Por esses dias em que ocorre a Jornada Mundia da Juventude (JMJ), os noticiários da TV têm entrevistado rapazes e moças católicos sobre o que eles pensam do que se convencionou chamar de "namoro santo", em que o sexo só pode ser praticado depois do casamento. Trata-se de uma ideia também defendida com unhas e dentes pelos evangélicos em geral mas que, com toda sinceridade, vejo como um problema. Isto porque muitos não conseguem cumprir o padrão comportamental tornando-se uma das principais causas de afastamento dos jovens das igrejas.
A meu ver, a repressão sexual é um dos espinhos que sufocam os frutos da fé cristã, dificultando a disponibilidade dos jovens e para atuarem em outras frentes ministeriais hoje tão carentes de apoiadores. Negar o desejo do sexo e buscar um estilo de vida anti-natural só vai atrair conflitos psicológicos para o homem e para a mulher de modo que os "pecados da carne" viram a maior preocupação de conduta do indivíduo. Até o relacionamento é colocado em risco pela demora prolongada do casamento tornando-se este muitas das vezes até indefinido em termos de data.
Que os jovens precisem receber orientações para as áreas afetiva e sexual, não tenho dúvidas. Comportamentos de promiscuidade, ou de encontros libidinosos descompromissados, bem como a pornografia, não vão fazer bem. Viemos a este mundo para conhecer alguém com quem formaremos uma parceria construtiva em que um passa a contribuir para a caminhada evolutiva do outro. E, sendo assim, o sexo está ligado a essa edificação mútua, devendo ser visto como um presente do Criador, pelo que de fato os contatos desta natureza não podem ser banalizados tal como hoje em dia na nossa sociedade.
Analisando os valores pertinentes, chego à conclusão de que os jovens deveriam se casar mais cedo, com o apoio das famílias e das suas comunidades religiosas, sem prolongarem por tanto tempo o namoro. Ou então, a Igreja começaria a consentir com a realização do sexo quando o namoro se torna sério, tendo em vista que, em diversas ocasiões, por razões financeiras ou de dedicação aos estudos, as pessoas não têm como viver em conjugalidade formalizada deixando a casa paterna.
Numa das entrevistas dadas à Rede Globo, jovens católicos explicaram que o "namoro santo" não se limita à abstinência do sexo antes do matrimônio. Mas quanto a isto, eu pondero, sem querer enredar o comportamento humano, de que apenas seria salutar o estabelecimento de um período restritivo de amadurecimento entre os namorados, junto com o exercício da espiritualidade e do amor, antes das pessoas se envolverem mais intimamente. E aí o início do namoro sem haver sexo deve servir de oportunidade para as pessoas se conhecerem bem e escolherem melhor se vão querer prosseguir ou não no relacionamento.
Toda essa discussão, no meu ponto de vista, precisa ser bem racional, mas não custa consultarmos a experiência dos livros sagrados. Segundo a Bíblia, o sexo fora do casamento entre pessoas desimpedidas não chega a configurar um pecado ao contrário do que padres e pastores ensinam por aí. Devemos entender como eram os casamentos naqueles tempos antigos ainda livres de tantas exigências burocráticas sem o controle estatal da atualidade. Também se faz necessário compreender quais os reais significados de fornicação e de imoralidade sexual, o que de maneira alguma se aplica a dois jovens que, mesmo não tendo papel passado, transam com fidelidade e pureza.
Dentro dessa visão libertadora, a sabedoria do livro de Provérbios seria a instrução mais sensata para os nossos jovens. Nos capítulos de 5 a 7, o autor bíblico faz várias advertências contra as relações adúlteras e estimula o leitor a alegrar-se com a "mulher da mocidade", com ênfase explícita no prazer físico frequente:
"Seja bendito o teu manancial,
e alegra-te com a mulher da tua mocidade,
corça de amores e gazela graciosa.
Saciem-te os seus seios em todo o tempo;
e embriaga-te sempre com as suas carícias."
(Pv 5:18-19; ARA)
Se considerarmos a "mulher da mocidade" como sendo a esposa com a qual o homem casou ainda jovem, podemos extrair daí a relevância de não se adiar por muito tempo o sexo. Por isso eu entender que o verdadeiro namoro santo muitas das vezes poderá e deverá incluir a prática de relações sexuais antes do casamento. Aliás, hoje em dia, quando tenho a oportunidade de aconselhar um rapaz ou uma moça que esteja há algum tempo juntos, oriento-lhes a transarem normalmente com toda a dignidade. Se ainda não têm condições econômicas de constituírem um lar, não tem problemas. Basta evitarem filhos usando métodos contraceptivos como pílulas e preservativos.
OBS: Imagem acima usada em vários sites da internet para simbolizar o "namoro santo" entre os católicos.
Rodrigão, eu conheço muitos e muitos jovens que optaram pelo sexo após o casamento, entre eles estão os meus dois filhos. Você mesmo já falou aqui sobre o domínio próprio. O sexo não é o único requisito que aflige os jovens. Existem inúmeros jovens que têm lutas maiores em outras áreas e precisam aprender a dizer não a muitos dos desejos da carne.
ResponderExcluirEsta liberdade sexual hoje, entre os jovens, leva-os de cama em cama, porque eles nunca sabem se é aquele(a) parceiro(a) que será seu cônjuge.
Antigamente, quando se preservava mais uma vida sexual ativa fora do casamento, havia menos promiscuidade e mais compromisso.
Boa tarde, Guiomar.
ExcluirObrigado por seus comentários.
Penso que, no mundo, os jovens não vivem uma verdadeira "liberdade sexual". O que muitas das vezes se vê por aí seria mais uma escravidão compulsiva e/ou emocional entre os que fazem sexo descompromissadamente. Não concorda?
Penso que a opção pelo sexo somente após o casamento é uma escolha íntima que pode em muitos casos trazer conflitos. Uns conseguem conviver bem com uma abstinência prolongada, mas outros não. Daí eu defender na Igreja a inclusão sempre dos que têm uma vida sexual ativa mesmo sem serem casados ou sem conviverem em união estável.
De fato, não podemos ser reféns dos nossos instintos, mas também não podemos brincar com eles. O desejo sexual é um impulso. Algo natural que leva as espécies a se procriarem. É o dom da vida dado por Deus aos seres vivos. E tanto a falta de sexo como de filhos pode causar problemas de comportamento para uma pessoa.
Em sua carta aos coríntios, Paulo orientou sugestivamente aqueles crentes de sua igreja a procurarem o casamento como um antídoto para a prostituição (1Co 7:2,5-6,9). E aí digo que para Deus as formalidades humanas não importam tanto. E é melhor para um jovem relacionar-se fielmente com sua namorada transando do que "viver abrasado". Esta é a sensibilidade que as igrejas precisam ter hoje.
Sobre a questão da atual falta de compromisso, parece que há mais coisas além da permissividade de relacionamentos fora do casamento. Quebras de pacto têm ocorrido também entre pessoas casadas, o que se liga à decadência ética da nossa sociedade cada vez mais carente de valores que possam nortear as famílias. As propostas repressoras de "namoro santo" existentes nos meios católico e evangélico não têm conseguido resolver o problema para essa crise até o momento.