Páginas

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

A Derrubada dos Vetos ao “PL da Devastação”: Quando o Congresso Escolhe Ignorar a Ciência



A sessão conjunta do Congresso Nacional realizada em 27 de novembro de 2025 ficará marcada como um dos maiores retrocessos ambientais do Brasil nas últimas décadas. Deputados e senadores derrubaram a maior parte dos vetos feitos pelo Presidente Lula à Lei Geral do Licenciamento Ambiental — vetos que haviam sido aplicados justamente para impedir dispositivos que fragilizavam a proteção ambiental, a fiscalização e a própria segurança de empreendimentos de impacto.

Com a decisão parlamentar, dispositivos considerados arriscados por ambientalistas, pesquisadores, órgãos técnicos e comunidades tradicionais voltam a valer. Trata-se de um movimento que revela um profundo desprezo pela ciência, pelo planejamento de longo prazo e pela responsabilidade socioambiental.


O que estava em jogo?

O licenciamento ambiental é o principal mecanismo técnico-científico usado para avaliar riscos de empreendimentos ao meio ambiente e às populações que dele dependem. Ele exige estudos, pareceres, análise de impactos, compensações e fiscalização — elementos essenciais para prevenir desastres e garantir segurança.

Os vetos de Lula barravam pontos que:


  • flexibilizavam o licenciamento para atividades potencialmente poluidoras;
  • permitiam autolicenciamento por meio da chamada LAC (Licença por Adesão e Compromisso);
  • diminuíam a participação dos órgãos técnicos;
  • reduziam a proteção de territórios de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais;
  • transferiam responsabilidades a estados e municípios sem garantir capacidade técnica equivalente.


Com a derrubada dos vetos, todos esses pontos voltam a vigorar.


O desprezo pela ciência e pela técnica

A votação do Congresso evidencia uma postura clara: a política ambiental brasileira está sendo guiada por interesses imediatistas, não por evidências científicas nem pela preocupação com o futuro do país e do planeta.


1. Autolicenciamento substituindo avaliação técnica

Permitir que empreendedores se licenciem sozinhos — apenas declarando que cumprem requisitos — é abrir mão da ciência. Estudos de impacto ambiental, análises geológicas, hidrológicas, sociais e ecológicas deixam de ser exigidos.


2. Fragilização das instituições ambientais

A transferência de responsabilidades para governos locais ignora a estrutura desigual entre municípios e estados. Muitos não possuem equipes técnicas capazes de analisar sequer um estudo básico de impacto.


3. Ignorar alertas científicos sobre a crise climática

A derrubada dos vetos ocorre num momento em que o mundo inteiro reforça a urgência de políticas ambientais sérias. Escolher flexibilizar regras ambientais neste contexto é negar abertamente os alertas da comunidade científica.


4. Risco de desastres ambientais

Sem rigor técnico, aumenta o risco de contaminação de rios, desmatamentos ilegais, destruição de unidades de conservação, conflitos territoriais e impactos irreversíveis sobre biomas como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.


Consequências para o país

A votação causa preocupação nacional e internacional. Entre os efeitos esperados estão:

  • aumento do desmatamento e da degradação ambiental;
  • avanço sobre terras indígenas e quilombolas;
  • insegurança jurídica para empreendedores sérios;
  • pressões sobre biomas já ameaçados;
  • enfraquecimento da fiscalização;
  • perda de credibilidade do país em acordos ambientais.


Para especialistas, trata-se de um dos maiores retrocessos ambientais em mais de 30 anos.


Como votaram os deputados do Rio de Janeiro

Ainda não há divulgação nominal oficial completa da votação sobre a derrubada dos vetos. Entretanto, já é possível registrar como votou a bancada fluminense no momento anterior, quando o PL foi aprovado pela Câmara em julho de 2025 — votação que abriu caminho para a crise atual.

Segundo levantamento consolidado por veículos locais, os deputados do Rio votaram assim no texto-base do chamado “PL da Devastação”:


Votaram a FAVOR do PL (a favor da flexibilização ambiental)

Altineu Côrtes (PL)
Bebeto (PP)
Caio Vianna (PSD)
Carlos Jordy (PL)
Chris Tonietto (PL)
Dani Cunha (União)
Delegado Ramagem (PL)
Doutor Luizinho (PP)
General Pazuello (PL)
Gutemberg Reis (MDB)
Hélio Lopes (PL)
Hugo Leal (PSD)
Jorge Braz (Republicanos)
Júlio Lopes (PP)
Luciano Vieira (Republicanos)
Luiz Lima (Novo)
Marcos Soares (União)


Votaram CONTRA o PL (defesa do controle técnico e da ciência)

Bandeira de Mello (PSB)
Benedita da Silva (PT)
Chico Alencar (PSOL)
Enfermeira Rejane (PCdoB)
Glauber Braga (PSOL)
Jandira Feghali (PCdoB)
Laura Carneiro (PSD)
Lindbergh Farias (PT)
Marcelo Queiroz (PP)
Marcos Tavares (PDT)


Ausentes

Áureo Ribeiro (Solidariedade)
Dimas Gadelha (PT)
Juninho do Pneu (União)
Marcelo Crivella (Republicanos)


Por que registrar esses votos importa?

O futuro ambiental do Brasil depende de decisões técnicas e responsáveis. Saber como vota cada parlamentar é essencial para que a sociedade possa cobrar coerência, compromisso com a ciência e respeito ao meio ambiente.

A derrubada dos vetos não é apenas um ato legislativo: é um símbolo de como parte do Congresso ainda prefere ignorar evidências, sacrificar o futuro do país e abrir espaço para pressões econômicas que não levam em conta a vida, a natureza e as próximas gerações.

Que em outubro de 2026, o povo brasileiro lhes dê a resposta através do voto!

Nenhum comentário:

Postar um comentário