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segunda-feira, 29 de julho de 2024

Uma reeleição bem suspeita



Apesar de nutrir simpatia por várias ideias de esquerda, jamais apoiarei ditadores, sejam de qual ideologia forem, sendo que, com o regime autoritário de Maduro, não tem exceção. No entanto, ainda mantive uma pequena ponta de esperança de que, na eleição de ontem, a oposição na Venezuela pudesse ter direito a uma disputa limpa.


Pois bem. Nesta segunda-feira (29/07/2024), o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) declarou Nicolás Maduro como vencedor das eleições presidenciais. Porém, o resultado foi logo contestado pela líder oposicionista María Corina Machado, impedida de concorrer no pleito, segundo a qual a declaração do CNE contrariou as pesquisas internas que, por sua vez, apontavam vitória da oposição com ampla margem em relação ao ditador, om cerca de 70% dos votos contra 30% dos governistas.


Fato é que, se em 2018, os resultados foram divulgados no mesmo dia da eleição, dessa vez, intriga o fato de o anúncio do CNE ter ocorrido após horas de indefinição bem como em meio a queixas da oposição de irregularidades na apuração dos votos. 


Sinceramente, acho muito difícil de acreditar das divulgações que são feitas pelo próprio regime chavista em que as instituições estatais se encontram aparelhadas. Tanto é que o presidente do Chile, Gabriel Boric, umas das mais promissoras lideranças da esquerda na América Latina, disse não reconhecer "nenhum resultado que não seja verificável".


Com mais cautela nas palavras, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, afirmou que o país "tem sérias preocupações de que o resultados não refletem a vontade ou os votos do povo venezuelano". E, certamente, essa dúvida é a mesma compartilhada pelos países que têm compromissos com a democracia global.


Por outro lado, governos de países como Cuba, China, Nicarágua, Bolívia e Rússia deram parabéns ao Maduro. As palavras de Vladimir Putin, proferidas nesta segunda-feira (29/07), deixaram claro que oi interesse do ditador russo está em relação à "parceria estratégica" entre Moscou e Caracas: 


"As relações russo-venezuelanas têm a natureza de uma parceria estratégica. Estou confiante de que sua atuação como chefe de Estado continuará a contribuir para o seu desenvolvimento progressivo em todas as áreas (...) Isso atende plenamente aos interesses de nossos povos amigos e está alinhado com a construção de uma ordem mundial mais justa e democrática (...) Eu gostaria de confirmar nossa disposição de continuar nosso trabalho conjunto construtivo em questões atuais da agenda bilateral e internacional"


Além das eleições, essa parceria também preocupa porque hoje a Venezuela é país aliado no expansionismo russo na Europa assim como consentem o Irã e a Síria, no Médio Oriente. Desse modo, Maduro acaba obtendo uma sustentação na política internacional entre os regimes mais retrógrados autoritários do mundo, apesar de se dizer "socialista".


Felizmente, Lula ainda está "em cima do muro" ao invés de parabenizar o ditador do país vizinho no dia seguinte ao pleito, demonstrando ser necessário aguardar ainda a divulgação de dados mais completos sobre a eleição. Em nota do Itamaraty, o presidente teria dito que "saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração". E, neste sentido, até à posse em janeiro de 2025, a posição do governo brasileiro terá grande importância para mediar essa situação.


A meu ver, um grave erro de Maduro foi ter dito, sem provas, que as urnas brasileiras não são auditáveis, provocando a publicação de uma nota do nosso Tribunal Superior Eleitoral:


"Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito para acompanhar o pleito do próximo domingo"


Que Lula mantenha prudência e coerência diante dessa situação, adotando por princípio o respeito à vontade verdadeira do povo da Venezuela. E parabéns ao candidato da oposição Edmundo González Urrutia por sua atuação!

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