Tanto os esotéricos quanto os nacionalistas franceses curtem mistificar os antigos druidas que povoavam as seculares florestas da Europa Ocidental antes da conquista da Gália pelo imperador romano Júlio César no século I a.C.
Certamente que era interesse de Roma demonizar, ou barbarizar, os seus adversários gauleses por causa da resistência destes ao expansionismo territorial de um Império que transformava em escravos os povos conquistados. Devido a isso, os escritores latinos (e posteriormente os católicos) procuraram deturpar a cultura dos druidas, considerados "sanguinários" e "supersticiosos" pelo vencedor.
Por outro lado, velhos autores como Lucano, Horácio, Florus e até o apologista cristão Clemente de Alexandria foram capazes de encontrar coisas positivas nos druidas, reconhecendo que não eram tão "bárbaros" assim. Aliás, pode-se dizer que os gauleses experimentaram uma liberdade superior a dos gregos e dos romanos. Os chefes de cada tribo eram eleitos em assembleia popular, independentemente de qualquer hereditariedade, sendo permitido às mulheres tomarem parte do conselho comunitário e também exercerem funções sacerdotais. Anualmente, representantes das tribos reuniam-se para definirem importantes questões nacionais e viviam todos quase que num comunismo primitivo sem conhecerem ainda o pecado da propriedade privada.
Contraditoriamente, esse povo tinha também castigos físicos bem cruéis para quem violasse certas normas. Se um homem ambicioso tentasse o uso de meios manipuladores para alcançar o poder, corria o risco de ser condenado ao suplício de fogo. Inclusive, a maioria dos sacrifícios humanos que os escritores latinos e católicos reprovavam nos gauleses talvez fossem execuções de penas, muito embora pessoas também fossem entregues em expiação durante os períodos de calamidades naturais. O auto-sacrifício pode ter sido prática normal entre eles.
Por curiosidade, os druidas tiveram um notável conhecimento astronômico. Para eles não era novidade que a Terra gira solta e continuamente no espaço em torno do Sol. Ou seja, mesmo sem dispor de meios de observação científica, os gauleses obtiveram incríveis noções cosmológicas. Nem César pôde negar tal avanço, reconhecendo o ensino do povo inimigo sobre a forma e a dimensão do nosso planeta, o movimento dos corpos celestes e a geografia lunar.
Infelizmente, os druidas não nos deixaram registros escritos para que pudéssemos estudá-los melhor na atualidade havendo até hoje muitas especulações sobre essa civilização que desapareceu antes do Evangelho de Jesus Cristo ser proclamado ali. Entretanto, pelos indícios herdados das fontes latinas e cristãs, só comparando com os costumes dos outros povos mais próximos da natureza concluiremos pela existência de um saber intuitivo comum desenvolvido pelas tradições tribais. E aí, com todo respeito ao conhecimento dos antropólogos, ouso dizer que toda a humanidade, num passado bem remoto, parece ter tido a sua revelação original sobre Deus, de modo, com os druidas, não foi diferente.
Celebrando os seus cultos debaixo das copas de centenárias árvores de carvalho (posteriormente derrubadas pelos romanos), os druidas tinham uma concepção sobre Divindade que não se contaminou com a idolatria praticada por outros povos, como eram os seus terríveis conquistadores. Embora fossem politeístas, adoravam ao que poderíamos traduzir como Poder Infinito. A ideia sobre a unidade do Divino convivia com a personificação das coisas. Logo, Deus corresponderia ao Deus dos deuses.
Tudo isso compunha uma primitiva maneira de pensar, a meu ver mais autêntica e pura do que as corruptas civilizações dominadoras: Egito, Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. Assim como os nossos índios, faltava aos druidas conhecer a transformadora mensagem das boas-novas do Reino de Deus para serem verdadeiramente livres em todos os aspectos. Não essas pregações baratas e oportunistas que se escuta por aí na mídia usada pelos pastores charlatões. Nem a catequese dos jesuítas nos tempos da colonização ibérica no continente americano. Mas sim uma evangelização libertária capaz de considerar todo o conhecimento da tradição de um povo como um elemento indispensável para a convocação construtiva de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem Deus fez reinar sobre todos os povos.
Ao estudar sobre povos e civilizações que desapareceram, mais do que nunca considero a importância das missões. Precisamos de novos apóstolos neste século XXI e creio que, conhecendo verdadeiramente a Cristo, a humanidade poderá escrever um futuro diferente para si baseado nos valores do amor, da tolerância, da democracia, da dignidade da pessoa humana e da pluralidade cultural.
OBS: A imagem usada neste artigo trata-se de uma ilustração imaginativa do século XIX sobre um druida em suas vestes judiciais e foi extraída do acervo da Wikipédia em http://en.wikipedia.org/wiki/File:An_Arch_Druid_in_His_Judicial_Habit.jpg
Muito Bonito e bem resumido seu texto.Ao começar a ler sobre os druidas fiquei encantada ,também,pois Deus é a Natureza,e eles respeitavam à Respeitavam,coisa ,que muitos Hoje em dia,não o fazem.
ResponderExcluirObrigada pelo post.
Boa noite, Kátia!
ExcluirNossa cultura infelizmente não sabe e nem quer respeitar a natureza, a qual considero como manifestação da Vida. Mesma Vida que há também nos seres humanos. Só que a arrogância e o comodismo de nossa civilização tornaram-se tão grandes que todo o conhecimento científico por nós adquirido faz com que hoje devamos ser aprendizes desse povo que desapareceu com a expansão romana deixando pouquíssimos rastros.
Obrigado aí por sua leitura e comentários. Participe sempre que desejar.