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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Bancada evangélica diminuiu! Aleluia!

Embora a opinião dos evangélicos tenha sido decisiva para que houvesse um segundo turno nas eleições presidenciais, foi menor o número de parlamentares da dita "bancada evangélica" no Congresso Nacional, o que demonstra que a tendência de crente votar em crente já está ficando ultrapassada. Em 22/09/2010, eu já havia diagnosticado no artigo "Quem disse que crente só pode votar em crente?" a nova tendência no eleitorado evangélico que, embora ainda seja minoritária, tende a crescer.


Estes são os nomes dos deputados federais evangélicos eleitos aqui pelo Rio de Janeiro: Garotinho (1º, 694.862 votos); Eduardo Cunha (5º, 150.616 votos); Washington Reis (9º, 138.811 votos); Arolde de Oliveira (13º, 99.457 votos); Filipe Pereira (14º, 98.280 votos); Andreia Zito (22º, 82.832 votos); Benedita (30º, 71.036 votos); Doutor Adilson Soares (38º, 51.011 votos); Neilton Mulim (41º, 41.480 votos); Liliam Sá (43º, 29.248 votos); Aureo (44º, 29.009 votos).


A Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional encolheu para o período 2011-2014. Se eram mais de 40 parlamentares até a atual legislatura, o número para começar a nova legislatura ano que vem não deve ultrapassar a casa dos 30 parlamentares. Apenas a "Bancada Assembleiana", por assim dizer, teve aumento.

Na legislatura de 2003-2006, ocorreu o recorde de deputados federais assembleianos eleitos: 22. Na legislatura seguinte (2007-2010), esse número caiu drasticamente para 5 deputados federais. Agora, após o pleito de ontem, houve um significativo aumento: haverá 12 deputados federais assembleianos na próxima legislatura.


Atualizado terça-feira, dia 5, às 14:58
Data: 4/10/2010 09:12:56
Fonte: CPAD News

Antes de divulgarmos algo, é importante verificar a veracidade da fonte!

Durante a campanha eleitoral do primeiro turno, recebi vários e-mails informando que a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, teria dito a um repórter da revista Veja, durante a inauguração de um comitê em Minas Gerais, que "nem mesmo querendo, Cristo me tira esta vitória. As pesquisas comprovam o que estou dizendo. Vou ganhar no primeiro turno".

Confesso que me senti tentado a sair divulgando a mensagem, inclusive pensei em reproduzi-la neste blog já que estava apoiando a Marina e sou contra a permanência do PT no governo por causa de minhas convicções políticas. Só que não vi nenhum dos candidatos de oposição se aproveitando publicamente deste suposto fato, pois, evidentemente, se fosse algo incontestável, teria sido um prato cheio para Serra e Marina usarem nos seus programas de TV. Além do mais, quando é que foi que Dilma falou estas palavras? Onde está o tal repórter da Veja? Em que exemplar da revista isto chegou a ser publicado?

Felizmente, consegui controlar o impulso da carne descartando aquela mensagem e avisei uma das pessoas que tinha me mandado o e-mail sobre a ausência de fontes dessa notícia.

Ora, o fato é que muitos evangélicos saíram por aí propagando coisas sem nenhuma noção do que estavam dizendo. Agiram por emoção, seguindo orientações de seus líderes manipuladores.

Nós cristãos precisamos tomar cautelas para não igualarmos o nosso modo de atuar em campanhas à maneira como o mundo pratica. Penso que precisamos ser diferentes. Vivemos numa democracia, temos o direito de participar dela. Porém, zelar pela nossa ética e pelo embasamento de nossos argumentos é fundamental.

Uma análise crítica da participação dos evangélicos nas eleições

Compartilho a seguir trechos do artigo de Robinson Cavalcanti, Eleições: evangélicos fazem papelão na ‘Guerra (nada) Santa’, publicado numa página de internet. Embora o comportamento do eleitorado cristão tenha sido decisivo para que houvesse um segundo turno, não podemos nos esquecer que grande parte da comunidade evangélica ainda não é capaz de analisar as candidaturas de forma madura e ampla, tornando-a, na grande maioria, presa fáceis de líderes manipuladores da opinião pública.


