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domingo, 7 de maio de 2023

Esperanças com o século XXII?



Nunca sabemos o dia de amanhã, porém é mais é provável que eu e minha esposa Núbia venhamos a nos despedir daqui entre as décadas de 40 e 60 deste século, considerando que somos um casal maduro. Como não geramos descendentes, poucas pessoas poderão lembrar de nós quando o mundo chegar a 2100. Isto é, se a humanidade não se extinguir até lá.


Entretanto, não gosto de cultivar o pessimismo. Se me perguntarem se considero mais provável estarmos construindo cidades em Marte no século XXII ou nos destruirmos numa 3ª Guerra Mundial através de um uso intenso de armas nucleares disparadas entre as duas maiores potências militares do planeta, acredito mais nos avanços da conquista espacial mesmo se demorar um pouco mais do que as previsões do Elon Musk, lembrando de quando ele andou dizendo que, até 2050, cerca de 1 milhão de pessoas já estarão vivendo no planeta vermelho.


Pois bem. Posso supor que 2050, talvez, não esteja tão longe e ainda não consigo ver tantas melhorias assim em pouco mais de 26 anos e meio. De acordo com as mais recentes projeções das Nações Unidas (ONU), o relatório World Population Prospects 2022, eis que a população mundial deve chegar em 8,5 bilhões em 2030 e a 9,7 bilhões na metade do século, dando a entender que continuamos crescendo quantitativamente, embora desacelerando. Por isso, estima-se que o planeta atinja um pico de cerca de 10,4 bilhões de habitantes durante a década de 2080 e permaneça neste nível até 2100.


Curiosamente, a Nigéria deverá ser o segundo ou o terceiro país mais populoso no final do século, sendo que, nesta década, já está ultrapassando o Brasil. Supõe-se que, em 2100, o país atualmente mais populoso, a China, que tem 1400 milhões de habitantes, poderá passar para 732 milhões de pessoas e ser o terceiro mais populoso do mundo, seguindo a Índia, atualmente o segundo mais populoso, que poderá passar de 1380 milhões para 1,09 mil milhões e à Nigéria, que aumentará dos 206 milhões atuais para 791 milhões.


Quando pensamos nessa super população africana, significa que o mundo precisará pensar em soluções para que essas pessoas tenham acesso a trabalho e renda, educação, saúde, saneamento básico, habitações dignas e lazer. E aí logo me vem á mente a imagem assustadora da imensa favela de Makoko, localizada em uma lagoa à beira do Oceano Atlântico, a poucos passos dos modernos edifícios da cidade nigeriana de Lagos, ex-capital do país.


Como no Brasil estamos acostumados com um crescimento urbano precário e, segundo dizia o saudoso Darcy Ribeiro, "favela não é problema, é solução" e "favela tem que ser considerada solução do povo", consigo acreditar que esse temido caos social nigeriano talvez não dure 77 anos.


Assim, quero acreditar que chegaremos a 2100 com toda a humanidade podendo planejar uma melhor qualidade de vida com sustentabilidade ambiental, o que nos obrigará a criar novas tecnologias e compartilhar com outros povos, mudarmos o nosso modo de consumo, investirmos mais em energia limpa, preservarmos as florestas e, principalmente, domarmos a ganância capitalista.


Num planeta que, no dia 29/07/2021, já chegou ao seu limite em termos de sobrecarga e corre o risco de, segundo alguns cientistas, atingir ao seu "ponto de não retorno" em 2030, o atual modelo capitalista já não cabe mais dentro desse contexto. Torna-se, portanto, uma economia burra capaz de prejudicar cada vez mais a natureza e a humanidade devido às extremas desigualdades que privam uma parcela considerável da população de recursos básicos.


Particularmente, não me incomoda o fato de uns terem mais do que outros nessa vida. Contudo, o que não aceito é o ser humano ser privado do que é básico e o comportamento irresponsável de uma minoria privilegiada causar um colapso socioambiental. Logo, considero que cada um deve retirar da natureza o suficiente para viver dignamente num padrão aceitável, o que pode ser encontrado atingindo um ponto de equilíbrio.


