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segunda-feira, 15 de novembro de 2021

O melhor do 15 de Novembro foi em 1982!



Por algum tempo pensei que nós brasileiros jamais teríamos razões para comemorar a data da Proclamação da República. Pois, como bem sabemos, o episódio mais marcante de 1889 foi na verdade um golpe armado entre militares e aristocratas rurais para expulsarem a família real, tratando-se de algo que nunca expressou a vontade popular.


No meu entender, a monarquia um dia iria acabar no Brasil, o que, possivelmente, aconteceria nas décadas de 20 ou 30 do século XX em razão dos movimentos de massa da época. Porém a sua interrupção abrupta pelo Exército, ainda que com o apoio de um grupo de intelectuais positivistas, evidencia o quanto o nosso país teve o seu destino definido por uma minoria privilegiada uma vez que os barões do café não se conformavam com os prejuízos da abolição da escravatura.


Não nego que, por algumas vezes, até já cogitei que o 5 de Outubro, que se refere à promulgação da nossa atual Carta Política de 1988, seria mais significativo para substituir o feriado de 15 de Novembro. No entanto, acabei encontrando uma razão para não alterarmos as coisas por enquanto, uma vez que mexer em referenciais já estabelecidos gera impactos sociais muitas das vezes com efeitos contrários ao desejado.


Pois bem. Então vamos comemorar o que há de positivo no dia de hoje e recordemos o bem sucedido pleito geral de 1982, no 93º aniversário da nossa República, quando 58.616.588 eleitores fizeram História e foram realizadas as primeiras eleições diretas no Brasil desde o golpe de 1964 (exceto para presidente). Nesse tempo, eu já era uma criança de seis anos, morava num bairro residencial da Zona Norte do Rio de Janeiro, e adorava colecionar os panfletos dos candidatos que recolhia pelas ruas, embora sem entender tudo o que estava acontecendo no país.


Apesar do regime militar que ainda vigorava, o Brasil vinha se redemocratizando, o pluripartidarismo já fora restabelecido, e havia um ardente desejo por mudanças no meio social. Pessoas que foram exiladas no final dos anos 60 e na primeira metade da década de 70, estavam então de volta à vida política do país, graças à "Lei da Anistia", de 28 de Agosto de 1979. E uma dessas figuras foi o engenheiro gaúcho Leonel de Moura Brizola (1922 – 2004), tido como um dos "inimigos públicos número um" da ditadura, o qual optou por ser candidato ao governo fluminense ao invés de concorrer ao Palácio Piratini no Rio Grande do Sul, justificando a sua escolha com a seguinte frase: "Vamos retomar o fio da história exatamente onde pretenderam interrompê-lo, no Rio de Janeiro".


Embora aquelas eleições tivessem regras bem diferentes da atualidade, uma vez que, além do voto ter sido em papel, havia também a vinculação partidária (o eleitor teria que escolher candidatos de uma mesma grei para todos os cargos em disputa, sob pena de anulação), o resultado das urnas revelou a força da oposição que venceu nos mais representativos colégios eleitorais: Franco Montoro (PMDB) em São Paulo, Tancredo Neves (PMDB) em Minas Gerais e Leonel Brizola (PDT) no Rio. Já as duas casas do Congresso Nacional ficaram equilibradas entre parlamentares do governo (PDS) e partidos da oposição.






Podemos dizer que, de certo modo, o Rio de Janeiro acabou se tornando um "ponto vermelho no mapa" com a vitória de Brizola, o qual trouxe importantes conquistas para o estado, sobretudo na área educacional com a construção dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), instituições idealizadas pelo saudoso vice-governador Darcy Ribeiro (1922 — 1997). E não foi a toa que a sua gestão muito incomodou as elites brasileiras que, sem poderem fazer uso da repressão política, promoveram constantes ataques difamatórios por meio da mídia.


Todavia, Brizola é até hoje lembrado como um dos mais representativos personagens de 15 de Novembro de 1982 e chegou ao Palácio da Guanabara, com um amplo apoio dos moradores das comunidades carentes. Aliás, o Rio de Janeiro (cidade) de 1982 encontrava-se num nível de politização mais elevado e, indubitavelmente, exalava uma cultura de melhor qualidade do que nestes dias de decadência atualmente vivenciados. Mas aí já é uma outra história, sendo que espero por uma redefinição dos rumos dessa unidade federativa em 2022 mais à esquerda. Quem sabe com Freixo e/ou Rodrigo Neves...


OBS: Créditos autorais da foto acima atribuídos a Eurico Dantas/O Globo, a qual se refere a um comício do PMDB no Largo da Carioca, em 10/11/1982.

2 comentários:

  1. Olá, Rodrigo!

    Espero que vc e sua esposa se encontrem bem. Por aqui, frio e a gripe atacando.

    O 15 de novembro daí representa o 5 de outubro de cá. Muitas transformações aconteceram, mas aqui houve "n" governos. A instabilidade social e política foi um facto.

    Viver em Monarquia é bem diferente que viver em República.

    Fiquei sabendo de algumas coisas que desconhecia daí com seu post, como sempre muito bem escrito, mas o nome Brizola me é "familiar".

    Abraços e dias felizes.

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    1. Oi, CEU

      Obrigado pela visita.

      Por aqui ainda não chegou aquele calorão abrasador, mas estamos próximos. Porém, tenho lido as notícias da Europa quanto à pandemia. E, infelizmente, temo que daqui uns meses o Brasil possa passar por uma terceira onda também dessa doença, com riscos maiores para quem não se vacinou.

      A monarquia no Brasil durou desde a independência, em 7 de setembro de 1822 até à república na data de 15/11/1889, sendo a república portuguesa mais recente. E nos dois países foram mesmo muitos governos e os que mais duraram foram os do Estado Novo de inspiração fascista. Ainda assim, a nossa revolução de 1930 teve o apoio popular, o que não houve na República, porém sem conduzir na época a uma democracia. Esta só começou a ser de fato experimentada no Brasil com o fim do Estado Novo, em 1945, e a Constituição de 1946, tendo durado menos de 20 anos até o regime militar em 1964.

      Realmente há diferenças entre as duas formas de governo, embora para a maioria da população haja outros anseios mais importantes. Tanto é que em 1993, fizeram um plebiscito aqui sem sucesso consultando a população se queria de volta a monarquia ou a manutenção da república.

      Quanto ao Brizola, ele esteve em seu país no ano de 1978 antes de conseguir voltar ao Brasil. Foi daí que escreveram a "Carta de Lisboa" no ano seguinte e ele tinha o apoio e a simpatia de muitos políticos do PS. Segue o link:

      https://www.pdt.org.br/index.php/carta-de-lisboa-o-prestigio-de-brizola-e-a-genese-socialista-do-pdt/

      Um abraço e volte sempre

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