1. As invencionices mirabolantes no plano moral e no plano religioso indicam a pobreza da ausência de partidos fortes, ideologias nítidas e programas claros e objetivos para o julgamento dos eleitores, que é o que, no fundo, interessa para uma boa gestão da coisa pública, para a afirmação da cidadania, e para a promoção do bem-comum.


2. Com uma cultura política limitada, muitos evangélicos, de diversas denominações, foram presas fáceis e massa de manobra para políticos espertalhões (e líderes religiosos comprometidos com essa experteza). O resultado, em termos do que circulou, principalmente pela internet, foi vergonhoso. Uma coisa é certa: a comunidade evangélica se apequenou nesse pleito e saiu arranhada em sua imagem e credibilidade.


3. É hora de saco e cinza, de autocrítica, de arrependimento, de iluminação do pensamento pelo Espírito da Verdade, para que, nas futuras eleições, nosso quantitativo se relacione com o qualitativo, e possamos dar um testemunho maduro, que concorra para o bem da Pátria terrena. E que essas “guerras (nada) santas” seja apenas uma lamentável página do passado a ser esquecida.


Íntegra do artigo em: http://www.creio.com.br/2008/mensagens01.asp?noticia=595

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O segundo turno vem aí!

Acho super positivo que nestas eleições presidenciais tenhamos um segundo turno no Brasil.

Embora me pareça difícil José Serra crescer nas intenções de votos a ponto de poder vencer a candidata petista, não se trata de algo impossível. Ainda mais se Marina Silva vier a apoiá-lo, o que seria bem lógico já que o governo do PSDB teve muito mais respeito pelo meio ambiente do que o PT, principalmente no segundo mandato de FHC quando defendemos excelentes propostas na conferência Rio + 10 (2002).

Nos próximos dias, Dilma precisará fortalecer suas alianças e resgatar cabos eleitorais rebeldes, como o peemedebista gaúcho Pedro Simon que apoiou Marina no meio da campanha. Acredito também que ela deverá fazer concessões que reduzirão a influência do PT em seu governo e ainda necessitará dar enfrentamento aos ataques da oposição como responder mais detalhadamente às críticas de igual para igual, tendo com Serra o mesmo tempo de TV na propaganda gratuita.

Por sua vez, José Serra terá que adotar um discurso mais objetivo e que satisfaça às necessidades do seu eleitor, caso queira convencer as pessoas sobre o porquê de escolher sua candidatura sabendo que Dilma tem a seu favor o bom desempenho da economia brasileira. Assim, se o PT tem a seu favor a geração de empregos nos últimos anos, caberá ao PSDB focar na elevação do custo de vida que é inerente a todo crescimento econômico, não se esquecendo de bater no achatamento das aposentadorias que vem ocorrendo a cada ano depois do fator previdenciário.

Enquanto PT e PSDB polarizam pela quinta vez consecutiva a disputa pela cadeira número 1 do país, num período de 16 anos, como fica a situação do povo brasileiro? Não são de promessas que as pessoas vivem! Pois, enquanto os políticos se mordem e arranham no palco (tudo não passa de um teatro), pessoas estão sofrendo nas portas dos hospitais, os salários permanecem insuficientes para satisfazerem todas as necessidades básicas de um ser humano, parte da riqueza nacional é apropriada pelos impostos, os alunos vão passando de ano sem aprender corretamente, a Amazônia vai sendo saqueada por madeireiros e pecuaristas, a violência cresce, etc.

Não há como negar que, desde o breve governo de Itamar Franco, a nação vem melhorando em diversos níveis a passos lentos. A estabilidade monetária, que foi um projeto global para vários países (não só o Brasil), criou condições para que tivéssemos uma economia sustentável. E, se hoje o governo pode ordenar o crescimento brasileiro, foi porque Itamar e FHC observaram atentamente as regras traçadas pelo Consenso de Washington (1989):

- Disciplina fiscal;
- Redução dos gastos públicos;
- Reforma tributária;
- Juros de mercado;
- Câmbio de mercado;
- Abertura comercial;
- Investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições;
- Privatização das estatais;
- Desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas);
- Direito à propriedade intelectual.


