Páginas

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A indispensabilidade do arrependimento


"Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandas cortá-la." (Evangelho de Lucas, capítulo 13, versículos de 1 a 9; versão ARA)

Como visto no estudo bíblico anterior sobre o 3º Evangelho, ainda no capítulo 12, Jesus havia dito às multidões que era preciso aprender a discernir os tempos (12:54-59). Não em relação ao clima, se vai chover ou fazer sol, mas sobre o que Deus tem feito no nosso meio. Seus ouvintes ainda não estavam percebendo o propósito desse momento presente da chegada do Reino que é o de chamar a humanidade inteira para reconciliar-se com o seu Criador e também com as demais criaturas (homens, animais e a natureza). Já não cabe mais alimentarmos demandas entre nós e o ciclo geracional da ação/reação tem que ser quebrado pela via do amor e do perdão.

Para tão importante mudança há um pré-requisito chamado arrependimento. Era o que João Batista tanto pregava (3:3,7-14). E, com Jesus, a mensagem é confirmada sendo que, no texto citado acima, o Mestre passa a desconstruir a ideia preconceituosa de que a repressão das autoridades, o infortúnio e a calamidade fossem necessariamente resultados de um castigo específico dos pecadores. Isto porque, tal como se observa no Livro de Jó, quanto às posturas injustas dos amigos destes, era ainda assim nos tempos do ministério nosso Senhor.

Recordo que, quando ainda morava na cidade serrana de Nova Friburgo (RJ) e houve ali a maior tragédia climática da história brasileira (janeiro/2011), não demorou muito para surgirem pessoas ligando os lamentáveis acontecimentos aos pecados individuais dos cidadãos. Falavam como se as centenas de vidas ceifadas, que perderam seus familiares, ou ficaram desabrigadas, tivessem sido divinamente penalizadas.

Entretanto, o que há de pior nesses comentários inapropriados é a ausência de uma auto-crítica caracterizada pelo não reconhecimento da necessidade de arrependimento pessoal. Temos grande facilidade de apontar para os outros vendo os seus defeitos, mas falhamos quando nos consideramos homens e mulheres bons. E os que geralmente têm maiores dificuldades para compreender isto são os mais religiosos, os ricos e os mais cultos porque se acham santos, abençoados por Deus ou confiam demais no próprio entendimento. E tal engano pode ocorrer até com quem se encontra numa igreja como membro atuante ou ainda na qualidade de liderança.

Assim, Jesus é bem claro em explicar às multidões sobre a condição pecadora de todos os mortais e chama seus ouvintes ao arrependimento por duas vezes repetidas (versos 3 e 5). No ensino do Mestre não há exceção para ninguém. Ele mesmo deu seu notável exemplo quando se dispôs a ser batizado nas águas por João junto com todo o povo, recebendo o devido louvor do Pai (3:21-22), enquanto que os fariseus e os intérpretes da Lei teriam se recusado (7:30).

Com a Parábola da Figueira Estéril transcrita acima (versos 6 a 9), o dono da vinha concedeu mais uma oportunidade para que a planta produzisse fruto após ouvir a sugestão amorosa do seu trabalhador agrícola para adubar o solo. Deste modo aprendemos que Deus pode mostrar-se paciente e misericordioso com os pecadores, o que não significa que aprove os nossos erros. Logo, muitos têm recebido tempo para refletir sobre suas condutas más e buscarem arrependimento, passando a produzir frutos condizentes com uma vida realmente transformada pelo Espírito Santo.

A leitura da passagem bíblica em comento, por si só, não nos autoriza ligar a ideia do perecimento à teologia da condenação ao inferno. O resultado da ausência de arrependimento é comparado com o fim dos galileus assassinados por Pilatos e as dezoito pessoas mortas com o desabamento da torre de Siloé na Cidade Sagrada. Ou seja, se permanecermos impenitentes, enganando a nós mesmos e brincando de religião, não há como colher vida. O pecado trará consigo suas consequências.

Portanto, meus amigos, não deixemos para mudar amanhã. O quanto antes a humanidade arrepender-se será melhor para ela sair da sua condição atual de perecimento. Pode-se dizer que até hoje muitos de nós têm perecido porque insistimos em continuar no erro. Cometemos injustiças e estas de alguma maneira nos atingem perpetuando um longo ciclo geracional a ponto de contaminar o meio social onde nascemos, nos criamos e evoluímos. Só que, com Jesus, somos chamados para construir uma nova realidade amorosa que é o Reino de Deus, cabendo a cada qual tomar essa consciência mudando o próprio rumo.

Finalmente, quero chamar a atenção para a conduta do viticultor na parábola. Muitas vezes precisamos colocar fertilizantes nas vidas das pessoas que não têm produzido frutos. Ao invés de torcermos para o fracasso espiritual do próximo, devemos cooperar com Deus para que não haja esterilidade na Casa do Senhor. Afinal, o Pai Celestial que contar conosco nessa tarefa de semearmos arrependimento e transformação de caráter nos corações dos homens. Tanto é que o dono da vinha aprovou a sua atitude misericordiosa para com a figueira. Façamos, pois, o mesmo.


OBS: A imagem acima trata-se de uma gravura do artista holandês Jan Luyken (1649-1712) utilizada para ilustrar a parábola na Bíblia Bowyer. Foi extraída do acervo virtual da Wikipédia em que a autoria da foto é atribuída a Phillip Medhurst oriunda de Harry Kossuth, conforme consta em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Teachings_of_Jesus_36_of_40._parable_of_the_fig_tree._Jan_Luyken_etching._Bowyer_Bible.gif

Nenhum comentário:

Postar um comentário