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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Limpemos os olhos para vermos o Reino!


"Como afluíssem as multidões, passou Jesus a dizer: Esta é a geração perversa! Pede sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. Porque, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, o Filho do Homem o será para esta geração. A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com os homens desta geração e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão. Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas. Ninguém, depois de acender uma candeia, a põe em lugar escondido, nem debaixo do alqueire, mas do velador, a fim de que os que entram vejam a luz. São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem maus, o teu corpo ficará em trevas. Repara, pois, que a luz que há em ti não sejam trevas. Se, portanto, todo o teu corpo for luminoso, sem ter qualquer parte em trevas, será todo resplandecente como a candeia te ilumina em plena luz." (Evangelho de Lucas, capítulo 11, versículos de 29 a 36; ARA)

Como vimos no nosso penúltimo estudo sequencial de Lucas, algumas pessoas dentre as multidões haviam pedido de Jesus "um sinal do céu" (11:16). Aqui, nesta passagem acima citada, o Senhor lhes responde sobre tal exigência que era motivada pela mais absoluta descrença e indisposição para refletirem/mudarem. E o Salvador não lhes dará nenhum outro sinal a não ser o do profeta Jonas.

No contexto dos primeiros séculos, sinal era uma comprovação visível do cumprimento das antigas promessas bíblicas. Pelo que se percebe, os religiosos queriam que Jesus demonstrasse ser ele o Messias que Israel tanto aguardava. Ter curado e libertado um homem do mal que o afligia (verso 14) não era convincente para aquelas pessoas. Só que Jesus não se deixa levar pela tentação de precisar provar algo, se era ou não o "Filho de Deus". Ele já estava bem preparado para enfrentar situações daquele tipo desde quando venceu as três provas no deserto (4:1-13). Caso cedesse ao que eles queriam, estaria tirando-lhes a oportunidade de exercerem fé, a qual é um ingrediente indispensável para o crescimento espiritual de alguém, sem o que não podemos agradar a Deus.

Milagres nunca foram capazes de gerar fé! A geração libertada do cativeiro egípcio por Moisés foi a maior prova de que, apesar de tantos sinais testemunhados (abertura do Mar Vermelho, o maná, a água retirada da rocha, a teofania do Monte Sinai, etc), o ser humano pode preferir tomar uma atitude de incredulidade, depravação e covardia. Logo, a velha história não pode continuar se repetindo. Seria inútil, evolutivamente falando, Jesus fazer fogo do céu descer à vista dos presentes, como fora com Elias (1Rs 18:38) pois, após o acontecimento, não demoraria muito para outras dúvida serem suscitadas e alguns começarem a atribuir o novo prodígio a Belzebu.

Sabendo então que nenhum sinal seria inequívoco, já que seus opositores estavam dispostos a mal interpretá-lo, Jesus vai à raiz do problema que é de ordem ética. Ao contrário dos pagãos habitantes de Nínive, os quais se converteram somente com a pregação feita por Jonas (não houve nenhum sinal de poder manifestado), aqueles religiosos mantinham-se impenitentes e cheios de si escondendo-se atrás de conceitos teológicos. Recusavam-se a aceitar a inclusão do pecador e ainda trabalhavam contrariamente a um ministério que se propôs resgatar as ovelhas perdidas do próprio povo. Não praticavam e nem queriam entender as misericordiosas obras de justiça.

O ensino desta parte do Evangelho nos leva de volta ao episódio em que João Batista havia enviado mensageiros a Jesus nos versos 18 a 23 do capítulo 7 (ler o artigo Um messias que se fez amigo dos pecadores). Naquela ocasião, o Mestre não respondeu diretamente ser ele ou não "aquele que estava para vir". O Salvador procurou fazê-los refletir acerca da mensagem de boas-novas existente por trás dos próprios sinais de compaixão dos quais se ouvia falar, buscando promover uma re-leitura de Isaías 35:5-6 combinado com 61:1 do mesmo livro:

"os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-lhes o Evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço" (Lc 7:22-23)

Contudo, os opositores de Jesus (e da causa do Reino) preferiam tropeçar. Seus olhos estavam sujos e embaçados, mas eles se recusavam a admitir isso e pingarem uma gota de colírio. Diferentemente de João Batista que buscou compreender a verdade, os religiosos hipócritas queriam era justificar a mentira e sabotar as obras de libertação. Certamente porque as propostas do Mestre mexiam com os seus interesses escravizadores fulcrados no obscurantismo das mentes e na falta de ação prática da Palavra.