É certo que não só o Brasil como outros países tiveram que abandonar o dogmatismo inicial de todas essas propostas, principalmente depois da crise asiática (1997) quando inúmeras bolsas asiáticas quebraram pelo mundo. Contudo, até o PT quando chegou ao poder (2003), preservou algumas dessas medidas de austeridade econômica, apesar de ter negligenciado outras.

Atualmente, com a crise na Europa, que atinge de maneira mais acentuada a Grécia, torna-se indispensável repensarmos algumas propostas que foram anteriormente praticadas afim de que o Brasil não se veja futuramente num quadro de inflação descontrolada. E, neste sentido, parece-me fundamental o futuro governo reduzir os gastos públicos e promover uma profunda reforma tributária capaz de aliviar a pesada carga dos impostos sobre o setor produtivo.

Quanto à abertura comercial e à privatização de estatais, é bom que o Brasil mantenha essas conquistas dos anos 90. E, portanto, até a exploração do pré-sal deve ser feita dentro deste conceito que tem dado certo, continua sendo aplicado pelos países escandinavos e atrai muitos investimentos privados (se bem que sou contra o país ficar sujando o meio ambiente com a extração de um combustível que tanto contribui para as alterações climáticas do efeito estufa).

Já os direitos sobre a propriedade industrial, tal regra não pode continuar sendo aplicada como absoluta quando há um conflito com o interesse social. E, neste caso, o próprio PSDB também fugiu ao padrão do Consenso de Washington quando José Serra, então ministro da saúde de FHC, quebrou as patentes dos medicamentos criando os genéricos para beneficiar inúmeros consumidores.

Finalmente, no que diz respeito ao afrouxamento de leis trabalhistas, penso que, neste aspecto, as regras do Consenso de Washington mostraram-se inadequadas, pois é necessário resgatar o respeito e a dignidade do trabalhador visto que se cuida de um ponto chave para resgatarmos a estabilidade social. A economia não pode ser colocada acima das pessoas e este foi o principal fator que gerou tantos movimentos contrários à globalização. Logo, o próximo presidente precisa compreender o quanto o trabalho e a família são importantes.

Mas será que o PSDB ainda representa uma volta a esses valores que colocaram o Brasil nos trilhos nos anos 90?

Com toda a sinceridade, tenho dúvidas se os tucanos de hoje não cometerão muitos dos pecados da gastança praticados pelo PT e que a tão aguardada reforma tributária ainda continuará para um outro governo. Contudo, de uma coisa tenho certeza. Um presidente do PSDB respeitará mais as liberdades políticas e o meio ambiente. FHC foi um excelente presidente para o regime democrático e conseguiu que, neste aspecto, a Constituição Federal de 1988 se tornasse uma realidade.

sábado, 2 de outubro de 2010

Um louvor a Deus na terra de Israel

A seguir compartilho a música Selah de Asaph Borba, disponível no DVD "Alegre-se Israel", e que foi colocada no Youtube pela própria gravadora Adorarnet. Foi inspirada no Salmo 67 e gravada em frente ao Muro das Lamentações. Maravilhoso!


O verdadeiro sentido da revelação bíblica

Será que a Bíblia não passa de simples narrativas e de uma coletânea de preceitos que regram o cotidiano? Ou existe uma orientação mais profunda que vai além de suas belas histórias?

Engana-se quem não atenta para a profundidade das passagens bíblicas, ignorando as verdades e os segredos contidos em cada uma das palavras, as quais sustentam o mundo e trazem consigo um outro sentido profético que nem sempre somos capazes de compreender. Pois, até nos acontecimentos que nos parecem banais, há grandes tipologias e alusões à obra feia por Cristo.

Por outro lado, não vejo lá tanto proveito nas interpretações místicas que surgem por aí (quase sempre tiradas de versículos isolados de seu contexto), o que acaba sendo um desvirtuamento e até uma fuga da orientação divina. Pessoas ficam tentando elaborar teologias para identificarem a pessoa do "anticristo", ou o ano em que Jesus voltará, apegando-se a uma suposta cronologia de seis mil anos a contar de Adão enquanto que o próprio Senhor esclareceu que ninguém nada sabe quanto ao dia e a hora de sua segunda vinda.

