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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Vença a ansiedade!



Curioso como que, há uns dois milênios atrás, Jesus teria discursado sobre um dos maiores problemas de saúde psíquica que tanto aflige a humanidade hoje - a ansiedade. Neste nosso estudo sequencial sobre o Evangelho de Lucas, chegamos então aos versos 22 a 34 do capítulo 12, repetindo um ensino que também consta no célebre Sermão da Montanha, em Mateus 6:25-34.

Ocorre que, no 3º Evangelho, a pregação do Mestre é inserida após ele condenar a avareza e agora ele vai tocar na raiz do problema do apego ao dinheiro. Por que as pessoas se preocupam tanto em acumular bens?

Certa vez conheci um engenheiro empresário convertido, o qual compartilhou em seu testemunho pessoal ter sofrido do medo de ficar pobre. Ele que havia construído até um famoso shopping center na década de 80, temia perder tudo. Em certa ocasião, antes de ter entregue sua vida a Jesus Cristo, chegou a ser sequestrado por bandidos no Rio de Janeiro e ficou horas amarrado no porta-malas de um carro.

Não sei de maiores detalhes sobre o processo de conversão daquele homem que acabou se tornando um pregador do Evangelho compartilhando abertamente sua experiência de fé. Porém, mesmo não sendo eu um sujeito endinheirado com muitos bens, identifiquei-me com a fobia dele. Afinal, quem é que não sente no mínimo um desconforto em perder as coisas que hoje lhe proporciona alguma tranquilidade e bem estar? Nestas horas, somos testados na fé afim de verificarmos se a nossa segurança encontra-se mesmo em Deus, nosso Pai Celestial.

No discurso sobre a ansiosa solicitude pela vida, Jesus nos leva a refletir sobre o quanto é irracional o ser humano alimentar dentro de si tal sentimento e permitir que as nossas ações sejam governadas por esse temor.

O Mestre não nos proíbe de sermos previdentes, mas é impossível para o homem controlar a providência, isto é, garantirmos a ocorrência de resultados. Na parábola que contou durante o estudo anterior (a do rico insensato), o fazendeiro foi surpreendido com uma morte súbita embora pretendesse continuar vivo e gozando dos bens por muitos anos (Lc 12:19-20). Logo, se colocarmos a nossa felicidade num acúmulo de riquezas para o futuro, preocupando-nos egoisticamente, a frustração estará nos aguardando:

"Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida? Se, portanto, nada podeis fazer quanto às coisas mínimas, por que andais ansiosos pelas outras?" (versos 25 e 26; ARA)

Jesus compara o cuidado de Deus com as aves (v. 24) e com os lírios do campo (v. 27) para nos sentirmos interiormente seguros. A natureza é sustentada pelo Criador e nenhum passarinho precisa armazenar em celeiros os grãos que cata no ambiente. Bicho algum tem que abrir cadernetas de poupança ou contribuir para um fundo de pensão! Porém, tanto a fauna quanto a flora são livres dessas inquietações doentias e encontram o devido amparo sem se preocuparem com o amanhã. Os animais conseguem viver o momento na sua plenitude!

Inegável que o homem precisa combater a sua ansiedade com fé no Rei e Arquiteto do Universo que é Deus. Por isso, Jesus chama a atenção dos discípulos sobre exercerem a confiança no Criador e reprova o comportamento dos "gentios", isto é, daqueles que não têm um relacionamento com o Pai com o mesmo nível espiritual dos seus seguidores.

"Ora, se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais tratando-se de vós, homens de pequena fé! Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações. Porque os gentios de todo o mundo é que procuram estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas." (versos 28 a 30)

Além da fé, o homem deve buscar em primeiro lugar o Reino de Deus (v. 31), o que significa termos outros objetivos de vida. No estudo anterior, terminei falando que ganhamos um sentido existencial quando aderimos a essa causa elevada em servirmos ao próximo. Aqui, no entanto, aprendemos que um dos benefícios experimentados é a cura do transtorno da ansiedade. Não que venhamos a ficar livres de sentimentos de preocupações, mas porque não iremos mais alimentá-los devido à confiança no Pai e a uma motivação superior.

Os discípulos já tinham o Reino (v. 32) e deveriam ocupar-se com a sua promoção na Terra. Tendo a consciência de que suas vidas estão nas mãos de Deus, não iriam apegar-se aos bens materiais acumulando-os, mas, sim, distribuí-los conforme as necessidades do próximo. Iriam se preocupar em alcançar almas com o amor divino, transmitindo a elas o verdadeiro tesouro eterno.

Diferentes dos bens perecíveis deste mundo, vulneráveis às traças e ladrões, podemos falar na existência de um patrimônio espiritual. Ajuntar "tesouros no céu" torna-se fonte de paz ao invés de produzir ansiedade. Uma vez que o nosso coração é posto nas coisas permanentes (vv. 33-34), contribuindo para o processo de transformação da humanidade, entramos numa outra dimensão capaz de nos proporcionar um conforto sem igual.

Muito a Igreja tem que aprender (ou reaprender) neste século XXI afim de tornar-se um farol para este mundo decaído. Cometemos o erro institucional de ajuntarmos recursos financeiros e investirmos demais em templos. Mesmo que a desculpa seja alcançar vidas, lamento não ver tantos investimentos nas pessoas como poderiam ser feitos tendo em vista os altos valores da arrecadação de dízimos e ofertas. Como escrevi no artigo Um movimento que abalou o rei, sobre o comissionamento dos apóstolos durante o ministério de Jesus, eles não tinham que carregar a bagagem extra (Lc 9:3), o que é repetido quando o Senhor envia os setenta seguidores, tirando-lhes até as sandálias dos pés (10:4), algo de forte simbolismo para os ministérios de todas as eras.

A pregação de Jesus sobre a ansiedade serve para a humanidade toda, mas precisa começar pelos discípulos (nós) para quem Jesus havia se dirigido inicialmente na perícope (v. 22). Não iremos influenciar o mundo e as famílias dos povos somente com as palavras e sim por meio de atitudes. Aí, se tomarmos a posição que Cristo espera de nós, creio que haverá uma revolução amorosa no planeta jamais vista.


OBS: Foto sobre os lírios dos campos extraída do acervo virtual da Wikipédia com atribuição de autoria a Andrew Massyn com data de agosto/2008, conforme consta em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Zantedeschia_aethopica.JPG

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