Além da conversão dos ninivitas, Jesus fala da "rainha do Sul", isto é, a rainha de Sabá que veio de um distante reino da Arábia para ouvir a sabedoria do rei Salomão. Porém, aqueles religiosos não queriam mudar. Eram solos impermeáveis, corações incapazes de recepcionar pelo menos um raio de luz das boas novas.

As palavras de Jesus em dizer "aqui está quem é maior do que Salomão" (ou Jonas), se tomadas isoladamente, parecerão arrogantes e presunçosas. Seria um erro achar que, no verso 31, Jesus estivesse se auto-proclamando o Messias. Esta não seria a chave interpretativa do texto, devendo ser retomado o testemunho dado acerca de João Batista quanto ao episódio já referenciado. Senão voltemos ao verso 28 do capítulo 7 de Lucas:

"E eu vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele."

Ser "maior" na ótica do Evangelho é pertencer a uma era de avanço evolutivo. A marcha histórica do Reino estava deixando para trás o tempo de reis e de profetas como foram Salomão e Jonas. Até o mais sábio e poderoso dos antigos monarcas de Israel perdia em magnitude se comparado ao messiânico movimento de base popular dos que constroem a nova realidade social, a qual é indiscutivelmente revolucionária em todos os aspectos imaginados, transformando a cultura, a política, a economia, a moral, a família e a religião.

Pois bem. Mas que resposta daremos ao Filho do Homem? Lembrando dos que responderam a Salomão e a Jonas (a rainha de Sabá e os moradores de Nínive), com muito maior razão devemos hoje nos posicionar diante da revolução do Reino. Iremos continuar perpetuando as desigualdades, as injustiças e as maldades praticadas pelos poderosos opressores de todas as eras?

Numa atualização das palavras de Jesus, podemos dizer que, no Juízo, os ateus se levantarão e condenarão a nós, a Igreja, pelas omissões praticadas. Até hoje as religiões que deveriam estar trabalhando para combaterem as mazelas sociais não só consentem com o massacre dos mais humildes como também perseguem quem se propõe a promover mudanças significativas nessa realidade injusta. São os falsos líderes que exploram a força de trabalho humano, ajudam a eleger os corruptos deste país e alienam as consciências sobrecarregando-as de mandamentos de homens quase sempre direcionados à repressão sexual e do pensamento.

Raça de víboras! Até quando?

Como se percebe na sequência do texto transcrito, foi bem adequada a repetição da Parábola da Candeia neste trecho do Evangelho de Lucas, a qual já havia sido ensinada nos versos de 16 a 18 do capítulo 8, complementando lá a Parábola do Semeador. Da mesma maneira que cabia ao destinatário da mensagem ouvi-la/recebê-la de fora correta, o mesmo ocorre com a iluminação das pessoas no cômodo de uma casa. Não basta acender a lâmpada e nem tão pouco aumentar a potência energética (dar mais sinais do Reino) porque a luminosidade só será captada por quem tiver olhos sadios.

Assim estava acontecendo com as pessoas nos tempos de Jesus e com os religiosos e políticos de hoje. Como já dito, o problema da cegueira espiritual tem suas motivações éticas e somente tratando de nós mesmos conseguiremos contemplar a Luz resplandecente.

Que Deus tenha misericórdia de nós e cure nossos olhos!


OBS: A ilustração acima refere-se a uma pintura atribuída ao artista Hans Stiegler do século XVIII em que ele retrata o reformador Martinho Lutero baseando-se na Parábola da Candeia. Foi extraída do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hans_Stiegler_Luther_und_Huss_Amanduskirche_Freiberg_a.N.jpg

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