Confesso que, por muitos anos, lia as profecias bíblias procurando pistas que me ajudassem a prever os acontecimentos do futuro relacionados aos últimos dias. Escatologia foi algo que sempre me atraiu, desde o final da infância quando já estudava com assiduidade alguns dos textos bíblicos. E, durante algum tempo, num período mais recente de minha caminhada espiritual, eu ainda ficava a indagar sobre o que falaram os sete trovões em Apocalipse 10.4 já que voz vinda dos céus tinha impedido João de registrar.

Contudo, um dia resolvi contentar-me em não saber tudo o que Deus planejou para o seu devido momento, quando li a seguinte passagem no livro de Deuteronômio, deixando de lado minhas preocupações tolas:

“As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos as palavras desta lei. (Deuteronômio 29.29; Nova Versão Internacional – NVI)

Acredito que as revelações bíblicas não foram dadas para que fiquemos indagando acerca de detalhes escatológicos que são desnecessários para a caminhada do homem nesta vida. Coisas do tipo quantos céus existem, ou sobre quais os caminhos que percorre a alma depois da morte, parecem-me inúteis para o nosso aprendizado cotidiano afim de que cresçamos no exercício do amor, praticando o perdão, a tolerância, a caridade, a humildade, a pureza, a pacificação de conflitos e o domínio próprio, dentre outras virtudes espirituais.

Durante o seu ministério, conforme registrado nos Evangelhos, Jesus nos deixou exemplos de interpretação das Escrituras afim de que possamos compreender qual a vontade de Deus para os nossos dias e tomarmos posse em vida do reino celestial. Sendo ele a própria Palavra de Deus encanada, o Senhor explicou com autoridade o sentido profundo da união entre o homem e a mulher quando indagado pelos fariseus a respeito do divórcio:


E, aproximando-se alguns fariseus, o experimentaram, perguntando-lhe: É lícito ao marido repudiar sua mulher? Ele lhes respondeu: Que vos ordenou Moisés? Tornaram eles: Moisés permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar. Mas Jesus lhes disse: Por causa da dureza do vosso coração, ele vos deixou escrito esse mandamento; porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, deixará o homem a seu pai e mão [e unir-se-á a sua mulher], e, com sua mulher, serão os dois uma só carne. De modo que já não serão dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem. Em casa, voltaram os discípulos a interrogá-lo sobre este assunto. Ele lhes disse: Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra aquela. E, se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério. (Evangelho segundo Marcos 10.2-12. versão de Almeida Revista e Atualizada - ARA)


Que avanço para aquela época, não?! Ao dar sua interpretação da Torá, Jesus buscou nas origens da criação qual o verdadeiro sentido da união ente o homem e a mulher, igualando a condição de ambos os sexos quanto à observância dos mandamentos. Ainda mais numa época em que a poligamia masculina ainda era socialmente tolerada e foi largamente praticada até alguns séculos antes de Cristo (quase um milênio atrás, o rei Salomão tivera um numeroso harém de setecentas esposas e trezentas concubinas).

É verdade que, de acordo com as próprias histórias bíblicas, nenhum dos homens compreendeu completamente o sentido revelado das Escrituras e ainda assim Deus interagiu com a dureza de coração da humanidade. Nos momentos de maior ignorância do povo israelita que se encontram registrados no Livro de Juízes, sacrifícios foram oferecidos sem nenhuma observância das normas da Torá. Sem estarem investidos do sacerdócio levítico exclusivo dos descendentes de Arão, Gideão e os pais de Sansão tiveram seus holocaustos aceitos pelo Anjo do SENHOR. E, quanto ao sacrifício insano de Jefté, que prometeu oferecer quem primeiro viesse lhe saudar ao retornar para a casar depois da vitória da batalha, eis que, por patente ironia, Deus permitiu que a escolhida fosse justamente sua única filha. Contudo, Sansão, Jefté e Gideão têm seus nomes exemplificados no rol de heróis da fé do capítulo 11 da Epístola aos Hebreus (verso 32) enquanto que o rei Uzias, certamente um conhecedor da Lei, foi castigado com lepra por ter tentado usurpar as funções sacerdotais (ver 2 Crônicas 26.16-21).

Acredito que Deus não leva em conta a nossa ignorância quanto à sua vontade. Porém, a partir de Jesus, o Evangelho é pregado e o Reino dos Céus anunciado de modo que somos chamados para andarmos na sua luz. Ao estabelecer o verdadeiro intuito da Torá e revelar o propósito de seu ensino, o Senhor nos mostra que o cumprimento dos mandamentos se dá através de uma vida sinceramente destinada à obediência.

