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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Tenha sabor e faça a diferença!

"O sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor? Nem presta para a terra, nem mesmo para o monturo [monte de entulho ou de esterco]; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça." (Evangelho de Lucas, capítulo 14, versos 34 e 35; versão ARA)

A parábola do sal é muito conhecida. Principalmente no contexto do Sermão da Montanha (Mt 5:13), quando Jesus fala que seus discípulos são o "sal da terra" e "luz do mundo". E, ao que parece, essa mesma metáfora teria sido aplicada em diferentes situações nos evangelhos sinóticos mas com significados bem próximos, como podemos ler também em Marcos 9:50, em que o Senhor exorta os discípulos para terem "sal em vós mesmos e paz uns com os outros". Já em Lucas, o Mestre estava falando à multidões que o seguiam (14:25), explicando-lhes a realidade de seu discipulado que exige abnegação e a necessidade da renúncia. Foi o que estudamos recentemente nos textos Contando o custo ou renunciando? e Abnegação no discipulado de Cristo.

Podemos mencionar duas aplicações básicas no sal: a de dar o sabor ao alimento e a de conservá-lo contra a putrefação. Suponho que a ideia do tempero tenha mais a ver embora ambos os entendimentos consigam caber na nossa análise bíblica. Pois, se ocorresse a lixiviação (a chuva carregasse a salinidade), o cloreto de sódio perderia as suas funções condimentar e de preservação da carne. Não prestaria para mais nada!

Jesus estava dizendo para aquela multidão que o acompanhava que a presença daquelas pessoas no discipulado deveria fazer a diferença. Seguir o Mestre não é brincar de religião de modo que não podemos confundir o trabalho pelo Reino de Deus com a frequência a cultos devocionais ou com o fato de alguém tornar-se  membro de uma determinada congregação eclesiástica formando um grupinho de pessoas que apenas se reúnem para rezar e cantar louvores, mas sem nenhuma atuação transformadora em sua respectiva comunidade.

Infelizmente, as igrejas na atualidade raramente têm algum sabor ainda que muito pregadores midiáticos sejam ótimos para entreterem os telespectadores/ouvintes. Muitas delas estão há décadas num mesmo lugar, tendo ampliado o espaço para os lados e para cima, porém não contribuem em nada para promover mudanças na área. Próximo ao templo, durante à noite, pessoas fumam crack e se picam com drogas injetáveis, prostitutas e travestis fazem por ali seus pontos, torcidas organizadas mascam brigas violentas e moradores de rua dormem debaixo das marquises. Já nas manhãs de domingo, os frequentadores da igreja vão para lá ouvir as pregações e participar da simbólica comunhão no Corpo de Cristo, retornando depois para suas casas sem terem estabelecido qualquer compromisso que resulte em ação prática de mudar a realidade. Aliás, é comum, durante o próprio culto, observarmos pessoas consultando a todo momento seus relógios no celular, crianças inquietas porque acham aquela coisa toda muito chata e a dona de casa até agradece quando tudo termina mais cedo para ela poder preparar o almoço para sua família.

Esse é sistema religioso de inatividade social, hipocrisia, excesso de formalismo e de falta de conexão com o ser humano que podemos chamar de inosso. Um sal que, na prática, não é sal. Algo que não presta nem para virar estrume porque prejudica a fertilidade do solo e, por isso, deve ser descartado.

Sempre que uma congregação estiver nessa condição, ela precisará se reciclar, trazendo sal novo e permitindo que o Espírito Santo renove os corações. Precisa reconhecer a si própria como um inútil vaso quebrado e permitir ao Oleiro que construa um outro recipiente capaz de armazenar a água. Seria retornar ao processo de conversão, ao primeiro amor, fazendo tudo genuinamente.

"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça", concluiu Jesus. E a dureza dessas palavras do Salvador deve conduzir a Igreja a assumir sua posição em relação ao mundo. Ainda que a instituição eclesiástica tenha se tornado esse sal insípido e não queira mais mudar, os verdadeiros discípulos do Mestre são chamados para fazer a diferença e devem por em prática os ensinamentos recebidos. São eles a verdadeira Igreja que pode estar tanto dentro quanto fora das igrejas anunciando o Evangelho como precisa ser feito.

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