender a confiar que, para além dos limites da escuridão, Deus ainda reina e não nos abandonou, não importam as aparências”.

Assim como Davi, creio que devemos cultivar um relacionamento com Deus que tenha a mesma abertura. Não devemos esconder Dele nem a nossa falta de fé, confessando o nosso temor mais íntimo de que suas promessas não se cumpram em nossas vidas e, ao mesmo tempo, sendo capazes de transcender o sofrimento reconhecendo o seu controle sobre o universo e o seu amor para conosco. Deus nos conhece por inteiro e, portanto, não podemos ter medo de expor em oração sobre como vai o nosso coração.

2 comentários:

  1. Graça e paz irmão Rodrigo, Deus seja louvado por sua vida e por esta profunda e prática reflexão quanto ao salmo 23. Tenho vivido nestes ultimos momentos de anseio por respostas de DEUS,os dias tem sido difíceis mas creio que realmente o tempo de DEUS não semelhante ao nosso.

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  2. Olá! Seja bem vindo ao meu blog! Posso compartilhar que também passo pelos meus anseios em ter uma resposta de Deus e creio que todos os heróis da fé também devem ter experimentado o mesmo. Mas creio que é nestas horas que demonstramos fé. Abraão já não tinha mais motivos visíveis no mundo físico para acreditar que aos 100 anos ainda iria ser pai. E, mesmo tendo tropeçado algumas vezes (a Bíblia nunca esconde o lado humano das pessoas), Abraão é chamado o "Pai da Fé". Aliás, esta é a grande beleza das Escrituras! Abraão, após ter chegado à terra da promessa, passou adiante e desceu ao Egito. Após retornar para sua peregrinação em Canaã, chegou a pensar que seu herdeiro da promessa nasceria de Hagar e não de sua esposa Sara. Por duas vezes disse que sua esposa era sua irmã com o medo de ser morto. Contudo, ele permaneceu crendo e aceitou qual era o seu chamado em Deus, o seu papel nesta vida. Da mesma maneira, acredito que nós atravessamos nevoeiros semelhantes nas nossas vidas, quando não temos nem respostas ou explicações para o que estamos atravessando. Porém, nestas horas, a fé nos mantém. Um forte abraço e receba minhas boas vindas.

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