Curiosamente, na tentação de Jesus, o diabo chegou a usar até um trecho do Salmo 91 para que o Senhor se jogasse de um lugar alto e fosse acolhido pelos anjos de Deus (Mt 4.6). Durante as perseguições sofridas em seu ministério, Jesus foi acusado por várias vezes de violar o sábado (o quarto mandamento do decálogo) em razão de ter curado pessoas neste dia separado. Certa ocasião, quando os fariseus reclamaram dos discípulos de Jesus por estarem colhendo espigas nos campos para comer, o Senhor lhes deu esta sábia resposta:


Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele? E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado. (Evangelho segundo Marcos 2.25-28; ARA)


Com estas palavras, Jesus restabeleceu o sentido do sábado que é o mandamento estimulador da vida instituído na criação, contrastando-o com as sufocantes tradições dos homens cujas regras chegavam a limitar até o número máximo de passos. Como senhor do sábado (e também Senhor da criação), mais uma vez Jesus estava ensinando sobre o real sentido das Escrituras, resgatando a compreensão original.

É certo que nem Moisés, nem os profetas israelitas e nem Jesus deixaram prescrições explícitas que solucionassem cada detalhe dos problemas cotidianos que enfrentamos. Há momentos em que, mesmo abrindo a Bíblia, não encontramos escrita qual a revelação divina para as nossas vidas. Por isso, é que o próprio salmista diz que devemos meditar (refletir) na lei do SENHOR “de dia e de noite”, o que ocorre quando praticamos uma aceitação obediente dos mandamentos.

Como iremos compreender as Escrituras? Existem métodos que nos possibilitem aprender esses conhecimentos?

Contrariando a lógica, o próprio texto bíblico nos esclarece que o temor do SENHOR é a chave do saber (confere com Provérbios 9.10). Ou seja, é a través da reverência que alcançamos a sabedoria e o conhecimento do Santo. Então, quando buscamos a Deus de todo o coração, certamente Ele não ocultará aquilo que lhe é agradável, dando-nos direção pela sua graça. Neste sentido, permanece mais do que atual esta oração do salmista:

“Abre meus olhos para eu contemplar
as maravilhas que vêm da tua lei.
Eu sou peregrino na terra,
não escondas de mim teus mandamentos”

(Salmo 119.18-19; versão da Bíblia de Jerusalém)

Admitindo e trabalhando a nossa humanidade

João, ao ouvir na prisão o que Cristo estava fazendo, enviou seus discípulos para lhe perguntarem: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar outro?” (Evangelho segundo Mateus 11.2; Nova Versão Internacional – NVI)

Esta passagem que também é descrita em Lucas 7.18-35 revela ao mesmo tempo a humanidade e a fé de um grande profeta de Israel – João Batista. No Evangelho segundo João, diz o texto que Batista, ao ver Jesus no rio Jordão, declarou ser ele "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29).

No entanto, após ter sido preso pelo rei Herodes, João Batista precisou de forças no enfrentamento de sua difícil situação e, com toda a humildade e sinceridade que caracterizam o seu comportamento, mandou os seus mensageiros perguntarem a Jesus se ele era mesmo o Messias tão esperado pelo povo israelita que, no entendimento coletivo, libertaria a nação da opressão romana inaugurando uma era de prosperidade e de paz.

É muito fácil professarmos uma fé quando tudo vai bem, não é mesmo? Mas, na hora da provação, quando a dúvida, a depressão e o desespero cercam a nossa alma, percebemos o quanto somos humanos. E a Bíblia, neste aspecto, não esconde as fraquezas humanas de seus personagens, os quais, a meu ver, podem ser considerados heróis da fé porque também souberam admitir suas limitações.

