Conforme temos estudado até aqui, os setenta discípulos comissionados por Jesus retornaram alegres relatando o êxito do trabalho empreendido nas cidades de Israel (ver artigo "O vosso nome está arrolado nos céus"). Ainda no contexto do reencontro comemorativo com o Mestre, o Senhor faz novas declarações exaltando os humildes. São os "pequeninos" que se abrem para acolher as boas novas do Reino em seus corações:
"Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado" (Lucas 10:21; ARA)
Jesus está a falar aqui de um conhecimento que não é perceptível por métodos digamos naturais. A cognição espiritual não depende do nosso intelecto ou das capacidades físicas e mentais do homem. Por isso, a revelação divina sobre os mistérios da vida muitas vezes não são aprendidas pelos sábios e pessoas diplomadas nas universidades. Nem mesmo os escribas, que eram os teólogos da época, conseguiram compreender o Evangelho pregado por Jesus.
O ensino das coisas do Reino de Deus requer que o destinatário da mensagem abra espaço em seu coração e se torne receptível. Neste sentido, títulos de doutor e de mestre podem atrapalhar a aceitação da Palavra. Isto porque, nos tornando conhecedores das ciências, corremos o risco de nos fecharmos soberbamente dentro dos nossos próprios conceitos e visões de mundo. A mente torna-se então excessivamente julgadora apoiando-se num tipo de crítica que é inimiga do aprendizado por causa da falta de reverência. Achando-se senhor do saber e preso às teorias que defende, quem muito domina a logia por diversas vezes não se abre quando senta nos bancos da escola de Jesus.
De modo algum o Mestre falou que pessoas diplomadas não pudessem compreender o Evangelho. Doutores também têm o mesmo potencial de um pequenino para chegarem ao conhecimento de Deus desde que se tornem tão receptivos quanto. Este me parece ser o critério da seletividade do versículo 22 do capítulo 10 de Lucas já que o nosso Senhor veio anunciar a sua mensagem para todos sem qualquer discriminação. As pessoas orgulhosas e que se acham suficientemente instruídas são aquelas que costumam tapar os ouvidos do coração para as boas novas. E, no grupo dos fechados, podemos encontrar qualquer um que pensa saber algo. Inclusive os não graduados nas instituições de ensino superior mas que se consideram donos da verdade por já serem padres, pastores, terem mais tempo de igreja, receberem frequentes elogios dos seus líderes, etc.
Incrível! E que perfeição! Foi do agrado do Criador bendito que aos homens e às mulheres humildes de coração fosse dada a revelação espiritual. Trata-se aqui de uma disposição interior para aceitar a mensagem simples de Jesus capaz de envergonhar os entendidos deste mundo. O único esforço exigido é o de não se esforçar mentalmente. Basta querer receber de graça aquilo que Deus dá.
Assim se revelou nos tempos de Jesus e de seus discípulos aquilo que os antigos monarcas e profetas de Israel tanto desejaram ver em seus dias (verso 24). Era chegado o Reino de Deus e o nosso Senhor protagonizou o seu papel messiânico ao anunciar as boas novas há muito aguardadas. A partir de então, o mundo não seria mais o mesmo e o processo revolucionário de transformação planetária tinha começado.
Felizes foram os olhos daqueles discípulos porque viram a revolução do Reino iniciar. Mas também nós nos tornamos igualmente bem-aventurados como os primeiros seguidores do grande Mestre quando o nosso entendimento espiritual se abre e passamos a contemplar a ação divina sobre a História e como as coisas vão sendo mudadas pela vontade soberana do Criador.
Que sejamos sempre humildes "pequeninos" para nunca deixarmos de receber.
Nenhum comentário:
Postar um comentário