Se chegarmos a um estado calamitoso global nas próximas décadas, espero que, ao se deparar com essa realidade, a humanidade desperte a sua consciência, esforçando-se por se unir na busca de uma convivência harmoniosa e sem quaisquer tipos de preconceito ou segregação, com a possibilidade de preservar o meio-ambiente, recuperar as áreas verdes perdidas para a ganância e até mesmo trazer animais extintos de volta à vida.


Dentro da minha utopia, sonho com um futuro alcançando essa quase perfeita relação com a tecnologia a serviço de todos produzindo o suficiente para as nossas reais necessidades. Imagino uma sociedade global com hábitos de vida mais saudáveis, mais atividade física, trabalho libertador e prazeroso, convivência social e familiar com sanidade, natureza preservada, muito lazer e entretenimento, nada de guerras ou de crimes hediondos, etc.


Visitando esse meu futuro utópico, eu me imagino caminhando por uma trilha subindo e descendo montanhas cheias de florestas com belas paisagens em que, por opção, iria a pé de um povoado a outro. Cada vila geraria a própria energia com a luz solar e produziria, sem causar impactos, quase tudo quanto precisa ocupando poucas áreas e sem desmatar. Com uma internet de qualidade, dificilmente as pessoas precisariam viajar para resolver seus problemas e tudo seria ao mesmo tempo veloz e calmo.


Ao chegar numa localidade, seria hospitaleiramente acolhido por moradores dispostos a receber viajantes gratuitamente sem medo do outro e nem ganância de explorar. Por consciência, haveria retribuição entre as pessoas pelos favores que elas receberiam porque todos se sentiriam felizes em serem doadores de benefícios, pensando sempre em contribuir para o bem pessoal e coletivo do próximo.


Desse modo, o mundo seria uma sociedade onde a fraternidade, o bem estar, a saúde, a natureza, as ciências, o autoconhecimento e as boas virtudes seriam valorizados. Até mesmo as culturas religiosas buscariam se compreender já que todas as religiões, com seus princípios éticos, buscam a mesma essência e tentariam evoluir para esse objetivo ao invés de rivalizarem entre si.


Quanto à política, veria esse mundo utópico como uma sofocracia democrática com um tribunal científico equilibrando os anseios da população expressos por um parlamento bem representativo cujas leis só seriam validadas se forem de acordo com a ciência. Aliás, o governo teria uma grande tarefa de incentivar o uso da tecnologia já que a população estaria em declínio até que houvesse uma redução das emissões de CO² e menos pressão sobre as cadeias alimentares, podendo ainda assim prestar assistência social à maioria idosa em que a expectativa média de vida alcançaria os 130 anos e a maioria chegaria aos cem com muita saúde.


Possivelmente esse ainda não deverá ser o mundo de 2100, porém as gerações dos nossos netos, bisnetos e tataranetos deverão estar visualizando esse cenário com mais nitidez, elaborando projetos para alcançá-lo durante o século XXII. É o que desejo.

2 comentários:

  1. Olá, Rodrigo, como estão? Eu estou satisfatória, obrigada.
    Me delicia ler seus textos, apesar de extensos. Para além de muito bem escritos, tens uma imaginação fabulosa.
    Podemos dividir teu post em duas partes: a demográfica e a utópica. O ponto de equilíbrio é fundamental.
    Quem me dera que no século XXII tivéssemos esse paraíso de que falas.

    Beijos e abraços para ambos.

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    1. Oi, CEU

      Obrigado pela visita com comentários.

      Realmente daria para dividir o texto em duas partes e acabei misturando a realidade com o lado poético da vida e aquilo que gostaria que fosse.

      Sobre o século XXII, acho que ainda não estaremos num paraíso, porém me contentaria com um mundo melhor que caminhe para um verdadeiro progresso. Só que a imaturidade humana é imensa,

      Um abraço e tudo de bom

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