Por esses dias, recebi meu último exemplar da revista das Missões Portas Abertas onde consta a reprodução da carta de um pastor encarcerado na Eritreia enviada à sua esposa:


“Deus, na sua santa vontade, prolongou minha sentença de prisão para 5 anos e 4 meses. Não vejo a hora de estar com você, minha querida esposa, nossos filhos e o povo de Deus na igreja (...) Estou experimentando o cuidado e o amor do nosso Deus todo o dia. Quando me trouxeram para essa prisão, tive pensamentos contrários ao que a Bíblia diz. Eu achava que o diabo tinha prevalecido sobre a Igreja e sobre mim. Pensei que o trabalho evangélico na Eritreia estava acabado. Mas não levou um dia para Deus me mostrar que Ele é um Deus soberano e que Ele está no controle de todas as coisas – mesmo aqui na prisão. No momento em que entrei na minha cela, um dos prisioneiros me chamou e disse: 'Pastor, venha aqui. Todos nesta cela estão perdidos. Você é muito necessário'. Assim, no mesmo dia que fui colocado na prisão, continuei meu trabalho espiritual. Minha querida, quando mais permaneço aqui, mais amo meu Salvador e falo às pessoas daqui sobre a bondade dele. Sua graça está me capacitando a superar a frieza e a saudade que eu sinto de você e de nossos filhos. Algumas vezes, pergunto a mim mesmo: 'Será que estou fora de mim? Sou um bobo? Bem, não foi isso que o apóstolo disse: 'Se enlouquecemos, é por amor a Deus; se conservamos o juízo, é por amor a vocês'. (2 Co 5.13) Minha honrada esposa, eu a amo mais do que posso dizer. Por favor, ajude as crianças a entenderem que estou aqui como um prisioneiro de Cristo para a causa maior do evangelho.” (vol. 28; n.º 10)


Que testemunho esse do pastor que foi preso num país hostil à fé cristã! Porém, ele compartilhou os sentimentos e as emoções negativas que se passaram em sua mente quando o levaram para a prisão, o que pode acontecer com qualquer um de nós. Conta a Bíblia que o profeta Elias, após ter enfrentado os 400 profetas de Baal, temeu as ameaças da rainha Jezabel e foi esconder-se numa caverna do Horebe (Monte Sinai) onde veio a ser reanimado por Deus para concluir sua missão.


Elias teve medo e fugiu para salvar a vida. Em Berseba de Judá ele deixou o seu servo e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte: “Já tive o bastante, SENHOR. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados”. Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu. (1 Reis 19.3-5; NVI)


Uma semelhança há nas condutas de Elias e de João Batista: ambos procuraram ajuda quando passaram por seus momentos de dificuldade. Aqueles homens que viveram em épocas diferentes, decidiram ficar com Deus quando estavam enfrentando reis. Enquanto Elias orou (mesmo pedindo para que a sua vida fosse tirada), João Batista enviou mensageiros a Jesus para ouvir da boca do Senhor palavras de confirmação e de conforto. Ou seja, eles conseguiram extrair fé de seus momentos de fraqueza, direcionando adequadamente as fraquezas humanas.

É maravilhoso observar que Deus nos aprova quando compartilhamos com Ele a nossa humanidade! Jesus, após dar sua resposta aos mensageiros de João Batista assim disse, segundo o texto bíblico:


Então ele respondeu aos mensageiros: “Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos vêem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa”. Depois que os mensageiros de João foram embora, Jesus começou a falar à multidão a respeito de João: “O que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Ou, o que foram ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que vestem roupas esplêndidas e se entregam ao luxo estão nos palácios. Afinal, o que foram ver? Um profeta? Sim, eu lhes digo, e mais que profeta. Este é aquele a respeito de quem está escrito: “'Enviei o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti'. Eu lhes digo que entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João; todavia, o menor no Reino de Deus é maior do que ele”. (Evangelho segundo Lucas 7.22-28; NVI)


Prestemos a atenção que Jesus não reprovou João Batista por ter trazido a ele sua dúvida. Pelo contrário! O Senhor o elogiou e o destacou, dizendo que João era “mais do que profeta”, um homem que não estava a procura de oportunismos e de luxo, conforme faziam os dirigentes da nação.

Que nos momentos de fraqueza possamos sempre nos lembrar de Deus e de suas promessas, sabendo que podemos contar com Ele sempre para desabafarmos todos os nossos problemas e temores! Deus nos compreende e conhece todas as nossas emoções. Por isso, nas situações difíceis da vida, precisamos sempre procurá-Lo e não nos fecharmos dentro de nós mesmos sofrendo sozinhos.